Segundo levantamento da Conexis Brasil Digital, cerca de 664 km de fios foram levados em seis meses em todo o estado
O estado de São Paulo teve 3,6 km de cabos de telecomunicação furtados ou roubados por dia, durante o primeiro semestre de 2023. No total, 664 km de fios foram levados em seis meses. O volume é o suficiente para cobrir a distância entre a capital paulista e Florianópolis (SC).
Os dados são da Conexis Brasil Digital, entidade que representa as maiores operadoras de telecomunicações do país, e foram divulgados nesta semana.
O furto, o roubo, o vandalismo e a receptação de cabos causam prejuízo direto para milhões de pessoas no dia a dia, com a redução da qualidade ou a suspensão do sinal de internet, telefonia e TV por assinatura. As ações criminosas ainda comprometem os serviços de utilidade pública como a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros e o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
Segundo a entidade, o volume de cabos furtados ou roubados no primeiro semestre de 2023 aumentou 21,9% em relação ao segundo semestre de 2022 (490,7 km) e 35,3% na comparação com ao primeiro semestre do ano passado (544,9 km). No total, 7 milhões de consumidores foram afetados.
Confira os dados de furto e roubo de cabos em São Paulo:
• 2023 (de janeiro a junho): 664 km
• 2022: 1.035 km
• 2021: 1.081 km
• 2020: 1.366 km
Daniela Martins, diretora de Relações Institucionais e Governamentais e de Comunicação da Conexis Brasil Digital, afirma que a sociedade está cada vez mais conectada, por isso os usuários são prejudicados em diversas situações, como em transações comerciais pelas redes sociais, acesso a aulas digitais e registro de boletins de ocorrência on-line.
“Já acompanhamos casos de hospitais que não conseguiram acessar a ficha e os prontuários dos pacientes, porque eram digitais”, cita como exemplo.
Segundo Martins, as ações criminosas ainda provocam prejuízo econômico as empresas de telecomunicação que devem repor o equipamento. “Quando as empresas estão utilizando esse recurso para recompor uma rede que foi roubada ou furtada, esse valor poderia ser investido para levar rede a regiões que ainda não tem cobertura ou melhorar o serviço em regiões em que há coberturas”, explica.
O valor no mercado internacional do cobre – um dos materiais que compõe os cabos – é o grande atrativo para os criminosos. De acordo com o coronel Roberto Alves, especialista em segurança, geralmente o metal é vendido para ferros-velhos que, por sua vez, utilizam o material na fabricação de novos cabos, como forma de economia.
O setor de telecomunicação não é o único que é alvo de furtos e roubos. Todos os locais com estrutura elétrica estão suscetíveis a este tipo de crime, como os equipamentos de trânsito. “Como eles não tem uma vigilância, isso facilita a ação dos criminosos”, afirma Alves.
A diretora de Relações Institucionais e Governamentais e de Comunicação da Conexis Brasil Digital também lembra da importância de direcionar o olhar para o crime de receptação – que representa o final da cadeia criminosa e que deve ser combatido a partir de políticas públicas envolvendo as esferas municipais, estaduais e federal.
“Quem recepta e compra material sem a devida procedência, que pode ser fruto desse tipo de crime, também está cometendo um crime”, reforça.
A SSP (Secretaria de Segurança Pública) informou, em nota, que os crimes de roubo e furto de fios são combatidos com o apoio da 3ª Delegacia de Investigações sobre Crimes Patrimoniais contra Órgãos e Serviços Públicos do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais).
De janeiro a agosto deste ano, 47 pessoas foram detidas pela prática desses crimes. Além disso, foram apreendidos 18,4 toneladas de fios utilizados em atividades ilícitas.
“Na Capital, a concessionária responsável pelo fornecimento de energia possui uma parceria com o Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), para monitoramento dessas ocorrências, o que possibilita um acionamento rápido das forças policiais ao local desses crimes”, afirma a pasta.
Em abril, a Câmara de São Paulo aprovou a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar casos de furtos de fios e cabos de cobre na capital paulista.
Entre os temas debatidos estão os impactos negativos na comercialização irregular e uso inadequado de fios de cobre, inclusive na indústria de transformação desse material e a qualidade final dos produtos.