Com UTI´s lotadas o DF terá a prioridade em receber a vacina contra a DENGUE após o enorme aumento de 920% nos casos

Primeira remessa de imunizante chegará este mês. Número de casos subiu 920% em comparação com 2023. Um hospital de campanha da Aeronáutica será montado na região de Ceilândia e Pôr do Sol

 

A capital do país terá prioridade no recebimento da primeira remessa da vacina contra a dengue, que chegará em fevereiro. A data de início da imunização e a quantidade de vacinas que virão para o DF ainda não foram divulgadas. Segundo dados do Ministério da Saúde, o Distrito Federal é a unidade da Federação com maior coeficiente de incidência de casos prováveis de dengue por 100 mil habitantes. A prioridade para o DF foi um pedido feito pela vice-governadora Celina Leão (PP) e acatado pelo ministério, devido à alta expressiva do número de casos prováveis, que aumentaram 920% no início do ano em relação ao mesmo período do ano passado.

O público-alvo do início da imunização são crianças de 10 a 14 anos, pois são a faixa etária de maior número de hospitalizações por causa da doença. Ao todo, no DF, foram confirmadas seis mortes por dengue em 2024. Destes óbitos, cinco são do sexo masculino e uma do sexo feminino, sendo que uma vítima era uma criança entre 5 e 9 anos, duas entre 70 e 79 anos e a demais entre 20 e 49 anos. Além destas mortes, há mais 24 em investigação, que podem ter sido causadas pela doença, inclusive de um bebê.

O último boletim mostra ainda que Brazlândia é a região com mais casos prováveis com 2.588,08 casos por 100 mil habitantes, seguida por Ceilândia (1.983,66 casos por 100 mil habitantes), Sol Nascente/Pôr do Sol (1.855,82 casos por 100 mil habitantes) e Estrutural (1525,09 casos por 100 mil habitantes).

Hospital de campanha

O secretário da Casa Civil do Distrito Federal, Gustavo Rocha, anunciou, ontem, que o DF vai receber um Hospital de Campanha da Aeronáutica para atender pacientes com dengue. O hospital deve ser posicionado em Ceilândia, por ser uma região com grande incidência de casos da doença. “As tendas que instalamos se mostraram muito corretas. Estão tendo uma procura muito efetiva, com 1,5 mil atendimentos por dia. Em razão disso, vamos ampliar ainda mais a assistência”, afirmou.

“Foi uma tratativa entre GDF, o Ministério da Defesa e o Comando da Aeronáutica, se juntando ao Exército que já está conosco indo de porta a porta procurando focos de dengue”, acrescentou a secretária de Saúde, Lucilene Florêncio.

Atualmente, Ceilândia, Pôr do Sol e Sol Nascente concentram 40% dos casos. Serão 60 leitos dentro de módulo único, com funcionamento 24 horas. A estratégia para a utilização do hospital, inclusive local e data de funcionamento, está em estudo pelo GDF e pela Aeronáutica.

Na ocasião, também foi anunciada a colaboração com instituições de ensino universitário, cujos alunos atuarão como voluntários; e a contratação de 10 novas unidades de veículos aplicadores de inseticida, conhecidos como fumacê.

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    Dengue raio x Dengue gráfico

Descarte do lixo

O secretário da Casa Civil fez um apelo à população por mais conscientização no descarte de lixo e entulho. “Vivemos em um momento que precisamos do apoio e da contribuição de todos, especialmente em relação ao descarte. Desde o início do ano, recolhemos mais de 44 mil toneladas de entulho descartável em lugares indevidos”, salientou.

Celina Leão destacou que é preciso pensar na saúde pública de forma geral. “Hoje, temos superlotação de UTIs em toda a rede. Cada um precisa ajudar como puder, seja cuidando das suas casas, procurando os focos de dengue, evitando o descarte irregular de lixo”, ressaltou. Ela enfatizou que a população precisa estar consciente em relação ao descarte de lixo nas vias públicas. “A dengue deixa claro outros problemas que a nossa sociedade tem e que a gente precisa repensar. Vivemos de forma coletiva e cada um tem um papel. O Estado vai e retira o lixo, a pessoa vai e coloca o lixo de novo, despejando na rua”, comentou. “O maior pedido que nós temos na ouvidoria hoje é de carro fumacê e de retirada de lixo”, disse.

Segundo o governador Ibaneis Rocha (MDB), o GDF está em tratativa com administradores regionais para fazer uma operação limpeza em todas as regiões. “Queremos diminuir os focos de dengue na nossa cidade. A parceria com o Exército e com o Corpo de Bombeiros também é efetiva. As tendas também estão ajudando a fazer um atendimento mais rápido, evitando as mortes que é o nosso principal objetivo”, destacou. “Esperamos, com a aprovação desse projeto, aumentar a contratação do pessoal da vigilância sanitária”, completou, referindo-se ao projeto que altera a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO-2024) com a finalidade de incluir a autorização para nomeação de 150 agentes de vigilância ambiental em saúde, para reforçar as equipes de combate à dengue. O projeto foi enviado nesta semana à Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) e deve ser analisado em regime de urgência pela Casa.

Crianças

Um bebê recém-nascido foi diagnosticado com dengue e chegou a ir para a Unidade de Cuidados Intermediários Neonatais (UCIN) do Hospital Regional do Paranoá (HRPa). Théo Luca de Jesus Castro nasceu em 18 de janeiro e contraiu dengue com apenas cinco dias de vida. O pai, Nelson Dorin, 36 anos, afirma ter ocorrido ainda no hospital. Isso porque, após o nascimento, ele permaneceu sob os cuidados da instituição até o dia 21. Agora, Théo se recupera na maternidade do HRPa.

“Ficamos muito assustados, pois ele estava bastante debilitado e desidratado, tanto que precisou de soro, sonda e oxigênio. As plaquetas dele, inclusive, ficaram bem reduzidas; até avaliaram a possibilidade de transfusão, mas não foi necessário”, detalhou Nelson, que é motorista.

De acordo com o secretário Gustavo Rocha, ainda não está confirmado que Théo contraiu dengue no hospital. “O bebê nasceu em 18 janeiro, teve alta dia 21 e retornou dia 23, ficou na UTI até o dia 31 e agora não está mais na UTI. Todas as análises estão sendo feitas, a princípio não há como afirmar se ela contraiu dengue no hospital ou na residência. Mas ele já saiu da UTI e está sendo tratado”, declarou.

Projeção preocupante

 

Pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), Breno Adaid fez uma projeção dos casos para fevereiro, utilizando a evolução dos dados das últimas semanas, o que preocupa (confira o infográfico). O especialista ressalta que as projeções de número de casos seguem dois caminhos, e ambos seriam tendências “bem catastróficas”, que pode chegar a 47.636 casos prováveis no pior cenário na última semana deste mês. “Toda semana, refaço os cálculos na expectativa de encontrar uma modificação de tendência, mas, por enquanto, a tendência é essa”, reforça.

Tratamento

Chefe do Serviço de Epidemiologia e Controle de Infecção da Rede Mater Dei de Saúde, a infectologista Silvana Barros ressalta que a dengue é uma doença que não tem um tratamento específico. “Ela é baseada no tratamento de sinais e sintomas, e por isso a importância de lembrar da hidratação adequada, independente de o paciente estar em casa, o uso de medicação para febre e repouso”, detalha. “Além disso, evitar qualquer tipo de medicação que possa mudar ou contribuir para alteração de coagulação e risco de sangramento”, alerta a especialista.

A médica explica que não existe comprovação de que um episódio de dengue anterior seja determinante para a gravidade da doença. “A dengue tem quatro subtipos do vírus. A aquisição de uma doença por um dos tipos imuniza o paciente contra ele, mas não contra os demais, significando então que, teoricamente, a gente teria possibilidade de ter, pelo menos, quatro episódios de dengue, um por cada subtipo”, esclarece.

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