Rodovias que cortam o Distrito Federal acumulam acidentes fatais não só pela precariedade, mas também pela imprudência dos motoristas. A DF-001, entre as vias distritais, e a BR-020 lideram as estatísticas de óbitos neste ano
Cruzes fixadas ao longo da marginal da pista sinalizam o perigo de uma das rodovias que mais matam no Distrito Federal: a DF-001, ou Estrada Parque Contorno (EPCT). Em 2018, 20 acidentes fatais aconteceram na via que contorna a capital. Até maio, foram nove mortes. Medo de trafegar na pista, de fazer ultrapassagens e da quantidade de veículos acompanha quem circula por ali. “Perdi o meu melhor amigo há oito meses. Ele colidiu com um caminhão”, lamentou o motorista Vladimir Rodrigues Castro, 55 anos.
Há 25 anos, Vladimir mora às margens da rodovia, próximo à Brazlândia, um dos pontos mais arriscados. No ano passado, cinco acidentes fatais aconteceram naquele trecho. Na altura do Recanto das Emas, o mesmo número de ocorrências. “Aqui, o fluxo de veículos é sempre intenso. Colisões durante ultrapassagens são as mais comuns, mas a gente acaba vendo de tudo”, contou Vladimir.
Apesar das reclamações dos moradores, o Departamento de Estradas e Rodagens (DER-DF) afirma que não há previsão de qualquer alteração na DF-001. Em nota, a pasta informou que cumpriu todas as ações que poderiam ser feitas. “Caso (o órgão) constate, por meio de estudo de impacto de trânsito a necessidade de intervenção em qualquer rodovia, a mesma é realizada”, afirma o texto.
O DER acrescenta que as pistas são fiscalizadas com pardais e barreiras eletrônicas, além de agentes de trânsito e policiais militares do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv). “Cabe aos motoristas serem mais prudentes, respeitando os limites de velocidade de cada rodovia e as leis de trânsito, inclusive não cometendo as principais infrações que ocasionam os acidentes”, ressaltou o órgão.
A DF-001 não é a única estrada perigosa. A má reputação precede algumas vias distritais, como a DF-003 e a DF-290, por causa de acidentes graves. O tráfego intenso de veículos, muitas vezes em velocidade acima da máxima permitida, além da condução irresponsável, sob efeito de álcool e outras substâncias entorpecentes, faz diversas vítimas. Dados do Ministério da Saúde mostram que o Distrito Federal é a unidade da Federação com mais registros de multas por excesso de velocidade.
Segundo o levantamento do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), em 2018, 15,7% do total de infrações foram distribuídas aos mais apressados. De acordo com o ministério, acidentes de trânsito são a segunda maior causa de mortes externas (sem causas naturais) no país. Os dados mais recentes indicam que, em 2017, 35,4 mil pessoas foram a óbito em estradas, vias e rodovias brasileiras.
Calamidade
Além das DFs, as BRs registram números expressivos de mortes: 61 casos em 2018. Com 20 óbitos, a BR-020 lidera o ranking. No total, foram registrados 10 acidentes em Planaltina e outros 10 em Sobradinho. Em seguida, vem a BR-070, com 13 ocorrências na rota de Ceilândia e duas em Taguatinga. “Além das reformas nas vias e mais sinalização, precisamos de campanhas de educação para os motoristas”, reclamou o técnico em eletrônica João Afonso Silva Oliveira, 55.
Morador de Sobradinho, ele atende clientes em diversos pontos do DF e passa, principalmente, pelas BRs 020 e 070. “Excesso de velocidade é a coisa mais comum de se ver. O meu carro tem potência para acelerar, mas não é por isso que vou tentar manobras perigosas”, ponderou. Segundo João, o cenário de acidentes tornou-se comum. “Quando encontramos um congestionamento, sabemos automaticamente que se trata de uma colisão ou de um atropelamento. Precisamos que os órgãos de trânsito orientem mais os motoristas, além de intensificar a fiscalização”, sugeriu.
Até maio, a BR-020, na altura de Sobradinho, liderou a quantidade de acidentes fatais, com seis ocorrências no período. Com quatro óbitos, a BR-080 aparece em segundo lugar. No trecho que passa por Brazlândia, um dos mais perigosos, segundo moradores, o ex-deputado Juarezão morreu após perder o controle do veículo e colidir na traseira de um caminhão.
Quem conhece bem o risco da BR-080 é o servidor público Roberto Lima, 41. Ele perdeu 15 amigos por acidentes na região. Há 10 dias, o irmão dele foi uma das vítimas. O motorista Cristiano Lima, 47 anos, conduzia uma moto quando bateu em um carro. Ele foi levado ao Hospital de Base do DF, mas não resistiu. A via é de mão dupla e não tem acostamento. “Há um trecho com uma subida, e os caminhões ficam muito lentos. Quando se tenta ultrapassar, acontecem as piores tragédias. Não tem uma família de Brazlândia que não tenha perdido um ente querido ou que não tenha se acidentado nessa rodovia. É um caso de calamidade”, denuncia.
Por serem federais, as BRs são administradas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). A reportagem entrou em contato com o órgão questionando sobre intervenções para o local, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
Fiscalização
A imprudência ao volante tem se refletido nos acidentes na capital federal. Levantamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF) mostra que, apenas em maio, 86 motoristas foram autuados por dirigir sob a influência de álcool. Um aumento de 32,3% em relação ao mesmo período do ano passado, quando 65 condutores foram flagrados. Segundo a corporação,
5 mil infrações foram registradas no DF no mês passado: 314 por ultrapassagens indevidas; 124 por falta de cinto de segurança; e 44 situações em que crianças não eram transportadas com segurança.
Memória
2019
21 de junho
O ex-deputado distrital Juarez Carlos de Lima Oliveira, o Juarezão, morreu aos 56 anos após se envolver em um acidente na BR-080. Por volta das 18h30, ele dirigia uma caminhonete, quando perdeu o controle do veículo e colidiu na traseira de uma carreta. A vítima foi retirada das ferragens e levada de helicóptero ao Hospital de Base, mas não resistiu.
19 de março
Um motociclista de 36 anos morreu após ser atingido por um carro, na DF-003 (Epia Sul), sentido Gama, por volta das 15h. A vítima, identificada como Daniel Eduardo da Silva, morreu na hora. Segundo informações da Polícia Civil, por causa da chuva, o motorista do automóvel, de 24 anos, perdeu o controle e atingiu a vítima.
16 de março
Um motociclista de 38 anos morreu ao perder o controle da direção em uma curva no Km 20 da DF-001. O acidente aconteceu por volta das 15h30, próximo ao Altiplano Leste, no Paranoá. Higor Ribeiro da Silva colidiu com uma estaca de concreto e não resistiu. Quando o Corpo de Bombeiros chegou ao local, a vítima não tinha sinais vitais.
17 de fevereiro
Um ciclista de 61 anos morreu ao ser atropelado na DF-001, no Recanto das Emas. Luiz Deo de Castro estava sem vida quando o Corpo de Bombeiros chegou ao local do acidente. De acordo com a Polícia Militar, o motorista responsável pelo acidente havia ingerido álcool. Ele não sofreu ferimentos.
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