Grupo cobrava R$ 1,5 mil para devolver a motoristas infratores carteiras de habilitação apreendidas pelo Departamento de Estradas e de Rodagem. Pessoas que negociaram com os investigados podem ser denunciados por corrupção ativa
Foco da Operação Trânsito Livre, do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), o esquema de corrupção e de cobrança de propinas no Departamento de Estradas e Rodagens do Distrito Federal (DER/DF) foi investigado ao longo de vários meses pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Na semana passada, com o apoio da Polícia Rodoviária Federal, o órgão deflagrou duas fases da operação e prendeu, preventivamente, três investigados, um deles servidor do DER. As investigações continuam em busca de outros possíveis envolvidos.
O grupo atuava na extorsão de motoristas que tinham a CNH apreendida. Ao identificar o recolhimento dos documentos, eles ligavam para o infrator e ofereciam a possibilidade de não inserir a multa no sistema, destruir a infração e, por fim, devolver a CNH. Em troca, o motorista pagaria propina de cerca de R$ 1,5 mil, valor aproximado à metade do que custaria a multa.
Após descobrir o modo de atuação dos acusados, os investigadores monitoraram diversos encontros entre os suspeitos e os motoristas infratores para a entrega da CNH e para o pagamento da propina. A primeira fase da operação, deflagrada na última quarta-feira, teve como alvos um servidor do DER, a mulher dele e um funcionário comissionado da Secretaria de Segurança Pública.
O planejamento do MPDFT precisou ser acelerado e a operação foi adiantada, porque uma pessoa abordada pelo grupo os denunciou à Polícia Civil. Dois dos suspeitos foram presos em flagrante na terça-feira, mas liberados, após audiência de custódia, um dia depois. Momentos depois da soltura dos dois, no entanto, o MP, com apoio da Polícia Rodoviária Federal, os prendeu preventivamente. Os automóveis usados por eles nos encontros com motoristas também foram apreendidos.
Além dos três integrantes do grupo, uma motorista é alvo da Operação Trânsito Livre. A mulher é suspeita de pagar propina para que uma multa fosse retirada e a CNH retida fosse devolvida. Os investigadores cumpriram mandados de busca e apreensão na residência dela. Na casa, encontraram uma via do auto de infração e outra do extrato do teste de alcoolemia, com a informação de que a motorista se recusou a soprar o bafômetro.
De acordo com as apurações do MP, a condutora combinou com o grupo criminoso que destruiria os documentos. Não havia registro da infração no sistema do DER em razão do pagamento de propina, segundo os investigadores. O MP afirma que há indícios de corrupção ativa.
Outro lado
Em nota, o DER/DF informou que instaurou processo administrativo para apuração das denúncias apresentadas contra o servidor do departamento. O órgão explicou que “após a soltura, (ele) continuará trabalhando normalmente, em outro setor do departamento, até que a investigação das denúncias seja finalizada”.
O funcionário que exercia a função de assessor técnico da chefia de gabinete da Secretaria de Segurança Pública foi exonerado, ainda na semana passada, quando o secretário Anderson Torres soube das evidências de envolvimento dele nos crimes sob investigação pelo Ministério Público. Até o fechamento da edição, não localizamos a defesa dos investigados.
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