Patrícia começou jogando por diversão e acabou torrando suas economias por causa do vício.
Gente, estou aqui em Ipanema com uns amigos tomando um belo chopp na beira da praia, quando um deles começou a contar sobre uma cozinheira do interior de São Paulo chegou ao fundo do poço por causa do vício em jogos online.
Assim como muitos, ela entrou no mundo dos jogos online de forma despretensiosa, por diversão sabe? Mas o vício acabou levando todas suas economias.
“A evolução do vício é muito rápida e comparo mesmo ao crack. Eu zerei R$ 80 mil em dois meses sem perceber”, disse a cozinheira.
Ela se chama Patrícia, é casada, tem quatro filhos e um neto. Ela relatou que nunca gostou de apostas devido um trauma familiar, já que um irmão seu havia perdido praticamente tudo em jogos.
Tudo começou no final de 2020. Num dia qualquer, ela cuidava do neto doente, quando recebeu uma propaganda no celular de um jogo online que envolvia apostas. Por curiosidade, ela acessou o link e começou a jogar.
“Nessa época eu estava com as minhas contas em dia. Eu trabalho vendendo as minhas marmitas e o negócio ia muito bem. Além disso, eu tinha uma reserva no banco”, conta.
Sua primeira aposta veio no jogo conhecido como crash, ou “jogo do foguete”.
“Entrei para passar o tempo. O meu neto logo melhorou e voltou para a creche, mas eu, sem perceber, estava me afundando”, recorda.
“Acordava de madrugada para jogar. Ganhava, mas rapidamente a ganância me dominava e eu não parava até perder tudo. Nem percebi o dinheiro saindo da conta, mas lembro que no aniversário do meu neto eu não tinha dinheiro para ajudar na festa”, conta.
Começou a pegar empréstimo; Deixou de pagar contas básicas; Vendeu o celular e até pegou dinheiro com agiota.
Ela pegou R$ 5 mil emprestados com um agente financeiro informal (agiota) parapagar as contas atrasadas, mas ao invés disso, a cozinheira tentou lucrar mais uma vez com os jogos online.
“Coloquei tudo no jogo porque, na minha cabeça, eu tinha o controle e poderia fazer R$ 100 por dia e sair desse buraco. Perdi os R$ 5 mil em minutos”, recorda.
Patrícia conta que o jogo que a deixou viciada é conhecido como “jogo do foguete”, mas existem outras versões desse tipo de jogo, como “jogo do aviãozinho”, disponíveis em várias plataformas.
Nesse jogo, o usuário aposta na decolagem de uma aeronave e é preciso finalizar o lance antes que ela exploda. Quanto mais alto o foguete for, mais o apostador ganha. No entanto, se ele cair antes, todo o dinheiro é perdido.
“Foi nesse jogo que eu mais perdi dinheiro. Minha conta bancária que explodiu como um foguete depois disso. Depois desse jogo, passei a apostar também nos slots, que são os caça-níqueis”, relata.
Cerca de um ano depois da primeira aposta, o vício da Patrícia acabou vindo à tona para a família da pior maneira possível.
“Meu marido vendeu o carro e colocou R$ 10 mil na minha conta, porque não gostava de mexer com banco. [ele] Falou para deixar guardado para dar entrada em outro carro.
Mas Patrícia acabou torrando o dinheiro em novas apostas. “Em menos de um mês ele veio falar comigo e precisei contar a verdade. Foi horrível”, conta.
Depois dessa conversa que a saúde mental dela se agravou, com um quadro de ansiedade e depressão. Em 2022 e 2023, a cozinheira viveu altos e baixos. No meio do ano passado, a situação parecia bem melhor e, com a venda de marmitas, ela começou a quitar suas dívidas. Mas, acabou tendo uma recaída, que é algo com que luta até hoje.
Uma das tentativas de se livrar do vício foi a instalação de um aplicativo que bloqueia os jogos, mas durante as crises de abstinência, Patrícia voltava a permitir o acesso.
“Hoje eu vendo o almoço para comprar a janta e não tenho condições para pagar uma ajuda profissional. E a ajuda gratuita é demorada. A ajuda tem que ser emergencial, não pode ser uma consulta por semana. Acho que para vencer o essencial é a família, que tem que tirar o celular e o cartão”, conta.
Recentemente, a cozinheira conheceu o grupo Jogadores Anônimos em mais uma tentativa de se livrar do vício dos jogos online. A instituição nasceu nos EUA nos anos 1950, quando os jogos eram outros, mas as histórias eram parecidas.