Acesso à internet poderia ser usado no aprendizado gratuito de praticamente tudo, mas é o entretenimento e o consumo que saem na frente
Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), praticamente 70% das famílias brasileiras estão endividadas. A pesquisa considera como dívidas a inadimplência no cartão de crédito, cheques pré-datados, carnês de loja, empréstimos e financiamentos (imobiliários e de veículos) e também dívidas em crédito consignado e uso do cheque especial.
Esse panorama mostra que o brasileiro utiliza o crédito basicamente para o consumo – e não para empreender em atividades que trarão renda – e que, além disso, gasta mais do que ganha. Mas, se por um lado o brasileiro não sabe como cuidar de suas próprias finanças, por outro, sabe perfeitamente como dar desculpas para não aprender.
Os maiores canais de finanças do mundo são brasileiros: Me Poupe, apresentado por Nathalia Arcuri, com 6,36 milhões de inscritos no YouTube, e O Primo Rico, de Thiago Nigro, com 5,15 milhões. Além destes, dezenas de outros canais, sites e podcasts somam vários milhões de seguidores, trazendo diariamente informações relevantes, traduzidas e exemplificadas de forma simples, didática e, às vezes, até lúdica. Eu mesma já cheguei – literalmente – a desenhar explicações em vídeos no meu canal.
Apesar de serem números significativos, se comparados à quantidade de inadimplentes do país, veremos facilmente que apenas uma minoria de usuários aproveita todo conteúdo produzido e disponibilizado gratuitamente. E, ao contrário das desculpas mais comuns, isso não se deve à falta de acesso à internet e nem à falta de tempo. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2019, feita pelo IBGE, 82,7% dos lares brasileiros têm acesso à internet.
E quanto ao tempo, dados do Hootsuite mostram que o Brasil é o segundo país que mais passa tempo conectado, perdendo apenas para as Filipinas. Em média, o brasileiro passa 10 horas na internet todos os dias. Desse período, 33% são destinados ao trabalho on-line e o restante é utilizado em buscas por produtos e serviços (59%), pesquisas ligadas à saúde (47%), atividades escolares (41%) e compras on-line (39%).
Diante desses dados, vemos que o uso da rede para o aprimoramento do conhecimento é praticamente nulo. O dado positivo em relação ao aprendizado apontou que houve um aumento pela busca conteúdos educativos em podcasts, porém, essa modalidade é mais popular entre a classe A (37%) e pessoas com ensino superior (26%). Ou seja, quem mais precisa do conteúdo é quem menos acessa.
A internet é, sem dúvida, uma grande fonte de informação, mas ainda pouco utilizada para esse fim. Para virar o jogo das finanças é preciso fomentar ainda mais a educação financeira, mas, antes de qualquer coisa, é necessário que aqueles que mais precisam percebam sua própria necessidade e invistam na construção de seu próprio conhecimento. Um pouco menos entretenimento pode significar um pouco mais de dinheiro no bolso.