Festa de Inauguração
Frases deixadas por operários responsáveis pela construção do Congresso Nacional, inspiram o grupo a criar metáforas questionadoras sobre silenciamento de grupos minoritários e revisionismos históricos
O Teatro do Concreto, após estreia no Festival Internacional Cena Contemporânea, com três sessões lotadas, e breve passagem pelo 34º Festivale, em São José dos Campos (São Paulo), o Grupo volta para casa onde dá sequência à temporada de Festa de Inauguração no Sesc Garagem, de 19 a 22 de setembro, e de 26 a 29, do mesmo mês, no CEM 01 – Centrão, escola pública de São Sebastião.
Mensagens deixadas por trabalhadores, que construíram o Congresso Nacional nos anos de 1950, e encontradas em 2011 durante reforma no Salão Verde, foram o ponto de partida [para a criação do espetáculo] e endossado por seminários que reuniram sociólogos, arquitetos, artistas visuais, rappers e dramaturgos.
“As frases são de autoria de quem quase nunca está à luz da história oficial e revelam, em si, desejos de um futuro melhor para o país e a crença nas instituições democráticas”, descreve Francis.
Frases completas ou trechos delas são lidas durantes o espetáculo e uma delas entra em cena escrita em uma faixa.
A obra, que investiga o tema da destruição como metáfora ao atual momento do país, explora a presença de um ciclo fragmentado onde o fim nada mais é do que a continuidade e a ruína é a afirmação do que existiu e do vir a ser.
Permeando a própria produção do grupo, a montagem discorre sobre constâncias da humanidade, “notamos que no percurso da humanidade, nas artes e nas trajetórias pessoais, existem narrativas soterradas que precisam vir à tona e, normalmente, esse processo acontece por meio da destruição”, sugere o diretor da montagem.
A cidade como algo repleto de textos que precisam ser lidos e de discursos que precisam vir à tona, a pesquisa fez com que Festa de Inauguração não fosse uma peça que falasse pelos operários ou sobre o processo de construção de Brasília, mas sim que esses fossem os elementos disparadores de uma série de reflexões sobre o ato de destruir e reconstruir.
Sem tomar como base a noção de personagens ou de começo-meio-fim, Festa de Inauguração é um caleidoscópio. Em cena, os atores encenadores Gleide Firmino, Micheli Santini, Adilson Diaz e Diego Borges tecem a trama a partir de falas e narrativas em um jogo cênico que apresenta o próprio eu a partir do teatro, músicas e coreografias, próprias do teatro performático. O espetáculo tem ainda cenário e figurino assinados por André Cortez e luz de Guilherme Bonfanti, do Teatro da Vertigem.
Ficha técnica
Elenco: Gleide Firmino, Micheli Santini, Adilson Diaz, Diego Borges
Direção: Francis Wilker
Dramaturgia e codireção: João Turchi
Light design: Guilherme Bonfanti
Cenografia e figurinos: André Cortez
Direção musical: Diogo Vanelli
Projeções e registro audiovisual: Thiago Sabino e Fábio Rosemberg
Colaborações artísticas: Nei Cirqueira, Kenia Dias, Edson Beserra, José Regino e Giselle Rodrigues
Produção executiva: Tatiana Carvalhedo (Carvalhedo Produções)
Produção nacional: Júnior Cecon
Coordenação administrativa Teatro do Concreto: Ivone Oliveira
Assessoria de imprensa: Território Assessoria de Comunicação
Serviço:
Dias: 19, 20, 21 e 22/09
Local: Sesc Garagem
Horário: quinta a sábado as 20 horas e domingo as 19h
Ingressos: R$ 20 (inteira), adquira aqui
Dia 18, às 16 horas: Sessão gratuita para alunos do ensino médio e com tradução para Libras.
Dias: 26, 27 e 29/09
Local: CEM 01 – Centrão
Horários: Quinta e sexta, às 20h, e domingo, às 19h
Entrada franca
Dias 26 e 27, sessões gratuitas para o estabelecimento de ensino
Dia 27, sessão com tradução para Libras
Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 18 anos
Duração: 80 minutos
Informações: www.teatrodoconcreto.com.br e @TeatroDoConcreto, no Facebook.
Teatro do Concreto – Fundado em 2003, o Teatro do Concreto é um grupo de Brasília que reúne artistas interessados em dialogar com a cidade e seus significados simbólico e real por meio da criação cênica. Assume, desde sua origem, a diversidade e a pesquisa como princípios de gestão e composição artística, mobilizando criadores de diversas regiões do Distrito Federal e aprofundando a interação com diferentes artistas e áreas do conhecimento. Suas criações se orientam pela perspectiva do processo colaborativo e se caracterizam, principalmente, pela elaboração de uma dramaturgia própria, pela radicalização no uso de depoimentos pessoais, pela investigação da cena no espaço urbano, pela relação com as práticas da performance e pela busca por diferentes modos de engajar o espectador. Ao longo de sua trajetória, o grupo estreou nove espetáculos e intervenções cênicas, publicou três obras de referência para o campo da pesquisa teatral e realizou diversos projetos de interação com a comunidade os quais extrapolam a dimensão dos palcos, consolidando-se como referência para o teatro de grupo na região Centro-Oeste. Ganhou projeção nacional com a circulação dos espetáculos Diário do Maldito (2006) – que recebeu o Prêmio SESC do Teatro Candango nas categorias de Melhor Atriz e Melhor Cenografia – e Entrepartidas (2010) – que recebeu o Prêmio SESC do Teatro Candango nas categorias de Melhor Espetáculo, Melhor Direção, Melhor Ator e Melhor Dramaturgia.
Sinopses das criações do Teatro do Concreto:
Sala de Espera (2003/2004) – Adaptado do original A Doença: Uma Experiência, do roteirista de cinema Jean-Claude Bernardet, a peça narra, com a preciosidade imagética de um cineasta, uma história que trata de amor, preconceito, descobertas, perda e superação. Uma trajetória de extrema sensibilidade que transforma o relato narrativo, tendo como ponto de partida a presença da AIDS, em uma metáfora de amor à vida.
Diário do Maldito (2006) – Resultado de pesquisa sobre a vida e a obra de Plínio Marcos, um dos maiores expoentes da dramaturgia brasileira que incorporou o tema da marginalidade na cena nacional em textos de desconhecida violência. Na sua obra, os “marginais” são retratados como gente na boca de cena, com direito a vez e voz. A opção em falar da “banda podre do mundo” o tornou conhecido como o “autor maldito” do teatro brasileiro – jargão que nunca o incomodou – já que reconhecia na vida dos excluídos a extensão de sua própria vida e a matéria prima para as suas histórias e personagens.
Borboletas têm vida curta (2006) – Conta a história de Heitor, um adulto, que tenta, através das lembranças que estão marcadas em sua memória, atenuar a saudade e o vazio deixados por alguém especial. Sua constante busca por fatos, experiências e acontecimentos vividos na infância, o leva a ressignificar a maneira em que se relaciona e vive com o presente.
Inútil canto e inútil pranto pelos anjos caídos (2007) – Os últimos momentos da vida de enclausurados numa cela de presídio e que morrem queimados durante uma rebelião. A obra é inspirada em fato verídico ocorrido em Osasco, SP, a partir do conto 25 homens do livro INÚTIL CANTO E INÚTIL PRANTO PELOS ANJOS CAÍDOS. O texto chama a atenção para questões importantes como distribuição de renda, violência, justiça, dignidade humana, fome e saúde. Neste conto, mais uma vez, Plínio Marcos dá vez e voz aos excluídos, criando na sua narrativa detalhada do episódio uma verdadeira poética da crueldade.
Ruas Abertas (2008) – Intervenção cênica no espaço urbano, a partir do tema Amor e Abandono, ponto de partida do Teatro do Concreto que resultou no espetáculo Entrepartidas. As investigações iniciais do grupo partiram de uma questão central: qual é a relação entre amor e abandono na sociedade contemporânea? Para um grupo que trabalha na perspectiva do processo colaborativo e se pauta pelo diálogo visceral com Brasília, Ruas Abertas significa uma aproximação maior com a dimensão autoral da plateia.
Mirante (2010) – Essa criação partiu da investigação de diferentes espaços que dialogam com o imaginário de Brasília. Ao reler a cidade como texto, instala-se no espaço situações de encontro e elementos que discutem sua geografia, suas relações, suas proximidades e distâncias, seus encontros e desencontros. A Cidade e seu céu, desejos, símbolos e seus mortos. A cidade e sua memória. A cidade e seus sonhos.
Entrepartidas (2010) – Início da noite, a cidade se move como um complexo organismo. É hora do embarque! O público toma um ônibus e viaja pelas ruas da cidade onde conhece diversos personagens que se equilibram no fio do tempo e nos lembram que a vida se realiza no encontro com o outro e o instante é agora. Um espetáculo que fala, sobretudo, daquilo que é efêmero, chegadas e partidas, saudades, desejos, possibilidades, vida e morte. A viagem pela cidade como pretexto para viajar pelas ruas de si mesmo.
Concreto Extraordinário (2014) – Cinco personagens são convocados para a cobertura de um evento extraordinário: a descoberta de um homem que habita um lugar nunca antes visitado, ainda sem contato com nossa sociedade. Em jogo, questões sobre a complexa vida urbana, fragmentos de vidas, recortes de sonhos, quadros de pós-modernidade. Um múltiplo olhar sobre o mundo contemporâneo e “para aonde estamos indo…”.