Primeiro áudio divulgado dos arquivos que mostram diálogos atribuídos a Sergio Moro, Dallagnol e outros procuradores mostra o coordenador da força-tarefa dizendo a colegas que a proibição era uma ”boa notícia”
Dallagnol disse: “Caros, o Fux deu uma liminar suspendendo a decisão do Lewandowski que autorizava a entrevista [de Lula] dizendo que vai ter que esperar a decisão do plenário. Agora, não, não… Não vamos alardear isso aí. Não vamos falar pra ninguém. Vamos manter, ficar quieto, para evitar a divulgação o quanto for possível. Porque quanto antes divulgar isso, anters vai ter recurso do outro lado, antes isso aí vai para o plenário. Então o quanto assim, é, o pessoal pediu pra gente não comentar aí publicamente, e deixar que a notícia surja por outros canais para evitar precipar recurso de quem, é… tem uma posição contrária a nossa. Mas a notícia é boa pra começar, começar, terminar bem a semana depois de tantas coisas ruins. E começar bem o fim de semana. Abraços, falou”.
Mais cedo, naquele 28 de setembro, segundo o Intercept, por volta das 11h24, os procuradores da Lava-Jato já haviam se mostrado preocupados e indignados. Nas mensagens, a procuradora Laura Tessler teria chamado a decisão de Lewandowski de “piada, “revoltante” e “um verdadeiro circo”. Isabel Groba, também procuradora, teria respondido: “Mafiosos!”.
O áudio de Deltan, confirmando que Fux vetou a entrevista, só chegou 12 horas depois da manifestação dos procuradores no grupo do Telegram.
O outro lado
“O site se recusou a enviar o material usado na reportagem para avaliação da força-tarefa, prejudicando o direito de resposta e de análise do material. As mensagens que têm circulado como se fossem de integrantes da força-tarefa são oriundas de crime cibernético e não puderam ter seu contexto e veracidade verificados. Diversas dessas supostas mensagens têm sido usadas, de modo fraudado ou descontextualizado, para embasar falsas acusações que contrastam com a realidade dos fatos.”
Primeiro áudio
Moro
O ministro Sérgio Moro admitiu que parte das mensagens poderia ser verdadeira, mas reforçou que elas “foram obtidas por hackers criminosos” e que “podem ter sido adulteradas total ou parcialmente e não foram publicadas a partir do contexto delas”, disse.
“Podem ter mensagens que tenham ocorrido. Aquela mensagem ‘Confio no ministro do Supremo’. Qual é o problema em falar nisso? Nenhum”, considerou. “Mas pode ter uma mexida numa palavra, na própria identificação e na atribuição dessas mensagens. Eu não tenho esse material”, afirmou.
Dallagnol
Na segunda-feira (8/7), o procurador Deltan Dallagnol recusou o convite do Congresso Nacional para prestar esclarecimentos sobre as mensagens divulgadas pelo The Intercept. Moro e Glenn já tinham sido convidados e aceitaram o convite.
Dallagnol foi chamado para comparecer à Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da Câmara, e à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado. Segundo o procurador as manifestações a respeito do diálogo devem ocorrer “na esfera técnica”.
‘Quem é esse pessoal?’
Pelo Twitter, um dos editores do The Intercept Leandro Demori comenta o material divulgado nesta terça-feira. “Deltan manda um áudio falando sobre a decisão de Fux de barrar entrevista de Lula à Monica Bérgamo. Para ele, naquele momento, a decisão ainda não é pública. Tanto que pede segredo. E diz ‘o pessoal pediu pra gente não comentar publicamente’. Que pessoal?”, questiona Demori.
Deltan manda um áudio falando sobre a decisão do Fux de barrar entrevista de Lula à @monicabergamo. Para ele, naquele momento, a decisão ainda não é pública. Tanto que pede SEGREDO. E diz: "…o pessoal pediu pra gente não comentar publicamente…". Que pessoal? https://t.co/V5cpSclvFk
— Leandro Demori (@demori) July 9, 2019
Logo em seguida, o editor comenta a frase “In Fux We Trust”, fazendo referência a uma frase do ministro Sérgio Moro, em uma das conversas com Deltan, após o procurador dizer que “”Fux disse para contarmos com ele para o que precisarmos”. Esta é a segunda vez que o ministro do STF aparece nas mensagens vazadas.