Ministério da Educação admite problemas na divulgação dos resultados. Boa parte das queixas vem de candidatos cotistas
A União Nacional dos Estudantes (UNE) protocolou, ontem, uma notificação extrajudicial para que o Ministério da Educação (MEC) preste esclarecimento público sobre as origens do erro no portal do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Na terça-feira, muitos candidatos consultaram os resultados na plataforma e comemoraram a aprovação com a família e amigos. Horas depois, veio a decepção com o sumiço dos nomes da lista de ingresso às universidades públicas.
Em nota, divulgada ontem, o ministério reconheceu que houve uma “divulgação indevida de listas provisórias, com rankings ainda parciais, durante 25 minutos”, e que “a ocorrência está sendo rigorosamente apurada”. O MEC abriu sindicância interna, por meio da Corregedoria da pasta, e que “estruturou uma força-tarefa para receber e solucionar quaisquer dúvidas relacionadas ao processo do Sisu”. O canal oferecido para receber queixas de estudantes é o e-mail resultadosisu24@mec.gov.br.
“Não dá para os estudantes ficarem no escuro, sem saber do seu futuro, sem saber o que aconteceu e, muito menos, pagar por um erro que não cometeram”, declarou a presidente da UNE, Manuella Mirella.
“A gente quer garantir que esse problema seja resolvido e que o estudante, que não teve culpa do erro, não seja prejudicado. Cobramos que esse erro não ocorra no resultado do Fies e do ProUni também”, disse Manuella.
A entidade estudantil também criou uma plataforma para reunir os relatos dos estudantes lesados pela “pane no sistema” do MEC. “Muitos estudantes nos procuraram falando que tinham passado (na universidade) no dia anterior (terça-feira) e, no outro dia, não tinham conseguido a sua vaga na universidade pública, e esse movimento só cresceu”, relatou a presidente da UNE. Na primeira hora de funcionamento da plataforma, 50 relatos de problemas foram postados no site www-une-org-br-1.rds.land/problemas-com-fies-sisu-prouni
Crise de ansiedade
Esse é o caso de Cinthia Isabelly Silva Cavalcante, de 18 anos, de Natal (RN). Ela se inscreveu para o curso de Pedagogia na Universidade Federal de Rio Grande do Norte (UFRN), na manhã da terça, e, ao acessar o site, estava na 13ª posição para cotas destinadas a pretos, pardos e indígenas que cursaram o ensino médio em escola pública. “Fiquei muito animada com a notícia e não conseguia parar de chorar de alegria, só que, depois de algumas horas, eu vejo alguns relatos de que o resultado tinha sumido e, quando eu entrei no site, percebi que o meu também sumiu”, relatou a jovem.
Cinthia teve crise de ansiedade ao ler o posicionamento do MEC de que os resultados “vazados” deveriam ser desconsiderados. Ao receber a segunda comunicação sobre a resultado, ela notou que, além de ter sido desclassificada da primeira chamada — sua posição caiu para o 20º lugar —, o número da inscrição mudou e não batia com o registro de inscrição oficial. “No momento, me encontro devastada, me sentindo usada”, lamentou.
O acesso ao Sisu se dá por meio do cadastro gov.br, que exige CPF e senha. O Correio apurou que a maioria dos casos de inconsistência na aprovação estava relacionado com o critério de cotas. Nos últimos dois dias, a reportagem vem questionando o MEC para que informe se a pane está relacionada à mudança na Lei de Cotas, aprovada pelo Congresso, no ano passado, mas, até o fechamento desta edição, não obteve retorno.
Atualização (3/2/24, às 14h28): A UNE chegou a avisar que havia pedido a suspensão das inscrições do Sisu e reabertura do prazo, mas corrigiu a informação.