Que futuro terá uma sociedade onde os bem-sucedidos são tratados como a representação do mal e os fracassados são heróis?
Conte sua história de sucesso e você receberá críticas, ares de desdém e até inimigos. Conte sua história de fracasso e você receberá simpatia, demonstrações de afeto e altas doses de comiseração. Afinal de contas, este é o país onde ser “coitadinho” significa estar em uma posição muito mais bem aceita do que ser bem-sucedido.
O Brasil vive em um cenário de contradições onde a impressão que se tem é de que as pessoas repetem o que ouvem com o cérebro totalmente desligado. Com isso, vemos todos os dias pessoas falando de tolerância enquanto exigem que quem pensa diferente seja silenciado, pedindo “mais amor” enquanto destilam puro ódio e querendo se dar bem ao mesmo tempo que demonizam quem conquistou exatamente o mesmo que elas querem. E para incrementar ainda mais a falta de coerência e pintar o fracasso como algo digno, a culpa é sempre de terceiros.
Uma pessoa que vive desempregada é apenas uma vítima do capitalismo, ainda que não busque emprego e que, ao surgir qualquer oportunidade, a recuse por não estar “à sua altura”. Um aluno que vai mal na escola, ainda que por puro desinteresse, é nada mais do que alguém incompreendido, portador de alguma síndrome – quase sempre não diagnosticada ou erroneamente diagnosticada – e que precisa de mais ajuda do que os professores estão dispostos a dar.
Por outro lado, quem faz por onde, nada contra a maré e a despeito de todas as dificuldades vence na vida, é tido como um oportunista, explorador e que “deve ter recebido tudo de mão beijada”. No caso das mulheres, então, a coisa é ainda pior, pois ao alcançar um posto de destaque vira alvo de fofocas do tipo: “deve ter se valido de seus atributos físicos” ou “provavelmente recorreu a outros meios escusos para estar onde está”.
Boa parte dos brasileiros ainda ridiculariza o sucesso dos outros e desdenha da trajetória de quem conquistou o que todos gostariam de ter. Agora, porém, estamos partindo para algo ainda mais nocivo, como Thomas Sowell descreveu: “Vivemos agora num mundo em que o sucesso alheio não é um exemplo, mas uma ofensa.”
Tenha cuidado para que você não seja mais uma caixa de ressonância da aversão ao sucesso, pois o futuro de quem venera o fracasso é conviver com ele.
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