Como alimentar dez bilhões de pessoas sem sacrificar o meio ambiente?

Tractor spraying pesticides on soybean field with sprayer at spring

Desafio é épico e envolve mudanças na cadeia de produção e consumo

Somos de tribos diferentes, mas fazemos parte da mesma aldeia global. Será? O termo cunhado pelo filósofo Marshall McLuhan, ao prever a expansão da internet, se aplica ao desafio planetário de alimentar uma população de quase dez bilhões de habitantes, em 2050. A Organização das Nações Unidas (ONU) projetou o aumento de dois bilhões de pessoas nas próximas décadas, o que representa mais que a soma dos residentes na Índia, Brasil, Estados Unidos e França. Como alimentar essa multidão sem vitimar o meio ambiente?

O desafio é épico, diante da emergência climática, e não tem uma única solução. Não é só produzir de maneira sustentável, mas também desperdiçar menos, estimular o consumo consciente, distribuir de forma mais igualitária. Parafraseando Cazuza, para não ver o futuro repetir o passado, a transformação coletiva precisa começar agora.

Brasil é o 4o maior produtor de grãos do mundo

No terreno do agronegócio, o Brasil é uma potência em ascensão. É o maior produtor de soja, açúcar e café, responsável por abastecer 50% do mercado mundial de milho. A carne é outro carro-chefe, que deixa uma pegada de carbono nada generosa, responsável por uma parte considerável do desmatamento e aumento do efeito estufa.

Na contramão dos outros setores, o agronegócio não paralisou as atividades e cresceu na pandemia. Não só contornou os desafios, como soube se nutrir deles. A Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) divulgou os dados das exportações até novembro de 2021, que bateu recordes com US$ 110,7 bilhões, um crescimento de 18,4% em relação ao ano anterior. Um dos fertilizantes desse crescimento é a desvalorização do real em relação ao dólar, que torna os produtos mais atrativos no mercado internacional e a exportação mais vantajosa. A expectativa para 2022 é novo recorde na safra de grãos, com mais de 289 milhões de toneladas.

Por que números tão expressivos não refletem em mais oferta de alimentos?

A matemática parece não fechar: uma potência agropecuária com 19 milhões de pessoas em situação de fome. Um dos fatores que contribui para essa realidade é que a produção brasileira é focada em culturas voltadas à exportação, e não à alimentação. Os commodities agrícolas – produtos que servem de matéria-prima para a indústria – ditam o que será produzido. Só a soja e o milho corresponderam a 89% de todos os grãos cultivados no ano passado. Em contrapartida, o custo de cultivo dos produtos da cesta básica aumentou, pois o mercado interno é abastecido principalmente pela agricultura familiar.

A maior parte dos grãos não destina-se ao alimento humano: vira ração para consumo animal, inclusive de pequeno porte. A Euromonitor International divulgou que o Brasil conquistou o segundo lugar no mercado de produtos pet. A população de 145 milhões de bichanos é três vezes maior do que a de crianças nos lares brasileiros. Quem tem um gato, um beagle, vira-lata ou shih tzu para chamar de seu investe em uma dieta balanceada para cada fase da vida, com ingredientes selecionados.

O agronegócio tem o desafio de elevar a oferta de alimentos de forma sustentável, sem exaurir mais o planeta, e os cidadãos, de assumirem uma postura mais consciente. O desperdício é um grande obstáculo: aproximadamente, 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são descartadas por ano no mundo. Do montante, 28% são perdidos no processo produtivo e 28% são jogados no lixo caseiro, com impacto ambiental, econômico e humanitário. Não se trata somente de fomentar a produção, mas de consumir de forma responsável. Sustentabilidade é um processo coletivo que começa com atos individuais.

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