Em comemoração ao aniversário da cidade, fomos às ruas para conhecer a vida de quem fez e faz sua história. Veja também depoimentos de moradores que falam o que esperam do futuro
Ceilândia completa 54 anos nesta quinta-feira (27/3 e, como a cidade, cada um dos seus filhos guarda trajetórias que misturam memória, resiliência, paixão e expectativas para o futuro do lugar que chamam de lar. Para celebrar a data, trazemos retratos de personagens que definem a identidade de uma região.
Onde o cotidiano pulsa em cada esquina e a cultura se faz presente nos bares e praças, um dos destaques é Juliana Marques, mais conhecida como Ju. Aos 28 anos, a cantora se transformou na principal voz de uma nova era musical, levando o nome da cidade para o mundo com sua mistura singular de música pop internacional e versões em brega de sucessos consagrados.
Com uma caixa de som sempre à mão e um carisma inconfundível, Ju, que tem 13 anos de carreira, começou a conquistar os holofotes ao transformar bares, botecos e até esquinas em palcos improvisados. Em vídeos espontâneos, gravados sem roteiro e cheios de autenticidade, ela interpreta clássicos como I Wanna Know What Love Is, de Mariah Carey, e Have You Ever Seen the Rain?, da banda Creedence Clearwater Revival. Essa atitude ousada rendeu à artista mais de 1,3 milhão de seguidores no Instagram, impulsionando sua carreira e dando voz à periferia de Ceilândia. “De Ceilândia para o mundo” é o lema que Ju leva com orgulho.
Com a mesma idade da cidade, 54 anos, Japão, do grupo Viela 17, nasceu e cresceu em Ceilândia. Seu primeiro endereço foi na QNM 26, no ponto final dos ônibus, conhecido como Vila do Cachorro Sentado — o único lugar onde conseguiam embarcar e seguir sentados rumo ao Plano Piloto. Com recordações de uma infância vivida nas ruas, ele lembra com carinho e saudade os tempos em que cada dificuldade se transformava em forma de resistência e identidade.
“Minhas memórias são vivas, pulsantes, cheias de poeira e alegria. Lembro dos amigos, das primeiras letras aprendidas na escola, das brincadeiras que transformavam concreto em aventura. Ali, a infância acontecia sem pressa, sem medo, com o riso ecoando alto”, contou. Para ele, a cidade pulsa arte e resistência, mesmo sem o apoio necessário.
E, pela primeira vez, a cidade recebe o Festival Hip Hop do Cerrado, que será realizado nesta sexta-feira (28/3) na Praça do Cidadão, às 16h, em homenagem ao aniversário. “Aqui, o rap não é só música, é voz. É denúncia, identidade e história viva”, finaliza Japão.
Celeiro de talentos
A região também ecoa musicalidade com diversos gêneros, como samba, forró, rap, sertanejo, indie e rock. O Samba da Guariba, por exemplo, é considerado um símbolo da resistência cultural e da identidade da cidade. Criado por um grupo de amigos, em 2016, o evento é mensal, sempre no segundo sábado de cada mês. O coletivo surgiu para fortalecer o samba de raiz e se tornou um ponto de encontro para músicos e moradores.
Para Danielton, conhecido como Dan, Ceilândia é sinônimo de acolhimento e oportunidade. Comunicador do coletivo que organiza o Samba da Guariba, ele destaca a importância dos encontros culturais que fortalecem a identidade local. Entre memórias afetivas e o legado de artistas que marcaram Ceilândia, Dan ressalta a relevância dos espaços públicos — como a Praça do Cidadão — que promovem a integração e o desenvolvimento cultural. Para ele, a celebração do Samba da Guariba vai além da música: é um reflexo do espírito de superação e da esperança de um futuro ainda mais vibrante.
Tânia Regina, conhecida como DJ Tânia, encontrou em Ceilândia não apenas um novo lar, mas também uma fonte de inspiração para sua trajetória artística. Inicialmente dançarina, a mudança de Sobradinho para a cidade, em 2015, abriu-lhe as portas dos bailes, onde aprendeu e ensinou ritmos. Ceilândia ainda deu a Tânia duas novas paixões: ser DJ e ter conhecido seu marido, Djsmoogg.
Hoje, comanda festas que resgatam os anos 1980 e 1990. “Quando me casei, nossa casa tinha um monte de equipamentos. No início, enfrentei várias dificuldades, mas, com ajuda de amigos que já tocavam há um tempo, fui aprendendo aos poucos e começando a me apresentar em festas”, relembra.
Para ela, Ceilândia é um lugar especial, que conta várias histórias, onde o encontro entre gerações celebra a memória e o espírito festivo da região. “A minha maior fonte de inspiração são os idosos. Sempre paro para ouvir as histórias que eles contam, quando faço isso é como viajar no tempo”, destaca.
A cidade é um celeiro de talentos culturais, musicais e esportivos, como Katlen, 38, e Sophia Lopes, 18. Mãe e filha, levam no peito não apenas a paixão pelo karatê, mas também o orgulho de representar a cidade onde nasceram e cresceram. Com títulos nacionais e internacionais, as duas fazem dos tatames ceilandenses o grande palco de preparação para suas conquistas.
Sophia, que iniciou no esporte em 2019, logo se destacou e, em 2024, obteve o título mundial na Ilha de Malta. Inspirada pelo talento da filha, Katlen abraçou o karatê em 2023 e, com dedicação, acumulou mais de 30 medalhas e 10 troféus. Elas contam que a cidade é berço de lembranças de infância, onde as festas, as quadrilhas e os encontros comunitários deixaram marcas que fortaleceram o vínculo com a terra que as viu crescer.
Programação de aniversário
Quinta (27/3) — 16h
» Cerimônia de corte do bolo
Praça do Trabalhador (ao lado da administração regional)
» Inauguração da Casa do Hip-Hop de Ceilândia: DJ Jamaika
CNM 02 (em frente
à Praça do Metrô)
» Gravação audiovisual:
Seresta Internacional
da Cantora Ju Marques
Ao lado da Feira
Central de Ceilândia
De quinta (27/3) a sábado (29/3)
» Circula DF: Shows e apresentações artísticas
Ao lado da Feira
Central de Ceilândia
Sábado (29/3) — 8h
» Desfile Cívico-Militar
Via M1 (entre o CEM 03 e
a administração regional)
As comemorações vão até 27/4. Confira a programação completa no Instagram @admceilandia.
Depoimentos de moradores
Eles relembram como tudo começou, falam sobre suas memórias, os lugares que mais gostam e o que esperam para o futuro da cidade.