Feira tecnológica traz toda sorte de curiosidade para a capital do país. Evento deve reunir 70 mil pessoas até domingo (23/06/2019)
Os arredores do Estádio Nacional Mané Garrincha foram tomados por homens e mulheres com malas, colchões, computadores, fantasias e toda sorte de objetos inusitados. Era o sinal de que a terceira edição da Campus Party Brasília havia começado e atraído os amantes de tecnologia e da cultura nerd para a arena. A expectativa da organização é receber um público flutuante de 70 mil pessoas até o encerramento da feira, no próximo domingo (23/06/2019).
Logo na entrada, formou-se uma grande fila para retirada das credenciais dos campuseiros, patrocinadores e jornalistas. Arrastando uma mala e debaixo do sol do meio-dia, a estudante Larissa dos Santos Jacobina, 24, se mostrava ansiosa para ter acesso às atrações e não se incomodou com a demora na entrada “Como é para garantir segurança, não me importo. Vejo muita gente registrando equipamentos caros, então se for para garantir que esteja tudo a salvo eu acho a demora válida”, aquiesceu.
Entusiasta de análise de sistemas, a estudante estava de olho na programação dos workshops e palestras sobre seu tema de interesse porque almeja dar um passo adiante na sua carreira dos sonhos: administradora de banco de dados (DBA, na sigla em inglês). “Sempre gostei de tecnologia. Começou com jogos, séries e filmes e sempre fui eu e meu irmão os que entendem um pouco mais na família”, revela.
Os dois lados
A Campus Party também reuniu criadores de conteúdo e empreendedores do ramo tecnológico. Na área de livre acesso do evento, por exemplo, o autor do aplicativo Aula Mágica, Lavousier Souza, usava um espaço para explicar como seu produto transforma números e equações complicadas em exemplos práticos com materiais do dia a dia. “Já fiz matérias como psicologia educacional e sempre fui criativo. Falta lançar também a plataforma de cursos online”, entusiasmou-se.
Dentre outras coisas, uma das funcionalidades do aplicativo, uma medição de ângulos era representada por um goleiro tentando defender uma bola. Assim, quando você insere registros diferentes (35º, 90º etc), a posição do boneco muda para ilustrar a angulação. “É uma maneira de simplificar os conteúdos e serve tanto para estudantes quanto para quem for estudar para faculdade, concursos”, orgulha-se.
Ele afirma que a ideia é popularizar o conhecimento em matemática pois, na visão dele, existe uma defasagem enorme entre o ensino público e o privado. “Eu fui aluno de escolas públicas e era sempre o melhor da minha escola. Quando cheguei à UnB, eu tive uma dificuldade tremenda. Eu sofri para acompanhar os demais. Por isso minha ideia é um aplicativo de matemática de baixo custo – a R$ 8 – para tornar mais acessível”, projeta.
Nos corredores do mané, milhares de campuseiros instalaram computadores e laptops ao longo das bancadas disponibilizadas pelo evento para jogar ou trabalhar. No caso da estudante Júlia Vaz Gomes, 19, cada momento ali precisava ser aproveitado ao máximo. Ela foi premiada com um ingresso da Escola Técnica de Brasília (ETB), onde estuda, e aproveitou para desenvolver suas habilidades na grande paixão: a programação.
“Gostei muito dos workshops até aqui. Quero me aperfeiçoar em php e Java”, animou-se, evocando o linguajar técnico que só quem é do ramo se atreve a descrever. Nas primeiras horas de ocupação de sua mesa, já fez conexões de trabalho. Teve problemas com um código que desenvolve e ouviu a solução de um colega recém-conhecido ao lado. “Ajuda muito ter pessoas na área ao meu redor, porque se alguém já conviveu com aquele erro, pode me passar a solução”, elogiou.
Houve ainda quem alimentasse o chamado mercado paralelo da Campus. Os namorados Felipe de Andrade Maas, 20, e Júlia Cardoso Genaro, 20, ambos estudantes, levaram o próprio equipamento de realidade virtual para cobrar R$ 1 de quem quisesse experimentar a tecnologia por alguns minutos. Havia uma lista de espera quando a reportagem do Metrópoles se deparou com a atração.
“Primeiro pensamos na possibilidade de ganhar um dinheiro, mas colocamos um preço simbólico porque não é algo feito todo dia. É uma tecnologia inovadora no mercado e seria legal proporcionar isso aos outros”, explicou Júlia. Conseguir um equipamento similar ao do casal exige garimpo e recursos, já que um kit não sai por menos de R$ 6 mil. No caso dos dois, eles adquiriram por cerca de 500 dólares durante uma viagem aos Estados Unidos.
“Algumas empresas de desenvolvimento de jogos trouxeram equipamentos para o pessoal testar, mas como a demanda aqui é alta e a oferta é pequena, muita gente vai ficar privada. Então vir aqui é uma alternativa”, faz a propaganda Felipe, que reconhece a possibilidade de fazer negócio com o produto. “Eu já pensei em empreender. Só tenho minhas dúvidas porque sei que ter uma empresa é custoso”, ressalva.