Com juros baixos, compra de ações por brasileiro aumenta

Em março, quando o Ibovespa derreteu 30% e teve seis circuit breakers, a pessoa física foi às compras, aumentando em R$ 17 bilhões sua posição no mercado

 

O pequeno investidor brasileiro está aproveitando a baixa da Bolsa para comprar mais ações, ao contrário do que ocorreu em outros momentos de crise.

Em março, quando o Ibovespa derreteu 30% e teve seis circuit breakers, a pessoa física foi às compras, aumentando em R$ 17 bilhões sua posição no mercado de ações no mês, segundo dados da B3. De janeiro a abril, são R$ 33 bilhões a mais no mercado acionário vindos de brasileiros.

O número de novos investidores também cresce conforme a renda fixa fica menos rentável com a Selic renovando as mínimas históricas. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária do Banco Central reduziu a taxa básica da economia para 3% ao ano.

Do fim de janeiro ao fim de abril, quando o coronavírus passou a ser precificado pelo mercado, 558 mil CPFs entraram em ações,e fundos imobiliários, de índice (ETFs) e de investimentos (Fidcs, em direitos creditório, e FIPs, em participações).

Já são 2,3 milhões de CPFs no mercado acionário, quase três vezes o total de 2018.

“Com a queda na taxa de juros o investidor tem que correr mais risco na busca de rentabilidade. Além disso, ativos ficaram muito mais baratos e a oportunidade compra, melhor”, diz Marco Harbich, planejador financeiro CFP e gestor de investimentos da Terra.

Enquanto o investidor doméstico amplia posições e sustenta a recuperação da Bolsa, que saiu dos 63 mil pontos após os tombos de março para 80 mil pontos em maio, os estrangeiros tiveram, em 2020, a maior saída já registrada: tiraram R$ 71 bilhões do mercado acionário desde janeiro.

Com o aumento do protagonismo, o pessoa física representa 25% das negociações da B3 em maio, a maior participação desde agosto de 2010, quando eram 27%. Naquela época, a Petrobras fez a maior oferta de ações brasileira da história e a Bolsa chegou a 610 mil CPFs, recorde batido apenas sete anos depois.

Segundo dados do aplicativo Real Valor, do fim de fevereiro até a última sexta (8), 74% dos investimentos dos seus 20 mil usuários foi para a compra de ações, e 11% para fundos imobiliários.
Em valores, pessoas físicas e clubes de investimento atingiram 14,8% do R$ 1,8 trilhão do mercado de ações brasileiro em março, considerando ADRs (recibo de ação brasileira negociado nos EUA).

Estrangeiros ainda correspondem pela maior parte, 51,6%, mas este é o menor percentual desde fevereiro de 2010.

No cenário de aversão a risco, com uma das maiores crises econômicas da história pela frente, estrangeiros migram recursos de emergentes para portos considerados mais seguros, como ouro, dólar e títulos do Tesouro americano.

Com a Selic a 3% e juro real (descontado da inflação) estimado pelo mercado em 1% ao ano, brasileiros não se restringem à renda fixa. “As pessoas indo para a renda variável na crise pela Selic baixa”, diz Tales Fontes, sócio da AF Invest.

Segundo ele, outros dois fatores contribuem para o aumento de risco na carteira do brasileiro: a democratização dos investimento com o boom de corretoras e casas de análise, com custos de transações e taxas mais baixas e maior acesso à informação, e o medo de ficar de fora da “nova onda de alta” –em 2019, o Ibovespa subiu 32%, quebrando recordes na pontuação.

“A educação financeira vem aumentando no Brasil. Em 2008, bateu o pânico e teve retirada em manada. Agora, as pessoas entenderam que vender em queda piora a situação”, diz Harbich, da Terra.

Raissa Rabelo, 28, é uma das novatas da Bolsa. A advogada aproveitou a baixa do mercado e comprou ações de Petrobras, CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) e Magazine Luiza, além de três fundos imobiliários.

“Com a poupança rendendo pouco, tem que se mexer. O medo é a crise piorar, por isso que não pretendo colocar muita coisa em renda variável. Coloquei apenas 5% da carteira e vou ampliar para, no máximo, de 15% a 20%”, diz.

Seu plano é resgatar toda a poupança, que corresponde a 80% das economias, e diversificar. “Tenho receio de perder dinheiro”.

A poupança rende hoje 2,10% ao ano. Segundo o Relatório Focus, que reúne expectativas de mercado, a inflação deve fechar este ano em 1,97%, o que deixaria o rendimento real da poupança em 0,13%.

Mariana Soares, 22, também é um dos novos CPFs na Bolsa. Seu sogro lhe deu R$ 1.900 para que montasse uma carteira de ações. “Ele queria investir, mas não sabia como começar e pediu minha ajuda”.

Mariana é estudante de ciências econômicas e trabalha como estagiária em uma corretora. Apesar de ter feito um curso de mercado financeiro e estudar a Bolsa, ela não consegue consegue investir. “Por eu pagar a faculdade, infelizmente não sobra recursos”.

Tanto Raissa como Mariana reconhecem a importância da reserva de emergência: um valor equivalente a seis meses de gastos alocado em um produto de renda fixa com liquidez diária, como o Tesouro Selic ou alguns CDBs.

“Reserva de emergência é a primeira que deve ser preenchida pelo investidor. Todos têm que ter, independente do perfil”, diz Harbich, gestor da Terra Investimentos.

O segundo passo é conhecer o perfil de risco. Bancos, corretoras, casas de análise, sites e aplicativos oferecem o teste. Além da condição econômica do investidor, ele leva em conta o psicológico.
Para ter uma boa parte da carteira em ações, como no perfil arriscado, é preciso ter sangue frio para lidar com eventuais desvalorizações dos ativos. “O investidor não pode sair do seu perfil de risco independente da Bolsa estar em alta ou baixa”, afirma Tales, da AF Invest.

 

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