Apesar da queda estimada, percentual não compensa o aumento ocorrido em 2016 e 2017, quando a tecnologia se tornou compulsória
Com o fim da obrigatoriedade de simuladores em autoescolas não fará os valores retornarem aos patamares de três anos atrás. O Sindicato dos Centros de Formação de Condutores de Veículos Automotores (Sindauto-DF) estima que o custo de aprender a dirigir sem passar pela etapa virtual deverá ser reduzido em, no máximo, 17%. Tendo em vista que o preço médio para tirar habilitação do tipo AB, a mais procurada, custa em média R$ 2 mil, a redução prevista representa R$ 340 a menos no orçamento.
O desconto esperado, no entanto, não equivale ao reajuste de R$ 750 que o serviço sofreu entre 2016 e 2017, quando a tecnologia se tornou compulsória por meio de resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran). O valor foi constatado.
“Acho que ninguém considera que pagou barato para tirar carteira”, reclama a estudante Kellen Barreto Gonçalves, 22. Ela conclui recentemente o curso obrigatório para tirar a CHN – resta apenas a prova final – e achou desnecessário o acréscimo do simulador ao processo. “Não me ensinou nada, teve gente que passou mal, sentiu enjoo. É só uma forma de pegar mais dinheiro, ao meu ver”, critica.
Custo fixo
Daniel Silva Oliveira, diretor-proprietário da Auto Escola Líder, afirma ter investido cerca de R$ 40 mil por cada um dos oito equipamentos adquiridos desde 2016. Segundo ele, os valores praticados na empresa não devem sofrer grande reajuste visto que trabalham com uma baixa margem de lucro sobre os simuladores. “Se colocássemos as tarifas mais caras por causa da tecnologia, seria inviável para as pessoas”, afirma.
O diretor reclama do “prejuízo material” que sofrerá com o uso facultativo dos simuladores pelos clientes. “A tendência é que a procura caia e a gente fique com as máquinas paradas”, lamenta. Ele ainda critica o Contran por não encerrar imediatamente a obrigatoriedade da tecnologia. Na visão do empresário, o prazo de 90 dias concedido para a transição será de “três meses de apreensão” e pode gerar questionamento de quem está em pleno processo para tirar Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
A visão de Daniel está alinhada com a do presidente do Sindauto-DF, Francisco Joaquim Loyola. Ele lembra que a aquisição dos simuladores ensejou a criação de uma série de custos fixos que não desaparecem com a resolução do Contran de tornar o equipamento facultativo. “Tivemos de arcar com ar-condicionado, criação de espaço para utilização. Foi um grande investimento para receber a novidade”, detalha.
Ele ainda aproveita para disparar contra o conselho de trânsito. “Fomos contra isso, fizemos um movimento para dizer não aos simuladores, mas por insistência deles nós colocamos. Agora, estão novamente achatando nosso meio empresarial. Denatran e Contran têm que acabar para não fazer tanta confusão. Nada do que eles escrevem tem segurança jurídica”, reclama.
O economista Marcos Sarmento Melo é ainda mais pessimista em relação aos efeitos da suspensão da obrigatoriedade. Para ele, a tendência é que os valores praticados pelas autoescolas estagnem ou até aumentem com o passar do tempo. “Ao longo do tempo, o simulador poderia baratear as despesas da loja, porque ele reduz custo com automóvel, combustível e até com pessoal. Agora, as empresas já estão com esse equipamento e não podem usar. O que acontece?”, questiona.
O especialista salienta, contudo, que os valores praticados pelo serviço não dependem apenas da tecnologia e são regulados por outras taxas e serviços alheios ao equipamento. Mesmo assim, ele duvida que as autoescolas vão simplesmente engolir o prejuízo.
Efetividade
Mesmo os críticos da resolução, contudo, atestam que o simulador melhora o aprendizado de condutores iniciantes. O especialista em trânsito Paulo César Marques afirma que passar pelo treinamento virtual antes de pegar em um volante real faz a pessoa ter mais noção sobre os comandos. “Melhora o aproveitamento do seu tempo durante as aulas práticas e potencializa o aprendizado”, enaltece.
Portanto, ele acredita que as autoescolas iniciem um movimento de enfatizar os ganhos didáticos de utilizar o simulador para atrair clientes a essa modalidade de venda. “Se o candidato estiver bem informado sobre a performance dele com e sem a tecnologia, pode ser uma opção para as empresas. Ainda pode haver bom uso desse investimento”, salienta.
Novas regras
Veja o que muda com a resolução do Contran:
- O uso do simulador de direção antes das aulas práticas passa a ser facultativo. Atualmente, os candidatos devem fazer, no mínimo, cinco horas de preparação;
- A carga horária total mínima para a categoria B foi reduzida em 20%, para 20 horas. Era exigido o mínimo de 25 horas de aulas práticas;
- A exigência de aulas noturnas cai em 80%, para apenas uma hora. Antes, era de cinco horas;
- Condução de ciclomotores terá carga horária de 10 horas, uma redução de 50%.