Ministério da Gestão informou como será o Concurso Nacional Unificado. O certame vai preencher 6.640 vagas em 21 órgãos
Com expectativa de atrair mais de três milhões e meio de inscrições, o Concurso Público Nacional Unificado (CPNU) é uma aposta para os que buscam consolidar suas carreiras no setor público. O governo publicou ontem o edital do processo seletivo apelidado de “Enem dos Concursos”, com 6.640 vagas disponíveis para nível superior e médio e salários que podem chegar a R$ 23 mil.
A maioria das oportunidades são destinadas a candidatos de nível superior, sendo 5.948 para quem tem graduação e 692 para nível médio. O novo unificado consiste em um único processo seletivo para todos os órgãos federais com vagas disponíveis. Com provas aplicadas simultaneamente em todos os estados e no Distrito Federal, o candidato poderá concorrer a mais de um cargo, desde que esteja dentro do mesmo bloco temático.
O edital divulgado é composto por oito documentos, um para cada bloco temático (área de atuação) que os candidatos podem se inscrever, com informações sobre as vagas, salários, conteúdo das provas, critérios de classificação, composição das notas finais, entre outros.
As inscrições vão começar em 19 de janeiro por meio do site Gov.br. Na hora do cadastro, deverá ser escolhido um bloco temático e, depois, os cargos que tem interesse. Em seguida, será possível ordenar a sua preferência entre os cargos e especialidades.
A aprovação ocorrerá conforme a indicação de preferência do candidato, o participante poderá escolher apenas um bloco temático, mas quantas vagas quiser dentro dele. Independentemente do número de cargos que o candidato escolher, será paga uma única taxa de inscrição, o valor é de R$ 60 para vagas de nível médio e R$ 90 para nível superior.
Distribuição
As provas serão distribuídas em 220 cidades brasileiras. Para a ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI), Esther Dweck, a infraestrutura é o ponto de maior destaque no processo seletivo. Segundo ela, 94,6% da população brasileira está a até 100 km do local de prova, com mais de 5.100 pontos de aplicação.
“Estamos aproveitando essa infraestrutura do Enem, que é inquestionável. Esse concurso é fruto de um acúmulo de experiências que o Enem tem em fazer provas dessa dimensão”, declarou, em entrevista coletiva, ontem.
Dweck afirmou que o objetivo da pasta é padronizar os concursos federais a partir da experiência com o concurso unificado. “A nossa ideia é que se torne algo permanente, não anualmente, mas bianualmente quem sabe, para que possa se tornar uma rotina e à medida que os órgãos que tiverem vagas possam aderir ao concurso unificado”, disse.
O exame será dividido em dois turnos no mesmo dia, com questões objetivas e dissertativas. A Fundação Cesgranrio será a banca responsável pela aplicação, com experiência na execução de exames como o Enem. A divulgação dos resultados das provas objetivas e preliminares das provas discursivas e redações será no dia 3 de junho. Os resultados finais serão anunciados em 30 de julho. Em 5 de agosto terá início a etapa de convocação para posse e realização de cursos de formação.
Cadastro reserva
Uma das grandes novidades do edital é o cadastro reserva, os candidatos poderão ser convocados para eventual contratação temporária, permanecendo na lista de espera por uma vaga permanente. Segundo a ministra da Gestão, a ideia surgiu a partir de uma necessidade deste primeiro ano de governo. “Qual a lógica de demorar quase um ano para, que é o prazo de realização de um concurso, para algo temporário, sendo que é uma necessidade urgente”, disse.
De acordo com o documento, o cadastro de reserva vai corresponder a duas vezes o número das vagas imediatas, por bloco. “Sendo assim, a regra foi mudada e o cadastro reserva, que antes era um cadastro para aquele concurso específico, terá essa nova regra. O número da lista de espera é para que possamos realmente ter um cadastro de reserva com bastante gente, que vai poder ser chamada posteriormente, seja para o cargo que está lá, ou seja para um contrato temporário”, destacou Esther Dweck.
A professora do Gran Cursos Jacqueline Galuban, chefe do Setor de Recrutamento e Seleção da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), afirmou que havia uma prática de cadastros de reservas “infinitos” — o que traz um prejuízo para a administração pública. “Eu vejo com bons olhos, tanto para a administração como para o candidato; esse por ter duas oportunidades, visto que uma não prejudica a outra. A administração ganha em já possuir com um único certame provisões de servidores de forma permanente e temporária uma economia em várias camadas”, disse.
Na avaliação de Galuban, o modelo do CPNU é tão inovador quanto foi a chegada do Enem. “Como tudo que é novo, sempre existe uma resistência; assim como tudo que é criado, por mais inovador que seja, nunca será perfeito. Quanto à perfeição, a equipe do MGI deixou claro que muito se pode desenvolver ainda, mas o modelo é mais democrático. O Brasil é um país de uma larga extensão territorial e para se dar oportunidade a todos de forma isonômica se faz necessária uma prática onde a prova chegue ao candidato e não ao contrário”, resssaltou.
Com relação ao peso das disciplinas, há críticas de que a concentração ignora conhecimentos específicos de determinadas áreas. “Isso não é novo. Ao longo dos anos, os concursos vão dando pesos às disciplinas de acordo com a necessidade das atribuições que os candidatos irão exercer se forem aprovados. O fato de haver prioridade de escolha de mais de um cargo dentro do bloco já vai proporcionar um equilíbrio quanto a isso”, observou a especialista.
De acordo com o MGI, será realizada uma série de transmissões ao vivo para que os concorrentes entendam os detalhes do edital, que é amplo. Além da live para tirar dúvidas, a pasta afirmou que também será disponibilizado um canal de atendimento exclusivo para auxiliar na inscrição. “Estamos firmando parcerias com o Banco do Brasil, Correios e Funai para ter locais físicos para quem tiver dificuldade na inscrição on-line”, informou a ministra Esther Dweck.
Expectativa alta
O assessor de marketing e comunicação, Allan Wolfz, 27 anos, está otimista sobre o concurso, destacando a importância de não deixar escapar uma chance tão valiosa diante do atual cenário do mercado de trabalho. “Acredito que é uma oportunidade excelente e que irá abrir novos caminhos para muitas pessoas. Pretendo fazer o concurso porque acredito que oportunidades boas como essa não se devem perder, tendo em vista o difícil mercado de trabalho hoje em dia”, afirmou.
Outro entusiasta é o supervisor de eventos, Arthur Moreira, 27, que expressou uma expectativa elevada em relação à quantidade de vagas e sua distribuição. A ideia de um concurso unificado, dividido em blocos, não apenas aumenta as chances dos candidatos, mas também proporciona a muitos a oportunidade de participar de uma prova antes inacessível.
“Tenho uma expectativa muito alta por causa da quantidade de vagas e da forma como elas estão distribuídas. Acho que pode aumentar as nossas chances, muitas pessoas não tinham sequer a oportunidade de fazer uma prova desse nível e agora vão ter”, destacou.
“Já comecei a me preparar. Eu tenho interesse no bloco 1, que é a parte de administração e finanças, e almejo o órgão MGI (Ministério de Gestão e Inovação. Caso a minha nota de corte não seja tão boa para ir ao órgão que eu quero, mas também não seja tão baixa, eu não vou estar fora do concurso, ainda posso pleitear vagas em outros órgãos que estejam vinculados a esse bloco. Isso me incentiva bastante”, completou.
Moreira não apenas absorveu o incentivo de disputar o certame, mas também compartilhou essa motivação com sua mãe. Ele conta que agora os dois estão se preparando para o concurso. “Eu fui muito incentivado pelos meus professores. Quando saíram as movimentações do CPNU, muitos professores comentaram e falaram que seria uma excelente oportunidade. O mais legal é que eu acabei incentivando a minha mãe também a participar, ela vai fazer o concurso e está se preparando”.
Poderão pedir isenção da taxa de inscrição quem tem ou já teve bolsas de estudo do Programa Universidade para Todos (Prouni) ou Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), e doadores de medula óssea. A inclusão foi um aspecto elogiável do concurso unificado.
Barboza, que teve bolsa do Fies, enxerga essa medida como uma forma de facilitar o acesso ao concurso para aqueles que, de outra forma, não poderiam arcar com as taxas de inscrição. “Tive bolsa do Fies, por isso achei incrível que iremos receber isenção de taxa, mais uma oportunidade e chance na democratização do acesso a esse concurso, e facilita a vida de muitos que, atualmente, não podem pagar por essa inscrição. Pode parecer um valor simbólico, porém é muito distante da realidade de outros”, contou.