Solteiros, separados, divorciados ou viúvos, homens e mulheres descobrem com a dança que depois dos 60 anos também é possível encontrar um grande amor
Dois para lá, dois para cá: ao ritmo de forró, da valsa e até do brega, não são poucos os casais que encontraram o compasso do amor durante eventos de dança. Nos salões de centros de convivência do Distrito Federal, os idosos redescobrem sentimentos que, em alguns casos, achavam que nunca mais viveriam. Assim aconteceu com Anedina da Silva, hoje com 85 anos. De braços dados com o esposo, Evídio Ferreira Alves, 77, ela garante: não existe idade para ser feliz.
A partir daí o namoro começou e, cinco anos mais tarde, decidiram se casar. “Eu disse a ela que um gostava do outro, então, era melhor casar logo. Conhecia os filhos dela, e eles são incríveis. Eu nunca fui pai; por isso, ganhei uma família maravilhosa. No casamento, deve haver respeito, e isso nós temos”, afirma Evídio. Em 25 de outubro de 2003, quando ela tinha 70 anos e ele, 62, o casal trocou alianças em uma igreja do Guará. Mas não foram os únicos. “Casamos no mesmo dia da minha filha. Fizemos uma grande festa juntos”, diz Anedina. Carinhosa, ela ainda se declara: “Meu primeiro marido foi muito bom para mim, mas olha, esse aqui é ainda melhor”.
Organizadora do forró do Guará, a presidente da Associação dos Idosos da cidade, Maria do Socorro Rodrigues, 79, também encontrou o amor na terceira idade. Há 20 anos, ela divide alegrias e tristezas com Pedro Xavier, de 95 anos. Os dois se conheceram em um posto de saúde. “Minha mãe tinha acabado de falecer e eu estava em depressão. Conheci uma turma de diabéticos e hipertensos onde decidimos fazer um grupo chamado Cabelo de Prata. Foi a partir daí que montamos a nossa associação e eu acabei me encantando pelo Pedro”, recorda.
Apesar da idade, o relacionamento dos dois está longe do estereótipo crochê-dominó. “Nós já viajamos o litoral brasileiro quase inteiro. Fizemos um cruzeiro, fomos ao Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Ficar parado não é com a gente”, afirma Socorro. A agitação, no entanto, está suspensa por enquanto. Pedro se recupera de um quadro de pneumonia, que o fez ficar mais de 10 dias internado. Socorro não contém as lágrimas ao lembrar do namorado doente. “É difícil demais vê-lo assim, ele é muito especial para mim. Certa vez, fui com ele a uma consulta médica. Quando ele saiu, perguntei ao doutor como tinha sido e soube que Pedro falou que tinha perdido a ilusão de viver até me encontrar”, emociona-se.
Novas relações
A psicóloga e professora do UniCeub Carolina Alcântara explica que a idade avançada não impede um novo relacionamento. De acordo com ela, em geral, os homens são mais abertos a iniciar novas relações enquanto mulheres, estatisticamente, ficam viúvas mais cedo, porém, por questões culturais, são mais fechadas. “Como em qualquer idade, a gente quer uma relação para suprir uma falta e há muitos fatores envolvidos: expectativa de vida melhor, alguém para cuidar no final da vida, ou experimentar o que não pôde ter na juventude. Isso pode ser um parceiro de viagem ou alguém para assistir à novela juntos”, pondera.
Ela ressalta que a sexualidade na velhice ainda é um tabu, mas afirma: o desejo existe mesmo com as alterações hormonais. “Existe ainda a atração física. As pessoas acham que não, ou que é algo inadequado, mas é possível, sim, manter a sexualidade viva.” Além disso, o apoio da família é importante nesta fase. “É preciso respeito e se colocar no lugar do outro. A comunicação também é muito importante. É muito gostoso poder encontrar alguém e ter o afeto da família, sem precisar decidir entre um e outro”, relata.
Do assunto, Acelino Martins, 76, e Antônia Ferreira, 69, conhecem bem. Cada um tem quatro filhos. Ela tem, ainda, 13 netos e cinco bisnetos. Mas a turma grande não atrapalha em nada o casal que está junto desde janeiro. A paquera deles começou em um ônibus e hoje continua no ritmo de forró. A dança é a atividade preferida deles. “Um dia pegamos o mesmo ônibus e acabamos sentando juntos. Ele puxou conversa e me chamou pra dançar no dia seguinte, em Ceilândia. Eu topei”, detalha Antônia.
A ousadia de Acelino não parou por aí. Logo depois do primeiro encontro, ele a pediu em namoro. Mais ponderada, Antônia disse que eles poderiam ir se conhecendo aos poucos. Ele complementa: “Fui casado por 47 anos e estou viúvo há um ano e 5 meses. Eu era muito feliz com a minha esposa e sofri muito quando ela se foi. Sentia que não havia mais ninguém para mim. Foi a minha filha que sugeriu que eu fizesse alguma atividade e me levou para dançar a primeira vez”, lembra. Graças a isso, Acelino e Antônia estão juntos e podem se programar para o primeiro Dia dos Namorados deles.
Onde dançar
Os grupos de forró de idosos se reúnem em diversas cidades. Veja onde:
Guará
Onde: Centro de Convivência do Idoso — ao lado da Casa da Cultura
Quando: Segunda e quinta-feira
Horário: das 14h às 18h
Taguatinga
Onde: Ginásio Paradão — atrás da Feira Permanente
Quando: Segunda-feira
Horário: das 14h às 19h
Ceilândia
Onde: Casa do Cantador — QNN 32
Quando: Sábado
Horário: das 19h às 00h
Núcleo Bandeirante
Onde: ao lado do Sesi
Quando: Sábado
Horário: das 14h às 20h