Sob pressão de Bolsonaro, PSL cria “filtro” ideológico

Partido de presidente quer estabelecer diretrizes para candidatos nas próximas eleições; sigla expulsou o deputado Alexandre Frota

 

PSL vai implantar uma espécie de “filtro” ideológico para definir quem serão os candidatos nas próximas eleições e evitar que nomes considerados desalinhados ao governo Jair Bolsonaro (PSL) representem a sigla. A medida ocorre após cobrança do próprio presidente, que exige o “enquadramento” de parlamentares que discordem de ações da gestão. Nessa terça-feira (13/08/2019), um desses dissidentes, o deputado Alexandre Frota (PSL-SP), foi expulso da legenda.

A medida foi vista internamente como um gesto de “purificação” do partido, que tenta se associar ainda mais à imagem do presidente da República. Além de “filtrar” novos filiados, o partido quer “enquadrar” os que não seguirem à risca as diretrizes do partido.

Ainda não está definido como e quem fará o pente-fino nos nomes que poderão concorrer pelo PSL. Um grupo do partido defende a contratação de uma consultoria externa especializada em compliance, enquanto outro quer a criação de uma espécie de conselho, formado por nomes da própria sigla. Compliance é um termo empresarial que se refere a uma série de regras adotadas para certificar que funcionários estão agindo em conformidade com a legislação e os códigos de ética da empresa.

“É uma medida para dar uma cara de novo ao PSL. A gente tem de saber quem está vindo se candidatar pelo partido. Temos de saber se ele é ficha-limpa, qual o passado político dele. Se não, daqui a pouco, vamos ver um esquerdista querendo se lançar só porque o partido cresceu e virou viável”, afirmou a deputada federal Carla Zambelli (SP).

No início do mês, o presidente do partido, o deputado Luciano Bivar (PE), se reuniu com Bolsonaro no Palácio do Planalto a portas fechadas. Lá, o dirigente do PSL foi cobrado a “enquadrar” os deputados do partido que discordam do governo. O presidente disse ainda a Bivar que era necessário afinar o discurso da bancada e cobrou “unidade”. Em troca, Bolsonaro sinalizou ficar na sigla até 2022.

“Nós somos um partido do governo. O presidente é nosso filiado. Então, é óbvio que o partido tem de manter os filiados e os partidários em cima das orientações do governo. Quem não estiver satisfeito que…”, afirmou Bivar, fazendo com as mãos o sinal de sair.

Além da defesa do bolsonarismo, o candidato terá de assumir a pauta conservadora nos costumes, ser a favor da reforma do Estado e condenar o aborto e a chamada “ideologia de gênero”. Os filiados passam também por uma investigação do seu passado político e pelas publicações feitas em redes sociais.

“Não poderá ter ligação com a esquerda. Do PT, jamais”, afirmou o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP). Questionado sobre o caso do apresentador José Luiz Datena, cotado para disputar a Prefeitura de São Paulo pelo partido, mas que já foi filiado ao PT, Tadeu disse que a regra vai prever exceções. “Hoje, ele é declaradamente de direita.”

Expulsão

A expulsão de Frota já estava sendo articulada desde o mês passado. O PSL recebeu três pedidos contra o parlamentar, protocolados pela deputada Carla Zambelli, pelo senador Major Olímpio (SP) e pelo próprio Bivar, que iniciou o processo interno após o encontro com Bolsonaro. Com a expulsão, o PSL ficou com a segunda maior bancada da Câmara — 53 deputados, um a menos do que o PT.

Terceiro deputado mais votado do PSL em São Paulo, com 155 mil votos, Frota foi eleito com base na defesa enfática de Bolsonaro e em ataques ao PT. Após a eleição, as críticas passaram a ser feitas também ao próprio presidente e ao governo.

No sábado, o parlamentar desativou os perfis nas redes sociais. A medida foi vista como uma “prevenção” aos ataques que poderia vir a sofrer com a expulsão. No Facebook, Frota tinha 1,1 milhão de seguidores. No Twitter, somava 170 mil.

Procurado, o deputado não quis se manifestar.

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