Mesmo com patrimônio de R$ 8 mi, Agaciel pediu empréstimo a servidor

De acordo com Arlécio Gazal, R$ 300 mil serviram para custear advogados do distrital e outros R$ 500 mil foram para compra de uma casa no RN

 

Com um patrimônio crescente a cada ano, o deputado distrital Agaciel Maia (PL) é, atualmente, o segundo parlamentar mais rico da Câmara Legislativa(CLDF) – só fica atrás do colega José Gomes (PSB). Apesar de declarar a fortuna de R$ 8.250.158,09 como renda gerada de subsídio como distrital e da aposentadoria do Senado Federal, o parlamentar recorreu a um subordinado para efetivar uma transação de R$ 500 mil, além de ter pedido empréstimo para custear advogados.

O primeiro negócio envolveria um imóvel à beira-mar vendido ao diretor da Casa, Arlécio Gazal, conforme ele mesmo confirmou. O segundo são repasses ao distrital registrados em canhotos de cheques que somam R$ 300 mil. Os dois casos foram revelados após operação de busca e apreensão da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) no início do mês.

Por decisão do próprio Gazal, que atualmente ocupa o cargo de diretor legislativo pela cota de Agaciel, o repasse da casa litorânea localizada no Rio Grande do Norte (RN) não foi oficializado, porque, de acordo com Gazal, “não queria pagar” dois impostos pela transferência. Ele garantiu ter topado a proposta de ser o novo dono do imóvel, mesmo sem nunca ter pisado na propriedade.

Contrato de gaveta

Ex-secretário-geral da Mesa Diretora da CLDF, Arlécio não lembra, contudo, como se deu a transação e se pagou à vista ou em parcelas o objeto da negociação. “Olha, rapaz, vocês estão mirando no lugar errado. Todos daqui conhecem minha vida e meu caráter. Não faz o menor sentido eu ter de explicar se comprei de uma forma ou de outra. Acho que foi em parcelas, mas não consigo garantir. O fato é que fizemos um contrato de gaveta, porque, quando eu vender a casa, não vou precisar pagar dois impostos”, declarou à reportagem.

O diretor legislativo da Casa refere-se ao Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis e de Direitos a eles Relativos (ITBI), que é exigido em todas as transações de propriedades. Para calcular quanto sairá o tributo, a base de cálculo é o valor venal dos bens ou direitos transmitidos à época do negócio.

Patrimônio crescente

Formado em economia e servidor aposentado do Senado Federal, Agaciel Maia declarou, em 2016, R$ 7.604.054,72 de bens móveis, imóveis e investimentos. Em 2017, a importância saltou para R$ 8.247.334,51. A variação, de R$ 643 mil, foi a maior em valores brutos dos colegas de parlamento da última legislatura. O deputado tem, segundo sua declaração de Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF), nove imóveis, entre fazendas, sítios e casas. As propriedades estão espalhadas pelas seguintes unidades da Federação: Rio Grande do Norte, Paraíba e Distrito Federal.

Já no ano passado, a declaração mais recente, o político não amargou prejuízos nas contas. Pelo contrário: garantiu à Receita Federal ter um patrimônio de R$ 8.250.158,09, cerca de R$ 3 mil a mais do que o lançado anteriormente.

Processos judiciais

Arlécio Gazal ressaltou ainda que, além da compra da casa, também já fez transações de empréstimos a Agaciel para que o deputado pudesse pagar advogados. A revelação ocorreu após uma operação da PCDF, em 4 de julho. Os investigadores foram à Câmara Legislativa em busca de informações sobre as supostas fraudes nas folhas de ponto do distrital Robério Negreiros (PSD), mas descobriram canhotos de cheque do servidor registrados com o nome do distrital. Ao cumprirem mandados de busca e apreensão no parlamento local, os policiais somaram R$ 300 mil em repasses de Gazal para o distrital. Segundo o diretor legislativo, o montante seria para custear advogados e diversas instâncias da Justiça brasileira. “Ele tem processos um em cima do outro e vive me pedindo dinheiro”, disse Gazal.

Com os documentos em mãos, integrantes da Coordenação Especial de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado, aos Crimes Contra a Administração Pública e aos Crimes Contra a Ordem Tributária (Cecor) abriram investigação para apurar a origem do dinheiro e as supostas transações entre Gazal e Agaciel. Os policiais trabalham com a hipótese de um esquema para financiar a compra de cargos públicos na CLDF. O diretor legislativo foi levado à delegacia para prestar depoimento sobre o material apreendido.

A reportagem tentou contato com o distrital Agaciel Maia, mas ele está no Rio Grande do Norte para acompanhar a mãe, que passa por problemas de saúde. Por meio da assessoria de imprensa, não comentou a negociação sobre a casa litorânea. Contudo, sustentou que o deputado trabalha há 42 anos, é economista e sabe administrar o que recebeu ao longo da vida. “O deputado não utiliza a verba indenizatória. Já economizou mais de R$ 1,2 milhão aos cofres públicos por abrir mão desse recurso. A verba indenizatória poderia ser usada para pagar advogados, por exemplo.”

anúncios patrocinados
Anunciando...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.