A investida do PCC nas disputas municipais vem se expandindo desde 2016
Recife e São Paulo, 15 – O coronel Pedro Luís de Souza Lopes, chefe do Centro de Inteligência da Polícia Militar do Estado de São Paulo, afirmou ontem que a atuação do Primeiro Comando da Capital (PCC) no financiamento ilegal de candidatos nas eleições municipais deste ano é “muito maior do que (se) imaginava”.
“Não dá para falar que são 100, 200 municípios, mas tem vários com indícios palpáveis de alguma movimentação importante do tráfico (para) participar como financiador de campanha eleitoral”, disse Lopes durante o 18º encontro anual do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no Recife (PE).
Como mostrou o Estadão, a investida do PCC nas disputas municipais vem se expandindo desde 2016. A Polícia Civil apura a suspeita de que investigados por supostos vínculos com a facção estejam patrocinando candidaturas nas eleições.
Lopes afirmou que a inteligência da PM já executa uma “operação eleitoral” em todo o Estado. “Nós precisamos ser informados sobre qualquer tipo de ingerência que possa indicar limitação do processo eleitoral em virtude de prática criminosa.”
Segundo o coronel, o alto comando da PM paulista já se reuniu com representantes dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) para tratar do assunto. “Teve reunião com todos os gestores regionais”, disse. “Há uma preocupação não só no dia das eleições.”
Ele afirmou ainda que, por causa dessa aproximação, as forças de segurança têm recebido “bastante material”. Questionado pela reportagem do Estadão após participar de um painel no fórum, Lopes não informou se há alguma região específica que chame atenção neste momento.
Lavagem
Uma das hipóteses do coronel é que a organização criminosa tem buscado mais alternativas para lavagem de dinheiro. Como já mostrou o Estadão, hoje em dia as estratégias vão de bitcoin a fintechs.
Segundo o Ministério Público do Estado de São Paulo, a facção movimenta cerca de R$ 1 bilhão ao ano. O carro-chefe da organização criminosa, já há alguns anos, é o tráfico internacional de cocaína, comprada de países vizinhos e enviada principalmente à Europa.
“Não é nem a estratégia mais inteligente, eles estão se expondo. Há uma série de contratos públicos expondo integrantes da cúpula do PCC”, disse Lopes.
Ele citou, como exemplo, a investigação relacionada a uma possível infiltração da facção em empresas que operam linhas públicas de ônibus na capital. Conforme o coronel, a área de inteligência da PM atuou na investigação de forma direta, em parceria com o MP estadual.
“Talvez seja excesso de confiança, não sei dizer, mas fato é que estão expostos”, afirmou.
No último dia 6, a Polícia Civil de São Paulo, por meio da Delegacia Seccional de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, deflagrou a Operação Decurio, que investiga suposta atuação criminosa do PCC para infiltrar candidatos na disputa eleitoral deste ano.
O juiz Paulo Fernando Deroma de Mello, da 2.ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital, decretou o bloqueio de R$ 8,1 bilhões em bens relacionados ao PCC e medidas restritivas de direito contra dois candidatos a vereador em Mogi das Cruzes e em Santo André. Eles são suspeitos de envolvimento com a facção.
Estadão Conteúdo