“Ele estragou minha vida”, diz vítima sobre padre acusado de estupro

Jovem conta que acordou sentindo dores depois de ter sido dopado e diz ter sofrido com medo por anos; “Alívio”, diz após prisão do suspeito

 

Goiânia – “Ele estragou minha vida”. A frase vem do estudante de engenharia JVA, de 23 anos, e sintetiza seu sentimento em relação ao padre Ricardo Campos Parreiras, preso por suspeita de estupro na última quarta-feira (14/7) em Goiás.

“Esse cara tem uma arma de fogo, meu pensamento era só esse”, disse o jovem sobre o momento em que teria sido assediado pelo religioso. As cenas de terror jamais se apagaram da memória do jovem.

A vítima vive no Rio de Janeiro e denunciou ao Ministério Público ter sido estuprada pelo religioso, quando participava de uma viagem missionária com o avô, no interior de Goiás.

O jovem decidiu fazer a denúncia em outubro de 2020, depois de um período de depressão e após tratamento psicológico. Além disso, relata que tinha medo da influência do padre e de sofrer violência, já que, dias antes do estupro, o religioso teria se gabado de ter uma arma de fogo.

“Ele estragou minha vida durante três anos e eu imagino quantas outras vidas não estão sendo estragadas também”, diz JVA, que na época do crime tinha 18 anos.

Estupro

A vítima conta que ficou hospedada cinco dias na casa do padre, dormindo em um quarto mais afastado. O religioso teria oferecido presentes e dinheiro ao jovem nos primeiros dias da estadia, o que deixou a vítima desconfiada.

“Eu tomei metade do suco de uva. Na hora eu pensei: ‘será que esse cara está me dopando?’. Só que depois eu pensei: ‘devo estar viajando, esse cara é um padre, não é possível que ele está fazendo isso, meu avô está dormindo aqui ao lado’”, relembra a vítima.

O estudante de engenharia relata que depois de ter tomado o suco, o religioso teria se aproximado dele e tentado tocar seu pênis por três vezes. O jovem então se afastou e foi para seu quarto dormir. No dia seguinte acordou molhado com um líquido gosmento e com dor no ânus.

A vítima lembra que sentia medo do religioso, enquanto era assediada por ele com toques e conversas de conotação sexual. O padre teria contado que já tinha sido capelão da polícia e que tinha uma arma de fogo. O jovem diz que um dia chegou a ver a arma e dinheiro em uma gaveta aberta no quarto do pároco.

“Por dentro eu pensava: ‘quero matar esse cara, quero sair daqui’. Mas ao mesmo tempo, eu pensava: ‘esse cara tem uma arma”, detalha JVA.

O estudante de engenharia lembra que no começo ficou confuso e demorou um tempo para entender o que tinha acontecido. Inicialmente pensava que a dor no ânus poderia ser algum problema intestinal, mas que aos poucos foi compreendendo.

O jovem lembra que o padre foi até a porta do quarto e pediu para que ele a trancasse, pouco antes do abuso sexual. Isso ajudou a deixar a situação ainda mais confusa. O jovem suspeita que o religioso tinha uma outra chave.

Nos primeiros dias após o crime, ficava desconfiado de todos e tinha medo de dormir com a luz apagada. Depois de um tempo começou a ter flashs do estupro que sofreu. Precisou da ajuda de um psicólogo, que produziu um laudo, anexado ao processo contra o religioso.

“Fiquei igual um feto na cama sem fazer nada, perdi quilos para caramba. Tomava banho de três em três dias. Você fica um lixo. Começa a desconfiar de todo mundo”, diz a vítima.

Alívio

O padre Ricardo está preso preventivamente desde o último dia 14. A prisão foi feita após investigação da Polícia Civil de Goiás, que foi comunicada da denúncia pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.


A vítima diz ter sentido felicidade e alívio quando ficou sabendo da prisão do religioso. O jovem diz que após ter tido coragem de contar sobre o estupro para sua família e para as autoridades, tinha medo de sofrer algum tipo de represália.

“Eu não conseguia dormir à noite. Ouvia um barulho no teto do telhado e achava que era alguém entrando para me matar e matar o meu avô”, descreve o estudante de engenharia.

O jovem diz acreditar que outras pessoas podem ter passado pela mesma situação e espera que elas também tenham coragem de denunciar.

Em contato com a Diocese de Miracema do Tocantins, da qual o religioso faz parte, mas não teve retorno das da entidade até às 16h desta segunda-feira (19/7).

A Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPEGO) recebeu o processo contra o pároco nesta segunda, já que ele não apresentou advogado até o momento. O religioso segue preso no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia.

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