Polícia pede quebra de sigilo de Agaciel em investigação que apura prática de “rachadinha”

Solicitação foi feita após policiais encontrarem canhotos de cheques em nome do deputado na gaveta do diretor da CLDF

 

No dia 4 de julho, investigadores da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) encontraram, em posse do diretor-legislativo da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), Arlécio Alexandre Gazal, canhotos de cheques nominais ao deputado distrital Agaciel Maia (PL). Somados, os valores chegam a R$ 300 mil.

Como consequência, o deputado foi incluído nas investigações que, até então, focavam no colega e parlamentar Robério Negreiros (PSD), suspeito de fraudar a própria presença nas sessões da Casa.

Contra Agaciel pesaram as evidências de que poderia estar praticando a chamada “rachadinha“, quando o parlamentar recebe de volta parte dos vencimentos dos funcionários ligados a ele. A prática é ilegal.

Além dessa transação, os investigadores suspeitam de mais um negócio entre Agaciel e Gazal. No mesmo local onde foram descobertos os canhotos, a polícia encontrou um contrato de compra e venda de uma casa no litoral do Rio Grande do Norte, que seria de propriedade do distrital. O imóvel teria sido repassado a Gazal em uma suposta transação envolvendo pagamento de R$ 500 mil.

Em entrevista após os canhotos virem à tona, Gazal tentou explicar as transações com Agaciel Maia. Segundo ele, o único ganho que obtém com os empréstimos ao distrital é o prestígio com o patrão. “De vez em quando, preciso dele, mas não é para arrumar cargo”, explicou.

O diretor ainda destacou que dinheiro nunca foi problema para ele: “Tenho mais de R$ 10 milhões na conta, e isso é demais para quem trabalha desde menino e sempre em cargos de chefia no serviço público? Acho que não. Basta olhar a minha posição aqui na Câmara. Praticamente, fabriquei isso aqui. Criei a Câmara. Podem saber do meu passado, principalmente com os servidores efetivos. Não existe nada contra mim questionando minha honestidade e capacidade de trabalho. Podem perguntar para os deputados de 1991 e para os atuais. Todos terão a mesma reação quando tocam no meu nome”.

Evolução patrimonial
Desde que entrou oficialmente para a política, em 2010, Agaciel Maia mais do que dobrou a sua fortuna. Quando disputou a primeira eleição, o então ex-servidor do Senado declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter amealhado R$ 3,8 milhões de patrimônio. Naquele ano, conseguiu vaga na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF).

Duas eleições depois, esse valor se multiplicou para R$ 8,2 milhões. Mais da metade do montante – R$ 4,8 milhões – está aplicada em um fundo de investimento imobiliário.

Procurado, o deputado disse que abriria, ele mesmo, o sigilo. “Meu patrimônio foi todo constituído de fonte comprovada e oficial. Não tenho sigilo em nada. Só tenho conta bancária em órgãos de governo (CEF e BRB), só tenho um único telefone há 30 anos. Hoje, tenho 61 anos e trabalho desde os 18 anos. Ninguém precisa quebrar meu sigilo, eu mesmo autorizo”, disse. “Há 42 anos, a Receita Federal aprova minha Declaração de Imposto de Renda, nunca tive qualquer ressalva, por ter sua constituição só de recursos oficiais, com fontes comprovadas”, prosseguiu.

O Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE-DF), no entanto, reprovou as contas de sua última campanha.

O aumento patrimonial e financeiro do parlamentar ocorreu justamente quando ele entrou para a política, em 2010. Naquele ano, Agaciel Maia foi eleito deputado distrital e declarou uma lista de bens que superavam R$ 3,8 milhões. Já na eleição seguinte, conseguiu somar quase R$ 5 milhões à sua fortuna, que em 2014 era de R$ 8,2 milhões. Ele não possui empresas em seu nome atualmente. Tem apenas dois carros antigos: um Toyota Bandeirante 1990 e um Ford Rural Willys 1997.

Nesses oito anos de legislatura, Agaciel Maia disputou uma eleição para a Presidência da Câmara, em 2016, quando perdeu para Joe Vale (PDT). Mas, desde então, sempre esteve à frente da Comissão de Orçamento e Finanças (Ceof), por onde passam todos os projetos do governo. Como presidente da comissão permanente, tem o poder de colocar em votação os projetos de interesse do governo.

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