Crime da 113 Sul: Tribunal do Júri decide condenar Adriana Villela

Acusada de ordenar o assassinato dos pais, em agosto de 2009, arquiteta foi condenada a 67 anos e 6 meses de prisão em regime fechado. Defesa afirma que vai recorrer

 

O Tribunal do Júri decidiu, na tarde desta quarta-feira (2/10), condenar a arquiteta Adriana Villela a 67 anos e seis meses de reclusão em regime fechado, mais 20 dias de multa. A acusação era de ordenar o assassinato dos próprios pais, o ex-ministro José Guilherme Villela e a advogada Maria Villela, além de Francisca Nascimento Silva, que trabalhava com a família havia 30 anos. Em 28 de agosto de 2009, os três foram esfaqueados até a morte no que ficou conhecido como crime da 113 Sul.
Em nota, a defesa de Adriana disse ter a mais absoluta certeza e convicção” da inocência da ré. Segundo a equipe de advogados, ela foi condenada “sem um fiapo de prova”. “É um erro judiciário colossal e desumano. Iremos ao Tribunal  para reverter esta injustiça”, afirmaram os defensores.
Depois do anúncio da sentença, amigos de Adriana protestaram contra a condenação.

Julgamento

O julgamento começou há 10 dias e foi o mais longo registrado na história do Distrito Federal. Ao longo do júri, 24 testemunhas, sendo 8 de acusação e 16 de defesa, foram interrogadas. Delegados, peritos, familiares e amigos de Adriana compareceram ao plenário para prestar informações sobre o crime.
A aposta da defesa foi uma linha do tempo de onde Adriana esteve no dia do crime. Além disso, apresentaram peritos criminais, que contestaram laudos contidos nos autos do processo. Um deles, Sami El Jundi, contratado pelos advogados, usou técnicas do FBI (Polícia Federal dos Estados Unidos) para reavaliar o caso. Ele indicou que o crime tem sinais de latrocínio e não homicídio.
A acusação contra Adriana foi embasada na confissão dos três condenados pelo triplo homicídio. Além disso, a promotoria apresentou um laudo feito por papiloscopistas da Polícia Civil, que mostra a marca da palmar de Adriana no apartamento dos pais. Segundo o Ministério Público, essa digital é indício de que ela esteve na casa da família Villela no dia do crime. Um exame para comprovar a data dessa marca foi feito, porém, também foi contestado por peritos da defesa.
 No primeiro dia de julgamento, Adriana Villela foi recebida no tribunal por amigos que esperavam ela na portaMinervino Junior/CB/D.A Press
No primeiro dia de julgamento, Adriana Villela foi recebida no tribunal por amigos que esperavam ela na porta(foto: Minervino Junior/CB/D.A Press )

Dia a dia

Relembre o que aconteceu em cada um dos 10 dias de audiências, que somam mais de 100 horas de duração:

23 de setembro

As sessões começaram com o depoimento de uma testemunha de acusação, a delegada aposentada Mabel Alves de Faria Corrêa, que estava à frente da antiga Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida) em 2009. O depoimento durou quase 10 horas. Mabel criticou inconsistências na apuração da 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul), unidade chefiada, à época, pela delegada Martha Vargas.

24 de setembro

Quatro testemunhas foram ouvidas. Renato Nunes Henrique, delegado de Montalvânia (MG), explicou o trabalho durante diligências em 2010, quando três suspeitos de cometer o crime foram presos em Minas Gerais. Michele da Conceição Alves, filha de Leonardo,um dos três condenados pelos assassinatos, afirmou que Adriana mandou matar os pais. Luiz Julião Ribeiro, titular da Corvida à época, disse que Leonardo contou que Adriana estava na cena do crime.

25 de setembro

Ecimar Loli, delegado da Corvida em 201009, foi a sétima testemunha interrogada e detalhou o que ouviu de suspeitos.O procurador de justiça Maurício Miranda leu uma carta de 2006, escrita pela mãe da ré, Maria Villela, que, segundo ele, comprovaria uma má relação familiar. A primeira testemunha de defesa prestou depoimento: Rosa Masuad Marcelo afirmou que Adriana e Maria tinham bom relacionamento.

26 de setembro

A defesa de Adriana apresentou sete testemunhas. Enio Esteves, irmão de um ex-namorado de Villela que morreu em 1983, disse que nunca presenciou brigas entre a arquiteta e os pais. Marcos Menezes Barberino Mendes, primo de Adriana, e Célia Barberino Mendes Sena, tia dela, informaram ao júri que a ré era amorosa. Elimar Pinheiro, professor de mestrado de Adriana, contou ao júri que a acusada era uma boa aluna e chamava atenção pelo dinamismo.

27 de setembro

Rodrigo Meneses de Barros, papiloscopista do Instituto de Identificação (II) da Polícia Civil do DF e testemunha de acusação, produziu um laudo que indica que Adriana mentiu quanto à última data em que ela esteve no apartamento dos pais. Juliano de Andrade Gomes, perito do Instituto de Criminalística (IC) da PCDF e testemunha de defesa, elaborou um parecer técnico sobre o primeiro laudo. A análise de Rodrigo, segundo Juliano, deixou de considerar variáveis que poderiam alterar os resultados.

28 de setembro

A defesa de Adriana apresentou álibis que comprovariam que ela não esteve no apartamento dos pais no dia do crime. Francisco das Chagas Leitão, amigo de faculdade da ré, contou que estava com a arquiteta no dia do crime, em um seminário. Os dois teriam ficado juntos entre 14h e 18h. A amiga Graziela Ayres Ferreira Dias foi a 19ª testemunha a ser interrogada. Ao júri, ela contou que esteve com Adriana no dia dos assassinatos e que teria chegado em casa no fim da tarde ou início da noite, deixando o local às 20h57.

29 de setembro

As duas últimas testemunhas escolhidas pela defesa prestaram depoimento. Os advogados de Adriana levaram um perito criminal para ser ouvido. Sami El Jundi, funcionário do Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul (IGP/RS), fez um “exercício de retrospectiva sobre o caso”. Ele confrontou informações contidas no processo, como laudos periciais de corpo e local. O ministro aposentado do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Pedro Augusto de Freitas Gordilho também depôs a pedido da defesa. Amigo da família Villela desde 1960, ele disse acreditar na inocência de Adriana.

30 de setembro

Defesa e acusação apresentaram material contido nos autos do processo. Depoimento dos três condenados, áudio de testemunhas e precatórias de pessoas que não puderam comparecer ao julgamento foram apresentados aos jurados. A exibição dessas informações tomou todo o dia.

1º de outubro

Adriana Vilela foi interrogada por mais de 10 horas. Por orientação dos advogados, ela se recusou a responder os questionamentos do Ministério Público. Adriana respondeu às perguntas do juiz, da defesa e dos jurados. Ela, principalmente, falou sobre a relação com os familiares e criticou as investidas da Polícia Civil contra ela.

2 de outubro

Defesa e acusação protagonizaram debate. Em diversos momentos, as partes aumentaram o tom de voz e trocaram farpas. Ambos tentaram cativar os jurados e provar que a própria tese era verdadeira.
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