Na Black Barbie Agency, criada por Desiree do Valle, pessoas negras produzem todas as etapas, desde a maquiagem até a fotografia
Com desejo de levar o protagonismo negro ao universo fashion, a estudante de moda Desiree do Valle fundou a Black Barbie Agency. Criado em Porto Alegre, o projeto é uma agência de moda formada só por profissionais negros de vários ramos: produção, styling, maquiagem e fotografia. Para a jovem de 25 anos, a representatividade vai muito além de colocar modelos negras na passarela. Mulheres e homens negros devem estar presente em todas as etapas do processo de crianção. A agência pretende levar seu trabalho a marcas que se identifiquem com essa proposta.
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Desiree estuda design de moda desde 2015 e já realizava projetos com pegada étnico-racial. Quando criança, já era apaixonada pelo universo fashion, mas sentia pouca representatividade negra na indústria.
No início do ano, quando pediu demissão de um trabalho que a frustrava, resolveu embarcar em uma jornada criativa. Com ajuda de um amigo, ela produziu um editorial, cheio de referências à Barbie. Na infância, a jovem adorava ganhar modelos da boneca, mas quase todas elas eram brancas e loiras. Mesmo quando havia uma negra, tinha cabelos lisos. Por isso, a ideia de criar sua própria versão, a Black Barbie.
“Eu estava nessa efervescência de colocar para fora o meu conhecimento adquirido e as referências que tenho buscado. Começamos a fazer os editoriais autorais. A ideia, inicialmente, era produzir só com pessoas periféricas e negras. Continua assim, mas mudamos algumas coisas e criamos um Instagram para divulgar. Nossos seguidores começaram a se identificar e a curtir”, disse à coluna.
Mesmo com o alcance orgânico, a proposta chamou atenção e se transformou em agência no mês de maio. Desiree atua como produtora e stylist, com assistência do namorado, Pedro. Além deles, a equipe de quatro pessoas já inclui a maquiadora Frans Vieira e a fotógrafa Gisa Oliveira.
“Somos muito carentes disso em Porto Alegre, porque vivemos em um dos estados mais racistas do Brasil. Nossa ideia é mostrar que tem preto no Sul, produzindo e querendo novas narrativas”, defende.
Desiree também aponta a necessidade de ir além da estética e trabalhar com corpos reais. Para ela, a moda não se resume só a roupas:
“Nosso plano é juntar outras áreas de interesse. Eu sempre enxerguei moda como um instrumento de transformação, porque foi algo que mudou a minha vida. Queremos viver uma moda política, sustentável, que pensa no corpo que está habitando por trás daquela roupa.”
Para a produtora, situações como campanhas racistas, LGBTfóbicas e gordofóbicas acontecem pela falta de representatividade em determinados cargos. “Óbvio que quem não se apropria do assunto, não vive isso, não vai dar importância para essas coisas”, acrescenta.
“Nosso diferencial de mercado e agência é isso: olhar para esses corpos, empoderar essas pessoas”, conta. A sustentabilidade está na pauta da Black Barbie Agency em todos os sentidos: social, ambiental e econômico. Quase todas as peças dos editoriais são garimpadas em brechós.
Com o projeto, Desiree também quer mostrar que os profissionais da indústria precisam ser pagos com salários justos. “Acho que é muito importante as minorias, que sabemos que são maioria, se juntarem para construir uma cena nova”, finaliza.