O governo não sabe o que fazer com os vistos de residência da CPLP

O governo de Portugal anunciou com grande estardalhaço, no início de 2023, um acordo de mobilidade com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). O objetivo era colocar na legalidade centenas de milhares de imigrantes — a maioria, brasileiros — que esperavam há anos pela autorização de residência.

 

No total, diante da facilidade de se obter a documentação, mais de 200 mil cidadãos recorreram ao mecanismo. Desses, cerca de 170 mil são brasileiros. À época, o governo assegurou que, completado um ano de vigência, a autorização de residência seria renovada on-line por mais dois anos.

 

Um ano se passou e o que se comprova, agora, é que o governo português não se preparou para atender a demanda desses imigrantes, que correm o risco de caírem na ilegalidade, perderem seus empregos e enfrentarem restrições para acessar os sistemas públicos de saúde e de educação.

 

Segundo a advogada Priscila Nazareth Corrêa, que organizou uma manifestação nesta quarta-feira (27/03) contra os péssimos serviços prestados pela Agência para a Integração, Migrações e Asilo (Aima), uma funcionária do órgão no Porto admitiu que ninguém na administração pública sabe o que fazer com as autorizações de residência emitidas por meio do acordo com a CPLP.

 

“Passei mais de duas horas conversando com a coordenadora da Aima no Porto, Isabel Silva, e ela me disse que não se sabe o que fazer com os documentos oriundos do acordo de Portugal com a CPLP. Ela afirmou que há pessoas trabalhando no assunto, mas não há prazos para solução”, detalha a advogada.

 

Na avaliação de Priscila, esse título de residência já nasceu errado, pois não cumpriu, em nenhum momento, as regras de mobilidade definidas pela União Europeia. Tanto que o comando do bloco questionou Portugal sobre o modelo adotado para regularizar imigrantes e definiu que tal autorização não seria reconhecida por outros países da região.

 

“Portugal recorreu a um tapa-buraco e não sabe como resolver efetivamente o problema”, diz a advogada. O peso dessa ineficiência, no entanto, está caindo no colo de centenas de milhares de imigrantes que acreditaram na palavra do governo de trazê-los para a legalidade da política migratória. O título de residência da CPLP é emitido em uma folha de papel A4, que sequer tem um código para leitura nos órgãos públicos.

anúncios patrocinados
Anunciando...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.