A seletividade alimentar é uma das manifestações mais recorrentes entre crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), atingindo entre 50% e 90% desse público. Essa condição restringe a aceitação de grupos alimentares essenciais e contribui para deficiências nutricionais com repercussões importantes no crescimento, imunidade, cognição e comportamento da criança. Segundo especialistas, a adoção de fórmulas de suplementação em formatos mais atrativos é uma estratégia para contornar a resistência à ingestão de nutrientes.
De acordo com o nutrólogo Felipe Xavier, da Clínica Neoliv, a seletividade alimentar no TEA compromete principalmente a ingestão de ferro, zinco, magnésio, vitaminas do complexo B, vitamina D e cálcio. “Essas carências podem desencadear sintomas como irritabilidade, fadiga, déficit de atenção, alterações neurológicas e imunológicas, além de problemas osteomusculares”, explica. A reposição nutricional, quando individualizada e baseada em avaliação clínica, dietética e laboratorial, pode trazer melhorias significativas em aspectos como sono, atenção, comportamento e imunidade.
Formatos sensoriais como aliados terapêuticos
A adesão ao tratamento, contudo, continua sendo um desafio, especialmente quando a suplementação envolve sabores ou texturas desagradáveis. Segundo a farmacêutica e fundadora da Quality Farmácia de Manipulação, Flávia Ribeiro, fórmulas personalizadas em formatos como pirulitos, sorvetes e sopas têm ajudado a superar esse obstáculo. “Esses formatos, por serem familiares e lúdicos, reduzem a resistência e tornam a administração dos nutrientes mais prazerosa”, afirma.
O formato e o sabor exercem influência direta na aceitação da suplementação por crianças com hipersensibilidade sensorial, como é comum no TEA. “Texturas ásperas, gostos amargos ou odores fortes podem causar rejeição imediata, náuseas e até crises comportamentais. Quando adaptamos a fórmula para um formato mais atrativo, como uma goma de fruta ou uma sopa suave, temos uma melhora expressiva na adesão”, relata Flávia.
Segurança e eficácia nas fórmulas
Mesmo com formatos diferenciados, a farmacêutica ressalta que a manipulação segue critérios rigorosos de dosagem, pesagem e controle de qualidade. “Cada pirulito ou sachê é formulado para conter a exata quantidade prescrita pelo profissional de saúde, o que garante segurança terapêutica sem risco de subdose ou superdosagem.”
Entre os ativos mais procurados por famílias de crianças com autismo, destacam-se a melatonina, utilizada para regular o sono, e suplementos de vitaminas e minerais essenciais. Os relatos mais comuns dos pais, segundo Flávia Ribeiro, incluem melhora na rotina de administração, menor resistência da criança e maior eficácia no tratamento em razão do uso regular e adequado das fórmulas.
Acompanhamento médico
Para suplementação manipulada, a farmacêutica Flávia Ribeiro alerta que o acompanhamento profissional é essencial. “A orientação médica ou nutricional é fundamental. Não manipulamos fórmulas complexas sem prescrição. Com a receita em mãos, nossa equipe realiza a manipulação com rigor técnico, rastreabilidade e qualidade farmacêutica”, destaca.
“A suplementação não substitui a reeducação alimentar, mas pode ser um instrumento valioso para mitigar os prejuízos cognitivos, imunológicos e funcionais causados por uma dieta inadequada”, ressalta o nutrólogo Felipe Xavier. A abordagem deve fazer parte de um cuidado multidisciplinar que envolva médicos, nutricionistas, terapeutas e farmacêuticos, com foco nas necessidades individuais de cada paciente.