Governo e oposição entram em embate no Congresso sobre financiamento do Renda Cidadã

Parlamentares consideram uma “desumanidade” sacrificar a educação em um país onde metade das escolas não tem saneamento e sugerem a taxação de brasileiros de alta renda

Começou intenso no Congresso Nacional o embate entre governo e oposição sobre a proposta do governo com o Renda Cidadã. Ontem, durante reunião entre lideranças partidárias da Câmara, os aliados de Bolsonaro ouviram críticas de parlamentares que discordam da ideia de repassar recursos do Fundeb para o novo programa de transferência de renda. A deputada Professora Dorinha (DEM-TO), relatora do texto da PEC do Fundeb na Câmara, alertou que, segundo a Constituição, as ações governamentais na área da assistência social devem ser realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, e não da educação.

Segundo ela, o acesso de crianças à escola ainda é um enorme desafio no Brasil. Retirar dinheiro que deveria combater essa ineficiência constitui, portanto, um erro. “A cada 100 crianças até 3 anos de idade, nossas escolas só conseguem atender 36. Além disso, 49% dos colégios não têm saneamento básico. O próprio nome do fundo diz que ele deve funcionar para o desenvolvimento e a manutenção do ensino, portanto, é uma incompreensão querer mudar isso. Não acredito que isso (usar parte do Fundeb para o Renda Cidadã) caminhe, até porque, teoricamente, não tem nenhum tipo de embasamento”, afirmou Dorinha.

Para a deputada, caso o Congresso aceite a sugestão do governo, vai abrir precedentes para que o dinheiro da educação seja sempre remanejado para outras áreas. Ela concorda que um programa social mais abrangente que o Bolsa Família é necessário, mas pede que o Renda Cidadã seja bancado por outras fontes. “Se um caminho desses for aberto, vão passar a comprar cesta básica e botar na conta da educação. Voltaremos à década de 1970, em que, para se construir asfalto na frente de uma escola, tinha de se usar recursos da educação. Isso é um absurdo. Temos de lembrar que, com investimento em educação, podemos mudar a perspectiva de vida, renda, trabalho e cidadania de qualquer pessoa.”

O deputado Bacelar (Podemos-BA), que integrou a comissão especial do Fundeb, vai lutar contra a proposta. Para ele, por mais que programas de transferências de renda sejam imprescindíveis, não podem sacrificar a educação. “Cortar recursos da educação, especialmente dos municípios mais pobres e dos estudantes mais frágeis, é uma desumanidade. Se o Congresso não reagir a essa proposta, estaremos prejudicando 2,7 mil municípios brasileiros e cerca de 17 milhões de alunos”, alertou.

Sugestões

Houve críticas também no plenário da Câmara. Além de reprovar a redução de recursos do Fundeb, os parlamentares criticaram o plano do governo de utilizar recursos de precatórios (dívidas da União definidas em ações judiciais) como fonte de financiamento do Renda Cidadã.

Alguns parlamentares apontaram possíveis soluções. O líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon (RJ), opinou que o governo deveria cobrir os gastos por meio da taxação de grandes fortunas e de lucros e dividendos, dois temas que passariam por uma reforma tributária mais ampla. “Tirar dinheiro da educação não faz o menor sentido, muito menos o calote dos precatórios”, analisou. Para Molon, a solução é “levar a sério a reforma tributária e taxar os superricos”. O problema, na visão dele, é que “o governo Bolsonaro não quer incomodar os bancos e os especuladores”. “Os acionistas, quando recebem lucros, distribuem entre si e não pagam um centavo de tributo. Quem paga imposto é a classe média e a classe popular”, criticou. “É o governo dos banqueiros. A eles que Paulo Guedes vai procurar atender”, continuou o líder do PSB.

Para avançar a renda básica, o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) acredita que o Congresso deve voltar a debater incentivos fiscais, tributários e creditícios, além de avançar na discussão sobre taxação de grandes fortunas. “Esses incentivos chegaram à casa de mais de R$ 400 bilhões e são fundamentais, neste momento em que o Brasil precisa encontrar espaço orçamentário para garantir um programa de renda”, afirmou.

anúncios patrocinados
Anunciando...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.