Luta das pessoas com deficiência vai além da acessibilidade

Empregabilidade e preconceito ainda são os maiores desafios de PCD. Falta de acessibilidade também prejudica a vida de pessoas com deficiência

 

Brasília tem mais de 139.708 pessoas com algum tipo de deficiência, segundo último levantamento da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), e elas enfrentam ainda uma série de obstáculos. Quando se fala de acessibilidade de pessoas com deficiência, é preciso ir além de rampas, elevadores e intérpretes em instituições. Há diversas formas de excluir e negar direitos básicos ao grupo.

A empregabilidade ainda é um dos principais motivos de luta das pessoas com deficiência. De acordo com a Pesquisa de Emprego e Desemprego, e do estudo Empregabilidade da Pessoa com Deficiência, da Codeplan, nos quais foram analisados o perfil sociodemográfico e a caracterização da inserção PCD no mercado de trabalho do DF, foi constatado que pessoas portadoras de deficiência possuem 33% menos chances de estarem empregadas.

“A síndrome se sobrepõe à pessoa”, diz Luiza Mesquista, 26 anos, irmã de Vitória Mesquita, 20 anos, que tem Síndrome de Down. Segundo ela, a falta de oportunidades no mercado de trabalho ainda é um grande desafio. “Eles precisam ser enxergados como indivíduos, com características e capacidades únicas.”

A engenheira e fotógrafa Pollyana Sá, portadora de Ataxia de Friedreich, conta sobre as dificuldades enfrentadas por causa da falta de acessibilidade. Segundo ela, muitas empresas não empregam ou não estão preparadas para empregar PCD. “Eu fui em uma entrevista para a qual a vaga anunciada era para pessoas com deficiência, mas chegando lá tinha que subir escada. Então a vaga não serviria para deficientes físicos”, diz.

Pollyana aponta que, em muitos casos, a capacidade da PCD é colocada em cheque. “Eu sou formada, tenho capacidade intelectual e muitas vagas são com funções muito inferiores ao que posso exercer. Muita coisa ainda precisa mudar para que o cenário geral mude. Infelizmente ainda há muito preconceito e falta de preparo das empresas.”

O secretário da pessoa com deficiência, Flávio Pereira dos Santos, afirmou que a pasta tem como base o estabelecimento de políticas públicas para PCD, dentre elas a inclusão no mercado de trabalho e o acesso à educação. “Um dos grandes entraves enfrentados pelas pessoas com deficiência no DF é em relação à acessibilidade, precisamos desenvolver realmente uma política pública melhor para atender essas necessidades. Esse papel, a secretaria tem buscado desempenhar para ajudar essas pessoas e eliminar as mais diversas barreiras, sejam arquitetônicas, de comunicação e de outras vertentes”, afirma.

Empoderamento

Vitória Mesquita, mais conhecida como Viti, tem Síndrome de Down e usa as redes sociais para empoderar jovens deficientes e mostrar suas vivências. A jovem de 20 anos é modelo, dançarina, skatista e influenciadora digital. Hoje, Viti tem quase 20 mil seguidores no Instagram. A conta foi criada com o intuito de estimular a criatividade de Vitória, mas ela acabou conquistando o público com sua espontaneidade e simpatia. “Criamos o Instagram com o objetivo de estimular a criatividade e autoestima da Viti durante a pandemia, e ao mesmo tempo, para desmistificar a síndrome de down de forma leve e profissional para a Viti, uma forma de criar o próprio emprego dela, como influencer”, disse Luiza, irmã da jovem.

“Eu ensino, eu mostro tudo que eu faço. É minha vida, meus amigos, meu namorado. É bom ter síndrome de Down porque as pessoas podem lutar contra o preconceito, capacitamos, bullying. A gente luta para que esse preconceito não aconteça. Eu mostro o que eu faço para as pessoas verem que somos diferentes, as pessoas são diferentes. As pessoas podem ser muito mais do que eles veem. Só quero fazer o melhor porque eu tenho força e vontade de fazer isso e os downs podem fazer tudo”, conta Viti.

Em 2021, ela começou uma campanha para alterar a definição do Google sobre síndrome de Down, que colocava a síndrome como doença. “As pessoas buscam o Google como fonte primária e universal de informações. Conceitos errados como os que caracterizavam as pessoas com síndrome de Down tinham impactos gigantescos sobre essas pessoas e as suas famílias. Eram informações que, além de criarem um estereótipo falso, ainda geram capacitismo, fazendo com que a sociedade os veja como menos capazes”, explica Luiza.

A iniciativa da campanha partiu da própria Viti, que fez a pesquisa e disse que a definição estava errada. “Eu pesquisei síndrome de Down e vi que estava errado. Fiz um vídeo no Instagram e nasceu a campanha para atualizar o Google”, conta a jovem. O vídeo viralizou e o Google alterou a sua definição.

Representatividade

Com 15 anos Pollyana Sá, 29 anos, foi diagnosticada com Ataxia de Friedreich, uma doença hereditária rara, neurodegenerativa, debilitante e paralisante, irreversível, também associada a cardiopatias, diabetes, disartria, surdez e cegueira. Desde então, sua vida mudou. “No começo foi muito difícil porque, além de me adaptar à nova condição, tinha que aprender a lidar com o preconceito e com o bullying na escola.”

Atualmente Polly usa as redes sociais para abordar temas relacionados à doença Ataxia de Friedreich e sobre a inclusão das pessoas com deficiência, além de partilhar suas dificuldades, descoberta, trazendo visibilidade para esse tema. “A gente vive numa sociedade que não tem muita representatividade. Hoje eu uso meu trabalho com a fotografia para abordar questões como o preconceito e estereótipos associados a nós”, conta.

A fotógrafa tem uma série de auto-retratos sobre os principais julgamentos e estereótipos usados para pessoas que têm a doença. “Essa é uma patologia que tem muito preconceito. Nossa coordenação, equilíbrio e fala são bem afetados, então as pessoas julgam demais. Muitas vezes a pessoa com ataxia é chamada de bêbada e drogada. Se eu estiver com amigos num bar, por exemplo, o pessoal acha que estou pela forma como me porto”, lamenta. A série busca quebrar esses estigmas e conscientizar as pessoas sobre a Ataxia. “Eu desejo que as pessoas tenham mais empatia pelos outros e realmente possam ter lugares mais acessíveis. Eu desejo que pensem mais nos deficiente, não só no Dia da Luta da Pessoa com Deficiência”, acrescentou Polly.

Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência

Celebrado deia 21 de setembro, o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência foi instituído em 1982, por movimentos sociais, com o objetivo de promover e debater a inclusão social. Em 2005, a data foi oficializada pelo então vice-presidente José Alencar.

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