Montreal está em busca de brasileiros; conheça opções de estudo e trabalho

Interessados em estudar ou trabalhar e, depois, até migrar para a segunda maior metrópole canadense vão encontrar “portas abertas”. É o que garantem representantes de empresas, universidades e agência de desenvolvimento locais. A cidade é a melhor para estudantes de todas as Américas e a quarta em nível mundial e tem oportunidades, especialmente, na área de tecnologia

 

 

Interessados em estudar ou trabalhar e, depois, até migrar para a segunda maior metrópole canadense vão encontrar “portas abertas”. É o que garantem representantes de empresas, universidades e agência de desenvolvimento locais. A cidade é a melhor para estudantes de todas as Américas e a quarta em nível mundial e tem oportunidades, especialmente, na área de tecnologia
A crise, o alto desemprego e o congelamento de concursos… Todos esses são motivos que têm levado um número cada vez maior de brasileiros a se interessar por estudar ou trabalhar no exterior, de modo temporário ou até definitivo. Também tem crescido a quantidade dos que escolhem Montreal, no Canadá, como destino. Uma das principais razões é o fato de a cidade-sede do Cirque du Soleil ser uma das melhores para estudantes do mundo. Nos rankings da consultoria QS, a segunda maior metrópole do Canadá e lar da banda de indie rock Arcade Fire e do estúdio de mídia Moment Factory costuma aparecer na dianteira.
Em 2017, Montreal ficou em primeiro lugar mundial, desbancando Paris. Em 2018, a cidade natal da cantora Celine Dion foi a quarta colocada global, mesmo assim, à frente da capital francesa, que apareceu na quinta colocação. Apesar de ter perdido algumas posições no cenário internacional, o maior município do estado de Quebec é avaliado como o melhor para estudantes de todas as Américas. Em 2018, também foi considerada a segunda melhor cidade do mundo para millenials, atrás só de Berlim, pelo Nestpick, site que opera mundialmente como agregador de opções de acomodação. O Correio viajou até lá para entender os motivos e mostrar oportunidades disponíveis para brasileiros.

Interesse em alunos de fora

Tanto empresas quanto universidades estão em busca de prodígios do exterior. “O número de alunos internacionais dos mais diferentes destinos está crescendo muito por aqui, e o motivo é a qualidade das instituições. A presença da população local nas universidades é relativamente baixa, por isso elas atraem talentos de fora”, esclarece Mathieu Lefort, diretor de Estudantes Internacionais da Montréal International, agência de promoção econômica da localidade. “Outro fator de atração é que aqui é um bom destino para estudar inglês e francês. Você pode vir com um nível básico de francês e melhorar depois”, observa. Enfrentar invernos rigorosos pode ser um desafio maior para quem não tem costume com o clima do Hemisfério Norte. Então, as instituições fazem grande esforço para ajudar os estrangeiros, por exemplo, com eventos de integração. “Tentamos construir um senso de comunidade, com muitas atividades, especialmente durante os períodos sem aula, como verão e Natal, em que eles poderiam se sentir mais sozinhos”, completa Mathieu.

Vantagens

Segundo Hubert Bolduc, CEO da Montréal International, alguns dos principais atrativos são o fato de a cidade ser financeiramente acessível, além de amigável para estrangeiros, com boa parte da população sendo composta por imigrantes. Outro fator importante é a educação de alta qualidade, concentrando algumas das melhores universidades, e a permissão para quem vem de fora estudar e trabalhar (algo que não é realidade em muitos outros países). Trata-se de uma cidade cuja língua oficial é o francês, mas, na prática, é possível se virar falando inglês.
“Por tudo isso, metade dos alunos internacionais quer ficar aqui após terminar os estudos”, aponta Hubert. “Independentemente de cor de pele, gênero ou religião, você pode vir e ser bem-sucedido aqui e ninguém vai te apontar o dedo.” A taxa de desemprego, de 6,1%, é bastante baixa, portanto, torna-se mais fácil conseguir uma oportunidade de emprego. Tradicionalmente, o Canadá é um país aberto para imigrantes. Com a população local envelhecendo e em queda, a nação da América do Norte precisa atrair pessoas de fora para continuar a se desenvolver. Montreal não foge disso e tem se tornado particularmente interessante pelas facilidades para quem deseja ir estudar, trabalhar e se estabelecer por lá.
 
“No passado, as companhias poderiam preferir os trabalhadores locais, mas, hoje, a oferta não é tão farta, então quem vem de fora e é qualificado consegue vaga”, comenta. “Montreal está tendo um grande crescimento econômico. E atribuímos isso ao pool de talentos que existe aqui, composto por trabalhadores locais e internacionais. São pessoas multiculturais, muito preparadas e dispostas a se mudar.” Em dezembro do ano passado, recrutadores de empresas locais estiveram em solo brasileiro em busca de profissionais em campos como tecnologia da informação (TI). Segundo Martin Goulet, vice-presidente de  Talentos internacionais da Montréal International, as avaliações foram positivas. “Todos os representantes de companhias ficaram muito, muito felizes com os candidatos brasileiros, pela experiência e pela qualidade deles”, observa.
Tanto é que há trabalhadores como Vinícius Toná, 29 anos, que conseguiram emprego com relativa facilidade. Ele nunca tinha saído do Brasil até os 25 anos e resolveu ir para Quebec fazer um estágio mediado pela Aiesec. Lá, começou a trabalhar e a aprender francês, até porque dominar a língua é um dos requisitos para conseguir imigrar. “Tem muito suporte do governo e as melhores aulas que tive do idioma  foram públicas. Demorei uns dois anos para aprender a língua”, conta. Graduado em análise e desenvolvimento de sistemas pela Unicesumar, em Maringá, com especialização em java e em desenvolvimento web pela mesma instituição, ele atua hoje como desenvolvedor de software da startup LogMeIn, que tem uma unidade em São Paulo também.
“É a melhor empresa em que já trabalhei, e a conheci procurando companhias com excelentes avaliações na internet. A seleção era composta por uma conversação, uma prova de programação e uma chamada por vídeo”, afirma. Vinícius começou a trabalhar no local em novembro de 2017. Algumas das vantagens oferecidas pela LogMeIn são a possibilidade de trabalho remoto (que Vinícius aproveita quando viaja ao Brasil para visitar os pais) e de férias ilimitadas (o funcionário escolhe quanto quer tirar de recesso a cada ano). Antes disso, trabalhou por mais de dois anos em outra empresa de tecnologia em Montreal.
Hoje, está totalmente adaptado ao local e se casou com uma filipina que vive no Canadá desde pequena. François Biron, analista sênior de RH da LogMeIn, explica os critérios de seleção da companhia. “Independentemente de a pessoa ser ou não daqui, recrutamos quem sabe trabalhar. Nós avaliamos vontade, curiosidade e capacidade de resolver problemas”, informa. O escritório em Montreal tem uma equipe de 75 empregados e cinco estagiários. Um terço dos colaboradores é formado por estrangeiros. “Não sei por que, mas os brasileiros se adaptam muito bem aqui. Eles são muito interessados”, elogia.

Hub tecnológico

Segundo a Montréal International, a quantidade de estudantes internacionais na cidade cresceu 21% entre 2015 e 2018. As 11 universidades, mais de 60 faculdades e 50 unidades de ensino técnico recebem alunos interessados em estudar os mais diferentes campos do saber. No entanto, a metrópole se destaca por oferecer empregos nas áreas de inteligência artificial, desenvolvimento de videogames, engenharia aeroespacial, tecnologias de saúde e ciências da vida, efeitos especiais e animação. “Montreal decidiu focar na economia do futuro”, observa Christian Bernard, economista-chefe e vice-presidente da Montréal International.
Há oportunidades, ele destaca, não só para estudar e trabalhar, mas também para abrir uma empresa. “É um local barato de morar e fazer negócios. O custo de empreender é bem competitivo.” Assim, não é de se estranhar que tantas startups estejam surgindo na cidade, especialmente em áreas ligadas à tecnologia. E há muito incentivo para esse tipo de companhia: mais de 30 incubadoras e aceleradoras dão apoio a negócios do tipo. Muitas empresas do tipo funcionam nos mais de 45 espaços de coworking da cidade. Algumas das startups mais famosas são Hopper, de reserva de voos e hotéis, e Element AI, de inteligência artificial. “Montreal era conhecida como centro de diversão e gastronomia, mas não como lugar de investimento. Isso está mudando. Nos últimos anos, 35 grandes empresas investiram em inteligência artificial aqui”, diz Hubort Bolduc.
“Escolhi o Mila porque é uma referência na área.” Tudo começou com Hansenclever enviando um e-mail para Yoshua Bengio. Há dois anos, o contato se aprofundou quando ele visitou o laboratório canadense e quando um representante do Mila visitou a UFPE. “Foi quando decidimos fazer esse estágio de colaboração.” O professor conseguiu liberação da universidade e mantém o salário que recebia no Brasi. Ele veio de Recife acompanhado da mulher e do filho, de 4 anos. “Foi uma aprendizagem imensurável para mim. É um ecossistema educativo muito bacana”, comenta. Ele também ganhou em conhecimentos linguísticos. “Forneceram dois cursos de francês para mim e eu já tinha começado a estudar no Brasil pensando em vir para cá durante esse período. Hoje, consigo me comunicar na rua, virei proficiente no dia a dia.”

Voltando para o Canadá

Sophia Zaia, 29, estudante de mestrado em ciência política na Université de Montréal, já tinha uma relação com o Canadá. Durante o ensino médio, ela fez intercâmbio pela Rotary International em Winnipeg. Sophia tem uma coleção de experiências no exterior. Graduada em relações internacionais pela UniCuritiba desde 2014, fez dois intercâmbios acadêmicos durante a faculdade: em Coimbra, em Portugal; e em Winnipeg, com bolsa do governo canadense. Ela fez também mestrado em relações internacionais em Londres, com bolsa. Ela correu atrás de voltar para o Canadá, desta vez, para Montreal.
 “É uma cidade fantástica, grande e acessível”, comenta ela, que conseguiu uma insenção de taxas na mensalidade. A jovem chegou a fazer estágio e monitoria e, agora, trabalha como pesquisadora num projeto para aumentar a qualidade de vida em Montreal a partir do design. Para economizar, a estudante procura promoções antes de comprar e come em lugares baratos. “A dica que eu daria para quem quer vir é pesquisar bastante as opções, planejar, fazer uma lista de prós e contras e entender que não vai ser fácil. Chegando aqui, o conselho é buscar opções de integração e não se isolar.” Ela destaca que isso é especialmente importante no inverno.

Talento valorizado

A brasileira Carla Simon, 28, conseguiu trabalho na mesma universidade onde fez mestrado em estudos internacionais com uma bolsa parcial:  Université de Montréal. Hoje, ela é conselheira de admissão e recrutamento. A universidade tem 103 anos e está entre as 100 melhores do mundo. No total, são 45 mil estudantes, dos quais 9.316 são estrangeiros,  de 120 países. A instituição conta com 2.700 professores e 600 cursos.
O interesse por Montreal surgiu graças ao amor por aprender idiomas. Carla combinou com o marido, na época namorado, Rafael Becker, 42, de passar uma temporada fora para se aperfeiçoar. Em busca de um lugar onde ela pudesse treinar o francês e ele, o inglês, o casal encontrou, em Montreal, o destino ideal. Depois de um intercâmbio linguístico de quatro meses, os dois voltaram ao Brasil, em 2014, mas se deram conta de que queriam voltar. Então, Carla, que é jornalista pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), veio estudar, e o marido trabalhar (primeiro, como carregador de caixas e, depois, com representação de vendas). “Nada foi fácil”, explica. “Ninguém vai bater na sua porta e perguntar: ‘quer uma bolsa?’ Fiz muita pesquisa, fui atrás de professores, estudei muito francês. Tudo isso faz diferença.”

Visto duplo

Montreal é considerada financeiramente acessível para estudantes, especialmente em comparação com outras cidades universitárias da América do Norte. O custo de vida por lá é, inclusive, inferior ao de São Paulo e Rio de Janeiro, apesar de mais caro do que em Brasília. Além dos preços mais em conta, outro fator bastante atrativo é a possibilidade de conciliar trabalho e estudos, que é inexistente para estrangeiros em vários outros países. “Quem está estudando pode trabalhar 20 horas semanais durante o semestre e 40 horas semanais durante as férias”, explica Martin Goulet, vice-presidente de Talentos internacionais da Montréal International. “E não há restrição com relação a qual trabalho, que pode ou não ser na sua área de formação: pode ser tanto numa cafeteria quanto num escritório de advocacia”, exemplifica.
“O que é muito bom porque o custo de vida aqui não é tão alto, então esse é um ótimo jeito não só de se sustentar, mas também de juntar dinheiro”, completa Mathieu Lefort, diretor de Estudantes Internacionais. Além disso, depois que termina uma formação, seja graduação, seja pós-graduação, o estrangeiro pode conseguir permissão para ficar o mesmo período do curso apenas para trabalhar — algo que também inexiste em muitos outros países. Em 2015, por exemplo, foram emitidas 4.400 autorizações de trabalho para pessoas de outras nações que fizeram faculdade ou pós em Montreal. Em 2018, foram 7.500. Esse tipo de licença pode ser renovado e, após cinco anos, existe a possibilidade de requisitar o equivalente ao green card canadense, ou seja, moradia permanente.
O engenheiro mecânico pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Emanuel Maracajá, 28, tem aproveitado oportunidades de estudo e trabalho em Montreal. Ele fez mestrado em eficiência energética e energias renováveis na École de Technologie Supérieure. “O que abriu minha cabeça para procurar algo fora foi a crise de 2015, justamente o ano em que eu me formei. Na época, estava muito difícil para engenheiros jovens arranjarem emprego e, quando conseguiam, era com baixos salários”, conta.  Ele pensou em duas opções: Canadá ou França. Isso porque tinha certificado de proficiência em francês por ter feito um intercâmbio durante a graduação em Lyon.
O mestrado todo, de dois anos, custou cerca de 20 mil dólares canadenses. “Vim com ‘paitrocínio’, mas também trabalhei para ajudar nos custos”, conta. Atualmente, ele é analista numa consultoria em eficiência energética de prédios. Durante o curso, porém, ocupou outros empregos: foi, por exemplo, garçom numa churrascaria brasileira, levando espetos à mesa. “Para não deixar toda a carga com os meus pais, eu fui trabalhar para pagar pelo menos aluguel e comida”, diz. Ele observa que muitos brasileiros vão para o exterior pensando que viverão num mar de rosas. “É preciso pesar o que tem de facilidade e dificuldade. Nenhum país é um paraíso sempre, há desafios, mas, se você se esforça, há retorno”, pondera. Ele próprio sofreu durante os primeiros invernos para se adaptar. “Você não pode ficar muito tempo fora, tudo o que você faz é dentro de casa ou dentro de um prédio. O grande problema não é a temperatura, mas o que isso gera”, explica.
“Ao fim de um ano, tive depressão, tranquei o curso por um trimestre e voltei para João Pessoa. Eu cheguei à conclusão de que ou parava aquela hora ou não conseguiria ir até o fim”, diz. Depois de quatro meses, voltou recarregado. “Você precisa procurar atividades de inverno, para não ficar em casa o tempo todo”, comenta. Um aspecto positivo que ele cita é que os brasileiros são muito bem recebidos. “Eu nunca tive problema de discriminação.” A convivência com colegas canadenses é boa, mas ele percebe que são pessoas mais fechadas. Emanuel, que hoje divide um apartamento com a namorada, descreve Montreal como uma cidade jovem, moderna, visionária e multicultural.

Experiência em casal

Quem deseja vir estudar no Canadá acompanhado do cônjuge consegue permissão para que o marido ou a mulher trabalhe em Montreal. Essa foi a opção de Alessandra Gallani, 32, estudante de mestrado em nutrição da Université de Montréal, e do marido, o engenheiro mecânico Vinicius Gobbo, 29. “Eu vim, inicialmente, para estudar e ele, para trabalhar. E viemos para cá por existir essa possibilidade de imigrar. Nos casamos em julho de 2017 e chegamos aqui em novembro daquele ano”, comenta Alessandra, graduada em ciência dos alimentos pela Universidade de São Paulo (USP). Os dois moravam em Piracicaba. Não foram poucos os desafios enfrentados, desde confusão com o valor da mensalidade (Alessandra veio pensando que era um, mas era outro, bem mais alto e acabou tendo de trancar um trimestre), passando pela dificuldade para que Vinicius encontrasse emprego (o que demorou cerca de seis meses), chegando à barreira do idioma (eles tinham nível básico em francês).
No entanto, com dedicação e perseverança, conseguiram enfrentar os obstáculos. Apesar de não gostar de frio, Alessandra adorou o inverno e aproveitou para fazer atividades diferentes, como um curso de ioga na neve, além de visitar um parque nacional. “A vantagem é que aqui tem muita estrutura para isso. Eu sofria mais com o frio no Brasil do que aqui”, diz. Montreal conta com o maior complexo urbano subterrâneo do mundo, chamado de “cidade subterrânea”, com mais de 32km de túneis, que permitem aos pedestres ir a vários lugares sem ter de ficar expostos a baixas temperaturas. Atualmente, Alessandra se engaja com trabalho voluntário e tem muitos amigos, muitos deles estrangeiros. “Acho que demora mais para fazer amizades com canadenses”, percebe. “A dica que eu daria para quem quer vir é se informar muito mesmo antes de viajar, além de chegar aqui com a cabeça aberta, sem estar preso às referências do Brasil. Aqui é preciso começar tudo de novo e ser humilde para lidar com uma nova vida, estando disponível para mudanças.”

Doutorado canadense

Gabrielle Silva Mota Drummond, 29, e Aline Faria, 28, fazem doutorado em comunicação na Université du Québec à Montréal (Uqam). A instituição tem 50 anos de existência, 40 mil estudantes, dos quais 71 são brasileiros. São 300 cursos, entre eles 140 de pós-graduação. As especialidades da universidade são as áreas de humanas, incluindo comunicação, direito, artes, educação e ciência política, mas também ciências naturais. Gabrielle economizou muito do que ganhava trabalhando como jornalista no Brasil para viajar: ela veio, primeiro, para fazer mestrado e, depois, engatou o doutorado.
“Eu juntei uns R$ 10 mil, que não era muita coisa. Então, chegando aqui, teria de arranjar um jeito de me virar. Fui atrás de informação e de benefícios disponíveis na universidade”, explica. Graças a ter corrido muito atrás, a goiana de Piracanjuba que fez faculdade na Universidade Federal de Goiás (UFG) conseguiu diversas bolsas. “Também trabalhei na universidade”, conta ela, que imigrou para o Canadá com o marido, Danilo Durmmond, 30.
Aline também veio com o esposo, Pedro Paiva, 28. A dica dela para quem está pensando em estudar em Montreal é, antes de tudo, pesquisar. “Meu conselho é procurar a universidade e os professores que se encaixam no que você quer estudar e, a partir disso, tomar as providências (se inscrever, enviar os documentos) o mais rápido possível porque o processo de visto pode ser demorado”, diz. “A parte mais difícil para nós, brasileiros, é o inverno longo e rigoroso. Então, nesse período, procure fazer atividades, não fique fechado em si mesmo. Isso é muito  importante para a adaptação”, aponta.

Engenheiros bem-aceitos

A Polytechnique Montréal é especializada em engenharia e forma 25% dos engenheiros do estado de Quebec. Dos 8 mil alunos, 38 brasileiros, um número que só tende a crescer. Os estudantes tupiniquins são tão valorizados na universidade que uma das conselheiras de atração de estudantes, Maude Bourassa, é fluente em português e, há 10 anos, faz viagens ao Brasil em busca de alunos, como Laura Paim Pressi, 31 anos, estudante de mestrado em engenharia química na instituição. Engenheira química pela PUC-RS desde 2014, ela a conheceu em uma feira de estudos para o Canadá, em 2017.
“Eu queria ir para um lugar onde pudesse fazer um mestrado e, depois, ter a chance de ficar. Estava em dúvida entre Canadá e Austrália”, explica. Laura chegou a se preparar para tentar estudar no país, validou diploma, mas deixou o projeto de lado por um tempo. “Eu trabalhava na Petrobras, pedi demissão a fim de entrar para a carreira acadêmica e acabei engavetando a possibilidade de ir para o exterior porque comecei a trabalhar numa empresa de tecnologia”, conta. Tudo mudou quando recebeu um telefonema da Maude. “Levei um susto ao ver um número de Montreal na tela do celular. Ela me disse que um professor receberia uma bolsista brasileira, que acabou desistindo.”
Laura foi convidada para assumir o lugar dela. Depois de conversar com o docente em questão e entender o projeto de pesquisa, aceitou a proposta. “Ele precisava de alguém que viesse rápido e, isso casou bem porque eu já tinha todos os documentos necessários.” Entre a ligação que marcou a vida dela e a vinda para o Canadá, passaram-se cinco meses. Ela chegou em 25 de dezembro de 2018. “As mensalidades (anuais) da universidade são bem caras. O primeiro ano, com plano de saúde, dá em torno de 20 mil dólares canadenses e, no segundo ano, 9 mil dólares canadenses. Eu já estava juntando dinheiro para fazer esse investimento por conta própria e, com a bolsa, foi muito melhor”, comemora.
O benefício cobre apenas as mensalidades, então custos de alimentação e residência ficam por conta de Laura, que pesquisa energias renováveis. Ela conseguiu um trabalho de meio período como assistente de pesquisa na própria universidade que ajuda a pagar as contas. “Nenhum dos desafios, como o idioma ou o frio, é maior que os benefícios, como a segurança. Eu moro sozinha com meu cachorro, que trouxe do Brasil, saio a qualquer hora tranquila”, compara. A engenheira não fala francês, então aproveita a oportunidade para aprender a língua. “Eu estou adorando a experiência, vai além das minhas expectativas”, diz.

Bolsista

Bruno Alves, 29, faz doutorado em engenharia elétrica na Polytechnique desde 2017 com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O benefício cobre as mensalidades e dá uma ajuda de custo de 1.470 dólares canadenses. “Dá para viver bem com isso”, explica. Graduado em engenharia de produção elétrica pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com intercâmbio acadêmico também com bolsa da Capes na França, ele fez mestrado em modelagem eletromagnética também na UFSC.
“Depois do mestrado, decidi que queria fazer o doutorado fora. Troquei e-mails com a Maude e com dois professores antes de vir.” Praticamente todas as atividades do departamento em que Bruno atua são em francês. Aqui, ele conheceu muitos brasileiros. “Eu me sinto mais acolhido aqui do que na França pelo fato de haver muita gente de fora”, diz. Depois de se tornar doutor, Bruno precisa voltar para o Brasil e ficar pelo menos quatro anos como requisito para ser bolsista da Capes.
“Mas não digo que não tenho intenção de voltar porque a qualidade de vida é muito superior. Além disso, as pessoas daqui não interferem na sua vida, mas, quando preciso, estão lá para te ajudar”, comenta. “Já peguei dois invernos aqui. Em um deles, a sensação térmica chegou a -40ºC, mas Montreal está muito preparada para isso”, afirma. Segundo a conselheira Maude, alunos que vêm do Brasil, como Bruno, são “maravilhosos” tanto como profissionais como pesquisadores. “São pessoas que, em geral, se adaptam muito bem aqui.”

As 11 universidades de montreal

» McGill University
» Université de  Montréal (UdeM)
» Université  Concordia
» Polytechnique  Montréal
» Université  du Québec à Montréal (Uqàm)
» École de  Technologie Supérieure (ÉTS)
» École des Hautes  Études
Commerciales de Montréal (HEC)
» École  Nationale d’Administration
Publique (Enap)
» Institut  de Tourisme et d’Hôtellerie du Québec (ITHQ)
» Institut National de la Recherche
Scientifique (INRS)

Saiba mais

Desde 1996, a Montréal International facilitou 71 mil empregos e forneceu orientação para mais de 11 mil trabalhadores estrangeiros. Em 2018, ajudou a recrutar 640 profissionais e alcançou 10.442 estudantes internacionais. Confira mais no site. Um dos projetos da entidade é o I choose Montreal. Descubra mais sobre opções de estudo, trabalho e migração para Montreal no link.

Visão de recrutadores

O que é preciso para ser aceito como aluno em universidades de Montreal? Porta-vozes de instituições explicam
Michel Lemay, diretor de recrutamento da HEC Montréal, observa que se trata da escola de negócios mais antiga da América do Norte, com mais tempo de funcionamento do que a Harvard Business School. “No total, temos 14 mil estudantes. Em alguns dos nossos programas, 50% são estrangeiros — principalmente vindos de França, Marrocos, Tunísia e Suíça, pois exigimos elevado nível de francês, mas recebemos alunos de todas as partes do mundo, e ainda temos sete cursos em inglês”, afirma. “O que buscamos nos candidatos? Valorizamos diversidade de países e áreas de formação: queremos gente de comunicação, de RH, de engenharia…”, aponta. “Mas, em suma, queremos pessoas brilhantes, que foram bem-sucedidas em suas áreas de atuação e estão em busca de se especializar.”
Vincent Allaire e Emily Love trabalham na McGill University, que tem mais de 200 anos. É a universidade mais antiga de Montreal e uma das que funcionam totalmente em inglês. Eles explicam que o forte da instituição são as áreas de medicina, direito, negócios, engenharia, ciência e sustentabilidade. “Nós somos uma universidade de estudantes fortes, então o que mais valorizamos são boas notas, mas atividades extracurriculares também são um ótimo jeito de construir seu currículo”, destaca Vincent, que atua no Departamento de Relações com a mídia. Emily, gerente de Desenvolvimento de estudantes internacionais e comunicação, observa que a habilidade de liderança também é valorizada. No momento, 12.533 estudantes estrangeiros estão matriculados na McGill, dos quais 150 vêm do Brasil. No total, são cerca de 40 mil alunos.
Emily e Vicent,da McGill(foto: Ana Paula Lisboa/CB/D.A Press)
Emily e Vicent,da McGill(foto: Ana Paula Lisboa/CB/D.A Press)
Cindy Tam, oficial de Recrutamento de Alunos da Concordia University, revela que há 52 brasileiros matriculados na instituição no momento.  “São pessoas superengajadas e muito participativas”, comenta Cindy. A instituição, como a McGill, funciona totalmente e exclusivamente na língua inglesa. A unidade tem cerca de 46 mil alunos. Segundo Cindy, o que mais conta na hora da seleção são as notas.
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