Maranhense busca sinal de internet perto de casa para estudar

Na residência de Tiago Ferreira Costa, morador da zona rural de Benedito Leite (MA), não há banda larga fixa. Por isso, ele utiliza o celular para ter as aulas da escola

 

Enquanto o Governo Bolsonaro se recusa a dar internet a alunos e professores de escolas públicas, o estudante Tiago Ferreira Costa, 13 anos, se vira nos 30, nos 60, se vira como pode para conseguir conexão com a rede e acompanhar as aulas remotas. Ele teve as atividades escolares presenciais interrompidas em março de 2020, quando começou a pandemia da covid-19. Tiago é o retrato deste país profundo e de todas as suas mazelas.

Para continuar com os estudos, ele procurou um lugar com sinal de internet perto de casa, que fica na zona rural de Benedito Leite, município do sul do Maranhão, localizado na divisa com o Piauí e a 522 km da capital São Luis, Benedito Leite tem uma população de 5.469 pessoas, segundo o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O garoto faz o 9º ano do ensino fundamental na Escola Integrada Etelvina Coelho, 24 km distante da casa dele. Para chegar à instituição de ensino, Tiago saía de casa às 6h, numa velha bicicleta, e chegava uma hora depois à sala de aula, pedalando por terra batida. Essa era a sua rotina diária. O garoto é o exemplo do Brasil real e cada vez mais triste.

Com a pandemia, a escola dele passou a ministrar os conteúdos pedagógicos no formato on-line. O aluno tem aulas ao vivo e gravadas, além das atividades que são enviadas para ele via WhatsApp.

Obstáculo para estudar

Para que pudesse continuar com os estudos, o adolescente andou pelas redondezas do terreno da família em busca de sinal de internet móvel. Em casa, o celular não recebe o sinal e não tem internet banda larga fixa.

O garoto conseguiu encontrar conexão a mais de um quilômetro da sua casa. Ali, ele colocou uma carteira escolar para conseguir estudar. No meio do nada, aquele lugar ermo é a escola de Tiago.

Desde então, Tiago vai para o local todos os dias, às 6h30 da manhã, onde fica até às 11h30, assistindo às aulas e fazendo atividades. Apesar das dificuldades, do sinal precário da conexão, ele afirma que o novo formato não o prejudicou. “Eu gostei da aula on-line, porque é mais calmo que a escola”, conta.

Sonho 

Na escola, a disciplina favorita de Tiago é ciências. O estudante gosta de aprender sobre seres vivos e não-vivos. Mas os bichos são sua verdadeira paixão.

Depois da escola, à tarde, Tiago ajuda o pai a cuidar dos animais que a família tem no sítio onde moram. E ele segue firme no sonho de ser veterinário. É por causa desse contato com os animais que o desejo aumenta dia a dia.

“Eu continuo motivado para realizar o meu sonho. Os meus pais também me incentivam e me dizem para não desistir”, emociona-se. Para fazer o ensino médio a partir de 2022, Tiago vai ter que trocar de escola.

O garoto vai para o Centro de Ensino Lucas Coelho para continuar a trilha em busca do seu objetivo. E ele sabe que será sempre um longo caminho, muito mais do que os 24km que separam a sua casa da atual escola. É não é apenas a distância geográfica. É a distância de oportunidades, de acesso, de possibilidades.

Aos 13 anos, Tiago entendeu isso perfeitamente. E, há 16 meses, todos os dias, segue para a sua cadeira de madeira no meio do nada. Mais do que fazer as tarefas da escola, ele vai em busca de futuro. Tiago é parte do melhor de um país feito de gente que sonha, luta e ainda acredita.

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