Volta das aulas presenciais no DF divide opiniões de pais e mães de estudantes

Entre responsáveis pelos alunos, envio dos filhos de volta às salas de aula não é consenso. Cronograma da Secretaria de Educação prevê que, até o fim de setembro, todos matriculados na rede pública terão deixado atividades remotas

 

A divulgação do cronograma de volta às aulas presenciais na rede pública de ensino dividiu a opinião de pais e mães do Distrito Federal. Enquanto alguns não concordam com a volta às salas de aula por causa da pandemia de covid-19, outros temem um prolongamento dos reflexos negativos na educação dos filhos — consequência do ensino a distância — e dizem não ter mais condições de mantê-los em casa. O planejamento escalonado foi divulgado na terça-feira (27/7) pela Secretaria de Educação, e o retorno ocorre em 5 de agosto.

O casal de agricultores Raimundo Nonato Martins, 47 anos, e Claudineide de Oliveira Neves, 33, viu a notícia com bons olhos. Pais de Ana Flávia, 15, e Eduardo, 6, eles relatam que os filhos não sofreram tanto os prejuízos da fase de ensino a distância porque tiveram apoio dos educadores. “Não foi tão ruim. Eles estavam fazendo a tarefa. Eu levava meu menino para fazer algumas atividades com a professora, e minha filha ficou em casa, fazendo os deveres on-line”, conta a mãe.

A família mudou-se para o Núcleo Rural Taquara, em Planaltina, há dois meses. Antes, moravam no Guará, mas, desde que chegaram ao novo endereço, enfrentam dificuldades com a conexão. “Antes, tínhamos wi-fi, internet. Mas, agora, ficamos sem acesso”, explica o pai. Por isso, a família aguardava o retorno presencial. “Nós trabalhamos na roça, não tem como ficar ajudando menino o tempo todo. Na escola, é diferente. Lá, você tem leitura, palestra, acompanha a explicação do professor. Aqui (em casa), chega um tanto de folha (de exercícios) para fazer e não tem explicação. Não tem revisão de matéria, e a gente não sabe ensinar. Então, lá (na escola) é melhor”, completa o agricultor.

Ana Flávia e Eduardo estudam na Escola Classe Taquara, em Planaltina. Assim como os alunos, a direção do colégio tem se preparado para o retorno das atividades. Com 774 pessoas matriculadas em três turnos, a instituição atende em todas as modalidades de ensino: da educação infantil à de jovens e adultos (EJA). “Temos adequado toda a estrutura física para quando os estudantes chegarem. Disponibilizamos álcool em gel em todas as portas das salas de aula, compramos tapetes higienizantes, estamos montando kits para professores e adotando todas as medidas de segurança nas dependências do prédio”, ressalta o diretor, Volemar Orleans.

Receio

Apesar dos preparativos, alguns pais têm medo de permitir que os filhos voltem às atividades presenciais. É o caso da veterinária Layanne da Silva de Souza, 26, moradora de Santa Maria. Ela conta que a filha, Ana Júlia, 4, tem dermatite atópica, rinite e asma leve e que isso gera preocupação. “Torna meu medo maior, porque adotamos uma série de cuidados para aliviar as crises que ela tem. Considero um risco ela ir para a escola”, opina. “Criança não consegue seguir a regra de ficar com máscara o tempo todo. Elas vão brincar, dividir materiais, mesmo que o professor tente impedir. Só vou me sentir tranquila quando a maior parte da população estiver imunizada e houver controle sobre essas variantes”, completa Layanne.

Diretora da Escola Classe do Setor P Norte, em Ceilândia, Magda Pereira da Silva destaca alguns dos temas que mais preocupam a equipe. “O corpo docente está bem tenso com esse retorno, mas entendemos que é o momento de voltar. Nossa preocupação maior é com os estudantes”, comenta. Além das pias separadas, dos tapetes higienizadores e dos totens com álcool em gel dispostos pela instituição de ensino, haverá identificação das mesas dos alunos e dos materiais de convivência. “O colégio recebe estudantes de 4 a 10 anos. São 800 no total. Como será uma semana remota e uma presencial, teremos 400 alunos por dia. Mesmo com o horário de aulas reduzido para quatro horas, será um desafio para a equipe fazer toda a limpeza necessária”, acrescentou Magda.

A auxiliar de serviços gerais Alessandra Gomes da Silva Batista, 41, conta que a família teve dificuldade para se adaptar à plataforma on-line. Mãe de Rafael, 8, e Vitória, 15, ela conta que os filhos precisaram dividir o mesmo celular. “Temos um só para as três pessoas da casa”, conta. Agora, eles se preparam para o retorno presencial. “Ao mesmo tempo em que temos medo, por causa dessa nova variante circulando, quero mandá-los para a escola. Minha filha está na expectativa. Como é adolescente, quer conviver de novo com os colegas. O pequeno tem hora que diz querer voltar. Mas ele acha que vai ser como antes, brincando com os colegas. Tenho tentado explicar que não será bem assim”, relata Alessandra.

Vistoria para retorno seguro

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) visitou, ontem, escolas públicas dos ensinos fundamental e médio para verificar as condições dos colégios. A instituição não encontrou “impeditivos para a volta das atividades”. As informações colhidas passarão por análises, e as regionais de ensino, caso tenham de fazer melhorias, receberão notificações. Os dados serão avaliados pela Promotoria de Justiça de Defesa da Educação (Proeduc), que acompanhará todo o processo de retorno às escolas. “Pretendemos visitar outras unidades, continuar fiscalizando e cobrando tudo o que for necessário para que a segurança seja um primor. Este é um marco importante”, destacou a promotora Márcia da Rocha.

Entre os requisitos, foram avaliados: distanciamento das carteiras nas salas de aula, o espaço de movimentação para professores e estudantes, estrutura para aferição de temperatura, ações de higienização de objetos e ambientes, bem como se a instituição de ensino dispõe de produtos como papel-toalha, álcool em gel, sabão e máscaras.

Diretora do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF), Rosilene Corrêa informou que a categoria avalia a possibilidade de manutenção do ensino remoto. Ontem, representantes da entidade participaram de uma reunião com a Secretaria de Educação sobre os protocolos adotados no retorno presencial. Hoje, integrantes do sindicato conversarão com gestores das unidades de ensino, para conhecer a realidade de cada local. “Na sexta-feira, teremos assembleia com a categoria. Não existe nenhum indicativo de greve, a princípio. No entanto, a mobilização que fazemos é por um retorno seguro. A decisão dos profissionais é o que definirá um pedido de manutenção das aulas virtuais ou não”, concluiu.

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