Arroz, salada e só: falta carne na merenda das escolas públicas do DF

Secretaria de Educação lançou licitação de R$ 6 mi, em caráter emergencial, para a compra de frango. Alimentação está defasada nos colégios

 

Um prato com arroz branco e salada para o almoço ou pão puro com suco para o café. Essas opções, longe da alimentação balanceada que um estudante precisa ter, foram as que chegaram à mesa de parte dos alunos da rede pública de ensino do DF nessa quarta-feira (02/10/2019).

O problema da merenda nas instituições de ensino voltou à tona com reclamações de professores, pais e dos próprios estudantes. Sem carne bovina desde 2017 e com a tentativa frustrada de incrementar o cardápio com almôndegas, agora os estudantes sofrem com a falta de frango.

No mesmo dia em que as reclamações vieram a público, a Secretaria de Educação (SEE) divulgou, no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF), a abertura de processo de dispensa de licitação, em caráter emergencial, para a aquisição de frango para as escolas.

Segundo o documento, a compra de filé de frango congelado, sem pele e sem osso, faz parte do Programa de Alimentação Escolar (PAE). O valor total estimado é de R$ 6 milhões para o fornecimento por 180 dias. A abertura das propostas para a contratação emergencial está agendada para 9 de outubro.

De acordo com a SEE, o contrato de fornecimento de carne de frango in natura foi encerrado em 24 de junho, após parecer da Procuradoria-Geral do Distrito Federal: a PGDF entendeu que os contratos para aquisição de gêneros alimentícios com recursos federais não podem ser renovados, por não serem serviço contínuo.

Ainda segundo a secretaria, “a dispensa de licitação permite a retomada da regularidade no abastecimento até que esteja concluída a licitação em andamento”. A Diretoria de Alimentação Escolar disse que adaptará os cardápios das escolas visando minimizar a “falta momentânea” de frango na merenda.

Repostas aos pais

Enquanto isso, a justificativa dada aos pais nas escolas para a falta da proteína nas refeições é um atraso na entrega. A promessa feita a uma mãe que preferiu não se identificar é que o frango retorne aos pratos em 7 de outubro. Data improvável, tendo em vista que as propostas para o contrato emergencial só serão analisadas em 9 de outubro.

“As crianças comem só arroz e salada. Nos falaram que é na rede inteira”, disse. Ela encaminhou foto do almoço servido nessa quarta.

Imagem cedida ao Metrópoles

Na Escola Classe 209 Sul, que integra o modelo de turno integral da rede pública do DF, pais consideram que o almoço e lanches oferecidos às crianças ao longo do dia poderiam ser mais completos. Pela manhã, os estudantes têm aulas na Escola Parque, na 308 Sul, onde tomam café da manhã e almoçam. À tarde, já na Escola Classe, eles têm direito a dois lanches.

“Não aguento mais peixe”

Pai de um aluno que estuda na escola há quatro anos, o corretor de imóveis Walter Antônio da Silva, 47, avalia que faltam proteínas diferenciadas no almoço do filho. “Não há carne nem frango. Ele come peixe o tempo todo e sempre reclama”, disse.

O filho dele, João Guilherme Chagas Silva, 12 anos, confirma: “É muito ruim, tem muita gente que passa mal. E quando a gente não come tudo, eles mandam bilhete para casa”.

Maria Paz, 63, é avó de um estudante do quinto ano. À reportagem, ela comentou que acredita que a merenda escolar tenha melhorado nos últimos anos, mas que ainda faltam alimentos no cardápio. “Tem um peixe que o meu menino rejeita. Deveria mudar, ter uma carne… No lanche poderia ter um leite, que falta também”, avaliou.

Almôndega recolhida

A rede pública ficou dois anos sem carne bovina no cardápio das escolas e, no segundo semestre deste ano, o problema parecia ter sido resolvido. No entanto, apesar da tentativa do governo de repor a carne bovina com almôndegas, em 13 de setembro, todos os produtos fornecidos pela empresa JVC à Secretaria de Educação foram recolhidos.

Dezesseis dias após a suspensão da proteína em 345 escolas, laudos técnicos de laboratórios credenciados pela Vigilância Sanitária indicaram que o teor de gordura estava acima do previsto em contrato de R$ 7,2 milhões com a empresa. As almôndegas deveriam ter no máximo 8%, mas apresentaram índices de gordura entre 9,19% e 9,93%.

A responsável por repor a carne será a BH Foods, que fez as almôndegas com problema. Ela terá de entregar o produto como prevê o contrato (máximo de 8% de gordura) e passar a fornecer à secretaria laudos prévios dos próximos lotes.

Ainda precisará recolocar, inclusive, o que tiver sido consumido. No total, haviam sido entregues 52.700 kg, em sete lotes, a 345 unidades escolares. A quantidade era o suficiente para uma única inserção no cardápio dessas escolas. Nos ofícios dirigidos às coordenações regionais, a pasta informou que a carne terá de ser substituída por frango até que a situação seja normalizada. Porém, não há frango também.

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