Das 114 ocorrências com mortes registradas de janeiro a maio de 2019, 48 foram de atropelamentos. Detran-DF garante a pintura de todas as faixas de segurança em três meses
Mais de 40% dos acidentes com morte no trânsito no Distrito Federal nos cinco primeiros meses de 2019 envolveram pedestres. Até maio, houve 114 acidentes fatais, sendo 48 atropelamentos. Os números são do Departamento de Trânsito (Detran-DF). Nos 12 meses, os casos aumentaram de 78 em 2017 para 102 em 2018 (30% de acréscimo).
Em 102 dos atropelamentos fatais do ano passado, 58 tiveram o envolvimento de carros de passeio. Em 14, motos atingiram pedestres. Com 11 casos cada, Ceilândia e o Plano Piloto são as regiões com mais registros, de acordo com o Detran. Eles dizem respeito apenas aos acidentes. Como em um caso pode haver mais de uma vítima, o número de mortes pode ser maior do que o de ocorrências.
Uma das principais alternativas para evitar mortes, as faixas de pedestres já não são tão respeitadas. Muitas estão em péssimo estado de conservação, como na avenida principal da Expansão do Setor O, em Ceilândia. “Fizemos abaixo-assinado (em abril) para conseguir a instalação de um semáforo. Cerca de 800 pessoas participaram e encaminhamos ao governo, mas estamos sem resposta. Se você ficar um dia aqui, parado, consegue flagrar dezenas de irregularidades”, garantiu o aposentado João Lopes, 73 anos.
Em menos de uma hora, o Correio flagrou dezenas de irregularidades na via, principalmente por parte de motoristas e motociclistas, que não paravam para os pedestres. Morador da região há 32 anos, João Lopes conta que viu o comércio da cidade se desenvolver e, consequentemente, o aumento do tráfego. “Tivemos muitas melhorias, como a pavimentação e a pintura de faixas de pedestres. Porém, ainda precisamos de educação para os motoristas”, comentou.
Há seis meses, Dalzirene Alves, 41, montou um comércio de venda de frango assado com o marido, José da Silva, 47, na avenida principal da Expansão do Setor O. Eles abriam as portas todos os dias, até 7 de abril, quando, após um dia de trabalho, o homem aguardava na calçada em frente ao estabelecimento e foi atingido por um carro. “Meu marido passou 53 dias no hospital, voltou para casa e ficou apenas uma semana. Precisou ser internado novamente por causa de uma infecção. Talvez tenha que amputar o pé”, conta Dalzirene.
Para a mulher, as campanhas de conscientização no trânsito, somada a intensas fiscalizações são necessárias para evitar acidentes. “Temos que reforçar o respeito aos pedestres. Estou na luta há quase 90 dias por causa de uma imprudência. A situação não é fácil”, desabafa. Dalzirene conta que a família se dividiu para acompanhar José no hospital e manter o comércio aberto. “A gente é evangélico, acredita em Deus e que as coisas vão dar certo”, frisa a mulher.
Revitalização
O Distrito Federal tem 3,7 mil faixas de pedestres. O Detran-DF afirma ter revitalizado cerca de 1 mil pontos de travessia neste ano. Garante que, nos próximos três meses, deve finalizar o trabalho em todas. O diretor de Educação de Trânsito do órgão, Marcelo Granja, diz que também haverá campanhas educativas. “A partir de agosto, com a volta às aulas, estaremos nas escolas para conscientizar os estudantes a usarem a faixa”, ressalta.
Marcelo afirma que o Detran-DF tem como foco pessoas com mais de 50 anos. “Os levantamentos mostram que o maior número de vítimas são pessoas mais velhas. Acreditamos que com a idade avançada, a percepção de deslocamento desse público muda, podendo ocasionar acidentes. Faremos cartilhas informativas para eles”, frisa. No ano passado, em 59 dos 102 atropelamentos fatais, as vítimas tinham mais de 50 anos.
Marcelo Granja alega que os números de Ceilândia são explicados pela quantidade de moradores (490 mil) e pela ocupação da cidade, que tem comércios de rua e recebe grande quantidade de pessoas do Entorno, principalmente de Águas Lindas de Goiás.
Respeito
Especialista em trânsito e mobilidade, Hartmut Gunther, do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da Universidade de Brasília (UnB), reconhece que a faixa e as campanhas de conscientização trazem bons resultados, mas reforça a necessidade de fazer mais pelos pedestres. “Precisamos considerar os pedestres como parte do trânsito. Em algum momento do dia, todas as pessoas se tornam um deles e temos que levar isso em consideração”, comenta.
O estudioso diz que o espaço das pessoas é desrespeitado frequentemente. “Precisamos de amplas calçadas, que os motoristas estacionem corretamente e parem de considerar o pedestre como um problema para o tráfego”, afirma. Hartmut considera falha a manutenção pública. “Se surgir um buraco na pista e um na calçada, sabemos qual será consertado primeiro. No trânsito, todos temos que ser considerados igualitários.”
Mortes
Atropelamentos fatais
2017: 78
2018: 102
2019 (até maio): 48
Cidades com mais atropelamentos fatais:
Ceilândia
2018 11
2017 9
Brasília
2018: 11
2017: 6
Taguatinga
2018: 6
2017: 4
Rodovias com mais atropelamentos fatais:
BR-020 (em Planaltina)
2018: 5
2017: 3
BR-060 (em Samambaia)
2018: 4
2017: 2
DF-075 (EPNB)
2018: 4
2017: 1
Memória
Para salvar vidas
As faixas de pedestres se popularizaram no Distrito Federal a partir de abril de 1997. Um ano antes, 266 pedestres haviam morrido ao tentar atravessar pistas na capital. O número acendeu o alerta e fez com que o governo, entidades civis e pesquisadores organizassem uma estratégia. Campanhas de conscientização conseguiram mudar o comportamento da população e construir uma cultura de respeito à travessia, fazendo a capital ter reconhecimento nacional e internacional.
anúncios patrocinados
Anunciando...