Ainda em debate, a reabertura das escolas pelo país exigirá planejamento e preparo para evitar infecção descontrolada. No ensino superior, começa a movimentação pelo retorno nas universidades, que será remoto, no primeiro momento
A volta às aulas é um assunto delicado em meio à pandemia que atinge o Brasil. Apesar das ressalvas dos especialistas, a movimentação pelo retorno do ensino presencial começa a acontecer em alguns locais. A perspectiva assusta alguns pais e preocupa médicos. Outro ponto que ainda não ficou claro são os protocolos estabelecidos para o retorno. Segundo o Ministério da Educação (MEC), além de um parecer elaborado pelo Conselho Nacional de Educação e homologado no início de junho, foi divulgado um Protocolo de Biossegurança para o retorno às escolas.
No protocolo divulgado fala-se em distanciamento social seletivo, e o texto ressalta a importância de se cumprirem os protocolos de biossegurança para garantir a eficiência do isolamento. “O conceito de biossegurança é o conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, visando a saúde do homem, dos animais, a preservação do meio ambiente e a qualidade dos resultados”, informa a cartilha preparada pelo MEC.
Recentemente, o Conselho Nacional de Educação aprovou um parecer que apresenta orientações para a retomada das atividades de forma gradual. O documento seguirá para ser homologado pelo MEC.
No Colégio Militar de Manaus, os cuidados para a volta dos estudantes também estão sendo pensados com antecedência. Na semana passada, houve uma visita de acompanhamento com o objetivo de verificar a adequação das instalações. Ainda na ocasião, houve um exercício de simulação da entrada dos alunos com participação de soldados do colégio.
Apesar da movimentação, médicos e pais de alunospreocupam-se com o controle das aglomerações entre os estudantes. “Temos de lembrar que estamos dentro de um contexto da comunidade. Se estamos preocupados com o aumento do número de casos, as escolas estão inseridas nesse contexto”, pondera a infectologista Valéria Paes, membro da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal. “O controle em relação às medidas necessárias para evitar o contágio são muito difíceis. Já são difíceis para os adultos, para as crianças a situação é bastante complicada.”
Esse também é receio da médica Daniela Louro, de 43 anos, que tem dois filhos, um menino de 9 anos e uma menina de 11. “Como mãe e médica, tenho muito medo da volta às aulas presenciais no DF. Acho difícil manter o distanciamento social entre crianças durante o período na escola, além da pouca idade e maturidade para o adequado uso das máscaras e a correta higienização das mãos”, avalia. “Embora ambos sejam orientados em relação ao coronavírus e como evitar contrair a doença, é difícil seguir à risca as orientações.”
Mesmo com todas as medidas de segurança, há risco de contágio, Valéria Paes. “Até o gesto de beber água pode ser perigoso. Esse retorno vai requerer muita gestão e organização”, diz. “As crianças podem adquirir o vírus e apresentarem sintomas leves, porém, acabam fazendo parte da cadeia de transmissão”.