“Estou otimista. Tenho de estar. Esperamos um aumento considerável nas vendas, mas ainda aguardamos para ver como o mercado vai reagir de agora para frente”, comenta a empresária Bernadeth Martins, 59 anos. Dona de uma loja de roupas infantis no Jardim Botânico, ela acredita que o recente pagamento de restituições do Imposto de Renda deu um alívio para o setor e vai ajudar no aumento dos lucros de fim de ano. “No primeiro semestre, as pessoas pagam dívidas, colégio, impostos. No segundo, começa a sensação de que dá para voltar a comprar”, compara a lojista, que começou a encomendar itens para as festas de fim de ano.
No ano passado, 49,8% dos comerciantes disseram que aumentariam os estoques para se preparar para o Natal, segundo a Fecomércio/DF. A taxa foi inferior a 2017, quando esse número chegou a 52,6%. A queda, segundo o presidente da entidade, Francisco Maia, decorreu da falta de confiança pelas mudanças de governo. “Em 2018, a crise estava muito grande, e o governo, desacreditado; por isso, tivemos um Natal muito fraco”, afirma o dirigente.
A chance, segundo ele, é de crescimento em relação a 2018. A começar pelo segundo semestre. “As perspectivas estão melhores do que no ano passado. Se o comerciante sabe que não vai ter um Natal bom, ele não compra para abastecer o estoque. O governo precisa movimentar a economia, e estão criando possibilidades. Neste ano, teremos injeção de dinheiro”, acredita Maia.
Cautela
Professor de finanças públicas da Universidade de Brasília (UnB), Newton Marques não recomenda aos comerciantes contar com a liberação dos saques do FGTS e Pis-Pasep. Ele ressalta que não está definido como será a medida, nem se os consumidores usarão o dinheiro extra para pagar contas, gastar ou poupar. “Também é necessário saber qual será o montante liberado. Ainda não dá para termos uma dimensão dos efeitos. Precisamos descobrir quais serão essas medidas para sabermos se terão impactos no consumo”, analisa.
A dica para os lojistas, segundo Newton, é trabalhar com 50% de otimismo e 50% de pessimismo: “A ideia é acreditar que metade das vendas em relação ao ano passado vai acontecer e que a outra metade pode acontecer. Ou o comerciante trabalha com mais encomendas e corre risco ao empatar o dinheiro, ou ele corre o risco de não comprar, ter muita demanda e não lucrar”, explica o professor.
Dono de uma loja de colchões há décadas no mercado, Sebastião Abritta, 49, está otimista em relação ao Natal, mas não espera muita diferença caso os saques sejam disponibilizados. “A proposta entra em um momento bom, mas não sei se vai se converter muito em vendas. A princípio, acho que será mais usado para pagar dívidas. Mas, mesmo assim, isso facilitaria as próximas compras para quem estiver com créditos tomados”, pondera.
Apesar do tempo que ainda falta para o período, o empresário se prepara com o objetivo de oferecer novidades aos consumidores. “Estamos negociando com as fábricas alguns modelos de colchões, edredons e poltronas. Com o dinheiro do 13º salário, muita gente deixa para trocar o enxoval no fim do ano. Normalmente, circula mais dinheiro”, comenta Sebastião. “Os lucros nos últimos anos estão achatados, com a queda do poder aquisitivo e o aumento das tarifas públicas, mas estamos com perspectiva de melhora e fazendo apostas.”
Conjuntura
Presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista/DF), Edson de Castro afirma que a preparação com antecedência é comum no setor, especialmente por causa do tempo até a entrega dos produtos. “Há compras maiores para o estoque justamente para que sobre. Isso gera uma espécie de programação para as fábricas. Os comerciantes precisam receber em setembro, outubro e novembro. Principalmente confecções, sapatos e brinquedos, que são bastante vendidos no fim do ano”, detalha Edson.
Empresária no ramo de roupas femininas, Cristiane Moura, 50, precisa de planejamento em dobro, para a produção e as vendas: “Fabricamos tudo o que vendemos em nossas cinco lojas. Já estamos nos organizando. Estou trabalhando com duas estoquistas que, em outubro, serão vendedoras”. Ela também conta que contratou um consultor para preparar a equipe de vendas. “Esperamos que este ano seja melhor que 2018 e aumentamos a produção para termos um crescimento de 8% a 12% nas vendas”, estima Cristiane.
Presidente da Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra), Jamal Jorge Bittar explica que o setor industrial não reage, necessariamente, com base na demanda dos lojistas. A expectativa de impactos depende mais da conjuntura econômica do país do que das datas comemorativas. “Ainda é muito cedo para falarmos sobre os efeitos. Ramos específicos da indústria têm diferenciação, sim, e se preparam em função do fim de ano e de feriados. Mas, até o momento, não tivemos nada que indicasse um resultado mais robusto. A aprovação de reformas, como a da Previdência (Social) e a tributária, deixa-nos mais otimistas”, considera.
Incentivo
Na quarta-feira, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) anunciou que o governo federal deve liberar, em breve, recursos de contas do FGTS e do PIS-Pasep para saque. O anúncio das regras, porcentagens e modalidades deve ocorrer na semana que vem. A estimativa é de que, neste ano, a soma dos montantes chegue a R$ 63 bilhões.