Criminoso não é religioso

Por Profº. Drº. Babalawô Ivanir dos Santos

Bom, primeiro precisamos observar que a região onde está acontecendo as buscas pela captura de Lázaro Barbosa, mais ou menos uns 6 anos atrás, aconteceu violentos e sistemáticos ataques a terreiros de candomblé. Gerando, inclusive, a necessidade da retirada de alguns sacerdotes do Estado para que não fossem assassinados. Na época, a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) acompanhou o caso para dar as ajudas necessárias.

No caso atual é muito curioso as tentativas de ligações do criminoso ao cultos de matrizes africanas como justificativa para invadir, violar e perseguir os religiosos da região uma vez que o próprio sacerdote veio a público explicar que o acusado não tem nenhuma ligação com o terreiro. Estamos observando que uma série de fake news estão sendo fabricadas no intuído de criar um ambiente ainda mais hostil para as religiões de matrizes africanas. 

Criminoso não é religioso. Não há como identificar ou reconhecer peças de rituais africanos ou ligá-lo à qualquer liturgia, como se pudesse legitimar ou justificar tais atitudes. Nenhuma religião prega atos como esses. É um equívoco associar religião a uma pessoa em visível desequilíbrio

O uso de notas e situações inverídicas sobre as religiões de matrizes africanas é, infelizmente, comum no Brasil! Frequentemente associadas ao satanismo, as bruxarias ou construídas de forma negativa no imaginário social coletivo brasileiro, as religiões de matrizes africanas precisam, a todo momento, criar mecanismo de defesa para sobreviverem e resistirem contra séculos de pressões e tentativas de silenciamentos. 

Os casos de perseguições e intolerâncias a qual passamos hoje é fruto do desconhecimento das nossas práticas religiosas alimentadas pelo racismo epistêmico e estrutural.

IVANIR DOS SANTOS – Babalawô, doutor, professor do programa de pós-graduação em história comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro, interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) e Conselheiro Estratégico do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP)

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