Taxa de ocupação de UTIs acima de 90% deixa saúde do DF em alerta

No pico da pandemia do novo coronavírus, as unidades de terapia intensiva nas redes pública e privada chegam à situação crítica, com 92,8% de lotação. Boletim da Secretaria de Saúde registra 1.312 mortes e 104.442 notificações no Distrito Federal

 

O Distrito Federal começa a viver, de maneira ainda mais aguda, os efeitos da disseminação contínua do novo coronavírus. Ontem, a Sala de Situação da Secretaria de Saúde mostrou que o atendimento de pacientes graves está perto de atingir a capacidade máxima nas redes pública e privada. Nos leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) do Sistema Único de Saúde (SUS), 90,87% das vagas para adultos estavam ocupadas — é a primeira vez que a lotação passa de 90%. Na rede privada, apenas 3,6% estavam livres. Excluídos os leitos bloqueados ou aguardando liberação, o DF dispõe de 724 leitos de UTI nas duas redes, para pacientes com a covid-19 de todas as idades. Desse total, 92,8% estão ocupados.
Morador da Expansão do Setor O, Luan Rodrigues, 20 anos, enfrenta uma saga desde segunda-feira, quando o tio, Cícero Rodrigues, foi hospitalizado. O paciente apresentava sinais da covid-19 e acabou internado e intubado na UTI do Hospital Regional de Ceilândia (HRC). No entanto, Cícero depende de hemodiálise e deixou de fazer duas sessões devido à falta desse suporte na unidade hospitalar.
Agora, Luan e a família tentam conseguir a transferência de Cícero para uma UTI, onde ele possa fazer tratamento sanguíneo e renal. “Corremos atrás de todo o necessário para fazer a mudança dele. Estamos aguardando. Ele está em péssimas condições e teve falência respiratória. Falaram que não há médico ou automóvel para acompanhá-lo (na transferência). Em uma decisão, a Justiça liberou a mudança. Achamos que ele tinha sido encaminhado, mas vamos precisar ir ao HRC amanhã (hoje), para ver se tomam alguma atitude”, cobra Luan.
Os leitos de UTI permitem o monitoramento de pacientes durante todo o tempo e oferecem suporte para ventilação mecânica, para ajudar na respiração. Além disso, a equipe de saúde é multidisciplinar e especializada em cuidados intensivos. Ela inclui desde médicos e enfermeiros até fisioterapeutas, dentistas e psicólogos, para assegurar que os internados consigam se recuperar adequadamente.
Presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira no Distrito Federal (Amib-DF), Rodrigo Biondi comenta que o suporte de ventilação mecânica não é o único fator determinante para os leitos de UTI. Ele lembra que o trabalho multiprofissional e a tecnologia para manter um monitoramento constante não podem faltar. “Em outra unidade de internação, o paciente fica 24 horas por dia, mas as intervenções acontecem entre seis e oito horas por dia, no momento em que tem a maioria da equipe ali. Na UTI, se eu tiver de fazer uma tomografia de sábado para domingo, às 3h, eu vou fazer. Se uma pessoa estiver na enfermaria e precisar dessa intervenção, ela será transferida para a UTI”, explica.
A Secretaria de Saúde informou que a ampliação da capacidade de atendimento da rede pública acompanha a evolução dos casos da covid-19 tanto na parte de assistência pela atenção primária, na detecção de casos, quanto na parte de internação hospitalar, incluindo leitos com suporte de ventilação mecânica. Em relação às vagas em UTI, a pasta acrescentou que a regulação ocorre por meio do Complexo Regulador. “(A central) faz a busca por leitos que atendam às necessidades dos pacientes e, enquanto isso, eles seguem sendo assistidos pela equipe de profissionais do hospital onde estão internados”, detalha o órgão, em nota.

Novos casos

Ontem, a Secretaria de Saúde confirmou mais 25 mortes pela covid-19, que ocorreram entre 22 e 30 de julho. Com isso, o total chegou a 1.312 vítimas. A quantidade de casos da doença subiu para 104.442, com mais de 83% dos pacientes que se recuperaram. No entanto, em relação ao observado no dia anterior, houve 2,1 mil novos registros. Na última semana, esse indicador só ficou abaixo de 2 mil em dois dias: no sábado e na quarta-feira.
O tio e padrinho de Thamyris Rodrigues Cândido, 20, entrou para as estatísticas de mortes pela doença. Devido ao isolamento dos pacientes da covid-19, a família sequer pôde acompanhar Juvenal Borges da Silva, 52, no hospital. Ele ficou em coma na UTI de um hospital particular por cerca de quatro dias. “A gente só tinha informação pelo telefone, porque não podia ir ver como que ele estava. O médico ligou para a minha madrinha para ela ir ao hospital ver o laudo médico. No outro dia, ele faleceu. Foi ruim, porque nem perto do caixão a gente pode chegar, nem para saber se era ele quem estava lá dentro mesmo”, lamenta a moradora de Ceilândia.
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