Temos no Brasil facções criminosas — algumas, inclusive, já internacionalizando suas operações— que precisam ser combatidas com muito mais rigor que hoje
MARCONI PERILLO, presidente nacional do PSDB
A explosão de violência no Equador, nosso vizinho de América do Sul, traz dois recados para o Brasil. O primeiro é que combater a violência, o narcotráfico e os grupos criminosos organizados é urgente. É preciso ter coragem para, com o uso intensivo de inteligência policial e das melhores ferramentas tecnológicas, exterminar as organizações criminosas que atuam com tráfico de drogas, roubo de cargas, pirataria e, muitas vezes, atuam como verdadeiras máfias que aterrorizam moradores e vendem proteção contra si mesmas. Além disso, um total controle das fronteiras é essencial. Nossas fronteiras são como peneiras por onde passam drogas, armas, contrabando e criminosos em busca de ambiente mais favorável para suas fugas.
O segundo recado tem a ver com a estabilidade econômica. O Equador, assim como a Argentina, dolarizou sua economia. A aparência de estabilidade de uma economia lastreada no dólar esconde a fragilidade dos controles financeiros que esse movimento traz. O dólar permite transações internacionais com mais agilidade e menor controle, facilitando a lavagem de dinheiro, tornando o país atrativo para organizações criminosas transnacionais.
O Equador era um país razoavelmente seguro, mesmo sendo vizinho da Colômbia e do Peru, dois dos maiores produtores de drogas do planeta, especialmente a cocaína. A Colômbia trava, há décadas, uma sangrenta guerra contra grupos criminosos, responsáveis pelo tráfico de drogas, e terroristas, em muitos casos financiados pelos próprios cartéis de drogas.
Ao dolarizar sua economia, o Equador passou a ser atrativo para grupos criminosos internacionais. Atualmente, estima-se que cerca de um terço da cocaína colombiana saia da América do Sul rumo aos Estados Unidos por meio de portos equatorianos. Dois dos maiores grupos criminosos do país, segundo autoridades locais, recebem apoio financeiro e armas de cartéis de drogas mexicanos. Há, ainda, no Equador outros grupos estrangeiros atuando, como dissidentes de cartéis colombianos e até um grupo criminoso dos Balcãs chamado pela polícia do Equador de “máfia albanesa”.
A dolarização econômica do Equador foi adotada em 2000, seis anos depois do Plano Real, que estabilizou a economia brasileira. Ainda que o Brasil e o mundo tenham mudado muito em 30 anos, a estabilidade econômica trazida pelo Plano Real — uma das políticas públicas reconhecidas pelos brasileiros como uma das mais importantes de nossa história, segundo pesquisa recente do Ipespe sob encomenda da Federação Brasileira de Bancos(Febraban) —, nos deixa, por enquanto, livres da tentação da dolarização de nossa economia. No entanto, não somos imunes a situações que possam nos levar a um caos na segurança pública como esse do Equador.
Temos no Brasil facções criminosas — algumas, inclusive, já internacionalizando suas operações— que precisam ser combatidas com muito mais rigor que hoje. É preciso exterminar esses grupos criminosos, tirando do jogo seus líderes, asfixiando financeiramente suas atividades lícitas e impedindo o funcionamento das ilícitas.
Fortalecer nossas forças policiais é urgente. Policiais precisam de equipamentos, tecnologia e garantias legais para atuar no combate à criminalidade dentro dos limites constitucionais, seja nas cidades, no campo ou nas fronteiras. Os policiais precisam de salários dignos para deixarem suas famílias em casa e irem às ruas enfrentar o jogo pesado da criminalidade. Uma revisão legislativa para aumentar o rigor na execução das penas impostas pelo Judiciário também precisa ser discutida.
Os brasileiros não querem que nosso país se torne um local atrativo para a criminalidade internacional. Precisamos de medidas efetivas, muito mais agressivas que as atuais, para melhorar a segurança pública no Brasil.