Insegurança: a cada dia, DF tem ao menos quatro assaltos a ônibus

Na quarta-feira, um motorista foi baleado no rosto por ladrões. Profissionais dizem que caso não é isolado e reclamam da violência

 

o medo acompanha motoristas, cobradores e passageiros do Distrito Federal que dependem dos ônibus para se locomover na cidade. Dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) apontam que, somente nos primeiros nove meses de 2019, foram registrados 1.209 roubos a transporte coletivo. A média é superior a quatro assaltos por dia.

Na quarta-feira (23/10/2019), a violência e a insegurança diárias foram registradas em vídeo e por pouco na houve uma tragédia. As câmeras de um ônibus da empresa São José flagraram o momento em que o motorista Elson Ferreira, 29 anos, foi baleado no rosto durante assalto.

Nas imagens, é possível ver o clarão provocado pelo disparo e o momento em que o profissional bate no muro de uma chácara localizada no Sol Nascente, em Ceilândia, após perder o controle do coletivo. Os três assaltantes roubaram a cobradora e fugiram. Em seguida, foram presos.

Os criminosos não chegaram a anunciar assalto e atiraram. Após o disparo, desceram correndo em direção a uma das ruas que corta o condomínio Novo Horizonte. A ocorrência foi registrada na 23ª Delegacia de Polícia (P Sul), onde o caso é tratado como tentativa de latrocínio. Até a noite de quinta (24/10/2019), o motorista seguia internado em estado grave.

Entre os colegas de profissão, o sentimento é um misto de revolta com o ocorrido a Elson e medo de que a situação se repita com outros profissionais.

O motorista José Arnaldo Pereira da Costa, 49, por exemplo, já foi assaltado duas vezes durante o trabalho. Em uma das ocorrências, ele levou um tiro no braço esquerdo. Na outra, foi golpeado com uma facada no pescoço. “Por um milagre, o nosso colega de profissão não morreu”, comentou.

Devido ao trauma, Costa quis sair da linha em que era condutor. “Estou trabalhando há seis anos atrás do balcão. Recebemos críticas, somos xingados constantemente, mas, pelo menos, não corremos o risco de morte. Contamos apenas com a proteção de Deus. A segurança pública não faz nada por nós. Estamos desamparados”, disse.

ANDRE BORGESAndre Borges/Esp. para o Metrópoles
José Arnaldo da Costa mostra cicatriz da agressão: baleado no braço

Para Francisco de Paulo, 56 anos, também motorista da empresa São José, que faz uma das linhas para a Cidade Estrutural, o que aconteceu com o amigo na quarta-feira pode se repetir em qualquer região do DF.

“Sofremos com a insegurança todos os dias. Sabemos as histórias dos que estão aqui ainda. E os que já se foram? São dezenas de rodoviários morrendo a cada ano. Até para registrar ocorrência, somos discriminados. A polícia sabe quem são os assaltantes. Prendem e logo soltam de novo. Eles estão livres para cometer novos crimes”, desabafa.

ANDRE BORGESAndre Borges/Esp. Metrópoles
O motorista Francisco de Paulo lamentou: “Sofremos com a insegurança todos os dias. Sabemos as histórias dos que estão aqui ainda.”

A estudante Ana Caroline Santos, 17, é moradora de Ceilândia e passageira do transporte público. “Graças a Deus nunca fui assaltada. Mas sei que sou minoria. Os relatos mais frequentes demonstram o contrário. Nós contamos com a sorte para nada ocorrer. Os funcionários trabalham com pânico. Minha mãe já foi vítima. O assaltante estava sentado ao lado dela e apontou a arma para o meu irmão, de 11 anos”, relatou.

ANDRE BORGESAndre Borges/Esp. para o Metrópoles
Ana Caroline: irmão de 11 anos já teve arma apontada para a cabeça
Sequelas

Atualmente trabalhando como despachante da Urbi, Jeferson Gomes de Melo, 40 anos, disse ter sido assaltado quando era motorista, em 2015, e conta as marcas deixadas pela ação dos bandidos.

“Levei cinco facadas no braço. Hoje, sou deficiente. Fiquei encostado pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e voltei como despachante. Falta a iniciativa do poder público de querer resolver o problema. Quantos mais precisarão ser vítimas para que a segurança pública passe a agir com o seu dever?”, queixa-se Jeferson.

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Jeferson Gomes de Melo, 40 anos, levou cinco facadas e perdeu parte dos movimentos do braço

Na manhã de quinta-feira (24/10/2019), o aposentado Antônio Bezerra de Sousa, 64, pegava um coletivo da Rodoviária do Plano Piloto para ir a Samambaia. Ele cobrou mais atenção do governo para a situação.

“Como faço o trajeto todos os dias para Samambaia, ouço muitos casos de assalto. Alguns nem chegam ao conhecimento das autoridades. Geralmente, são adolescentes. Entram, levam tudo dos passageiros e descem nas vias. Precisamos de uma solução. A polícia tem que marcar em cima”, cobra Antônio.

Andre Borges/Esp. para o Metrópoles
Aposentado, Antônio cobra ação das autoridades
Manifestação

Na manhã de quinta-feira (24/10/2019), trabalhadores da São José fizeram um protesto contra a falta de segurança. As paradas de ônibus ficaram cheias de passageiros à espera dos coletivos.

De acordo com a assessoria de comunicação das empresa de ônibus do DF, apenas rodoviários da empresa São José, que atende as regiões administrativas de Ceilândia e Brazlândia, cruzaram os braços.

Os terminais atingidos foram: QNQ, M Norte e Setor O. Depois de três horas, os coletivos voltaram a circular.

Operação Anjo da Guarda

Por meio de nota, a Polícia Militar afirmou que combate a violência no transporte público e em outras áreas por meio da Operação Anjo da Guarda. “O patrulhamento é planejado de acordo com as manchas criminais mapeadas pela Secretaria de Segurança Pública e intensificado nos locais mais vulneráveis”, afirmou.

“Para coibir os roubos dentro dos coletivos, bem como nas paradas de ônibus, a PMDF incentiva ainda a participação conjunta dos rodoviários, da comunidade e da própria corporação em grupos de mensagens, nos quais há troca de informações sobre suspeitos”, disse.

Já a Secretaria de Segurança Pública apontou uma redução de 6,4% nos roubos em transporte coletivo registrados no DF comparando os primeiros nove meses deste ano com o mesmo período de 2018: foram 1.209 ocorrências este ano e 1.292 no anterior.

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