QUEER: SURPREENDENTE E COMOVENTE

CRÍTICA E ANÁLISE POR: Diogo Albuquerque

Depois de dirigir o filme Rivais, que teve lançamento em abril deste ano, Luca Guagagnino retorna aos cinemas, desta vez na direção de Queer. O drama aborda a história de William Lee (interpretado por Daniel Craig), um refugiado americano que vive na Cidade do México, no ano de 1950. Lá, ele encontra Eugene Allerton (interpretado por Drew Starkey), que acaba de chegar à cidade como expatriado e ex-soldado. Os dois são diferentes, o que fica evidenciado até mesmo na aparência: Lee é um homem na faixa dos 50 anos, desengonçado, vivido, viciado em drogas; Eugene, nos seus 30, com uma pele lisa e esbelta, demonstra pouca vivência e um ar mais inocente. Basta uma troca de olhares entre os dois para que Lee seja atravessado por uma paixão e desejo insaciáveis.

Movido por esses sentimentos, Lee se aproxima de Eugene ao ponto de ficar obcecado pelo rapaz. Aos poucos, de noite em noite na cidade boêmia e pacata, ele vai ganhando confiança até que, enfim, encontra uma brecha e a relação dos dois se torna mais íntima. Allerton, por sua vez, parece ingênuo e, de certa maneira, desinteressado nas investidas do companheiro, o que alimenta ainda mais a vontade de Lee por um relacionamento sólido. A Cidade do México parece um pano de fundo perfeito para o conflito, principalmente pela fotografia incrível apresentada no longa. Guadagnino é mais ousado nas cenas íntimas quando comparamos com o filme Me Chame Pelo Seu Nome (2017), sem esconder os momentos, o que faz eles ainda mais marcantes e surpreendentes.

Nesse jogo de desejo, depois de perceber um afastamento maior do parceiro, Lee, que anteriormente já se mostrou viciado, decide comprar uma passagem para a América do Sul atrás da yagé, ou ayahuasca, como é popularmente conhecida. Ele está especialmente interessado em telepatia, e alega que os russos já estavam usando a yagé de maneira experimental. É aí que se inicia a segunda parte do filme. O que motiva essa busca é a vontade de Lee de conseguir expressar melhor o que sente por Eugene e de saber o quê exatamente o parceiro sente por ele. Lee convida Allerton para a viagem, sob promessas de deixá-lo livre para retornar a qualquer momento e se envolver com outras pessoas. Eugene aceita e eles, então, partem rumo à floresta amazônica.

A dinâmica entre os dois personagens, no entanto, neste segundo momento, se torna cansativa. O diretor retorna ao vai e vem dos protagonistas, de forma repetitiva. Depois que os personagens conseguem, enfim, beber o chá, o espectador se depara com cenas perturbadoras, que podem causar certa aflição aos mais sensíveis. A partir daí, é difícil separar o que é real do que não é. O espectador vive uma imersão junto com os personagens. Os dois parecem se conectar de maneira profunda, o que fica claro quando eles compartilham a mesma pele em uma dança sincronizada.

Depois que uma noite se passa, eles despertam do transe e deixam a floresta, diferentes de quando chegaram. Ali, eles se desencontram, marcando uma separação. Depois de toda a viagem, parece difícil lembrar a perseguição de Lee pelo amor, já dissolvido nesse meio tempo. Dois anos se passam e Lee retorna à Cidade do México querendo reencontrar Eugene. Ele chega a escutar a voz dele em sua cabeça e a ver o amado na cama, mas tudo não passa das alucinações que ainda ficaram como sequela. O fecho dramático e melancólico ancora o filme no ponto de partida do longa, retomando a busca incessante e dolorosa de Lee pelo amor.

A atuação dos dois atores é um notório destaque para a trama, mas Daniel Craig se sobressai e consegue alcançar lugares que surpreendem aos que acompanhavam seu trabalho passado, como James Bond. O papel certamente poderá render ao ator indicações aos principais prêmios de cinema. Craig e Starkey sem dúvidas ajudam a dar importância à história dos personagens nos momentos em que o diretor se distancia do objetivo apresentado no início do filme. A fotografia segue sendo um dos pontos fortes de Guadagnino, que consegue transportar o espectador para um lugar completamente diferente dos atuais. Quem assistir a Queer vai se deparar com um filme mais denso que os anteriores do diretor, mas sairá surpreendido, comovido e com o coração apertado.

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