Procedimento é corriqueiro na aviação em todo o mundo e, embora assuste passageiros, não oferece ameaça à segurança de voo
Um voo da LATAM, que partiu de Salvador com destino a Guarulhos, em São Paulo, precisou retornar ao aeroporto no último domingo (12) após colidir com uma ave, um incidente conhecido na aviação como “bird strike”.
O impacto da ave com o motor da aeronave gerou uma chama intensa, um momento registrado em vídeo por alguns passageiros a bordo. Embora tenha causado certo receio em alguns viajantes, esse tipo de incidente é considerado comum na aviação, e a tripulação agiu de acordo com os procedimentos padrão, sem grandes interferências no curso do voo.
Segundo o piloto de linha aérea e instrutor de simulador de voo, Fábio Castilho, em situações como essa, alguns procedimentos devem ser estritamente seguidos. Inicialmente, a prioridade dos pilotos é manter a aeronave em voo e assegurar a sua capacidade de navegação – ter conhecimento da localização, direção desejada, frequentemente em uma posição de espera. “É crucial manter uma consciência plena do contexto do terreno e das condições meteorológicas durante esse percurso”, destacou.
Além disso, é fundamental manter uma comunicação constante entre os pilotos, o Controle de Tráfego Aéreo (ATC), os comissários de bordo e a equipe da companhia aérea em solo.
Em situações de colisão com aves, quando ocorre o chamado “estol de compressor”, gerando chamas no motor, caso não haja vibração intensa na estrutura da aeronave, por exemplo, esta pode prosseguir normalmente para o destino. A decisão cabe ao comandante.
Em outros casos, visando aprimorar os procedimentos de segurança, a tripulação opta por retornar ao aeroporto de partida se o impacto com a ave ocorrer logo após a decolagem, ou aterrissar no aeroporto de destino, quando o incidente acontece próximo à aterrissagem.
O “bird strike” pode ocorrer justamente nessas duas fases do voo, devido à baixa altitude e à presença de aves.
As chamas surgem durante o incidente devido ao impacto com a ave, que em certos casos atinge mangueiras condutoras de óleo ou fluidos hidráulicos. No entanto, a engenharia dos motores e o treinamento dos tripulantes transformam esse incidente em algo corriqueiro e de resolução simples.
Susto na aeronave
O marceneiro Marcelo de Oliveira, 54 anos, residente em Ilhabela, litoral norte de São Paulo, compartilhou sua experiência sobre o susto vivido durante o voo enquanto se dirigia para a capital baiana para apoiar a equipe de natação da qual seu filho faz parte.
De acordo com ele, cerca de 20 minutos após a decolagem de Salvador, ocorreu uma explosão na turbina direita, gerando pânico entre os passageiros e a tripulação. “Meu filho pegou rapidamente o celular e começou a filmar a turbina em chamas, aí o desespero se espalhou pela aeronave”, revelou.
“Com muita serenidade, o comandante e os comissários de bordo conseguiram acalmar os passageiros. Confesso que senti medo, pois tenho uma família que amo e tenho certeza de que sofreriam muito se algo pior tivesse acontecido. Agradeço imensamente a Deus e ao Universo por nos livrar desse perigo”, compartilhou o marceneiro.
Pouso no rio Hudson
Em 15 de janeiro de 2009, o voo 1549 da US Airways, transportando 155 passageiros, realizou um pouso de emergência nas gélidas águas do rio Hudson, em Nova Iorque, após um incidente de “bird strike”.
O que tornou essa ocorrência tão grave a ponto de obrigar o avião a pousar no rio? O Airbus da US Airways foi atingido por aves simultaneamente em ambos os motores, um acontecimento extremamente raro. A situação se agravou pelo fato de a colisão ter ocorrido durante a decolagem, quando a aeronave se encontrava em baixa altitude.
O relatório preliminar do incidente indicou que a aeronave perdeu potência em ambos os motores após o impacto com gansos-canadenses. Essa conclusão, assim como a coincidente perda de potência em ambos os motores, foi confirmada pelas gravações da cabine e pelos dados de voo recuperados do avião pelo NTSB, quando a aeronave foi resgatada do rio em 18 de janeiro, como relatado pela Aeroflap.