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Recebi um convite com a programação dos eventos da Jornada do Patrimônio organizada pelo governo do Distrito Federal e me deparei com um fato , no mínimo, inusitado: na programação não constava qualquer menção à Planaltina, que é o centro histórico mais antigo do Distrito Federal que remonta o período colonial.
E, além disso, nas mesas de discussão nenhuma menção sobre a Vila Planalto – primeiro sítio tombado patrimônio histórico do DF – cujas últimas edificações de madeira que são registros da construção da capital federal e exemplares únicos da arquitetura modernista edificada em madeira dentro do Plano Piloto de Lucio Costa estão caindo pela ação das intempéries do clima e pela omissão do Estado ao longo do tempo.
Estado que gasta milhões em eventos e não investiu nenhum centavo pra preservar a História da Cidade. Estado que enche a boca pra propagandear um título de patrimônio cultural da humanidade quando lhe é conveniente apenas, mas , que nunca soube gerir o que pertence a todos! Que deixou edificações históricas e de grande importância arquitetônica como o Teatro Nacional Cláudio Santoro se deteriorar por falta de conservação até virar um mausoléu.
A gestão e preservação do Patrimônio de Brasília sofreu ao longo dos anos com governos que só viam a cidade como um lugar de especulação imobiliária para enriquecer as grandes empreiteiras.
O Departamento de Patrimônio Histórico e Artístico, DEPHA-DF, criado pelo governador José Aparecido foi sucateado até virar uma Subsecretaria de Patrimônio numa salinha do anexo do Teatro Nacional onde menos de meia dúzia de técnicos ( alguns que ainda sabem o que estão fazendo) resistem as trocas de cargos de chefias ocupadas por apadrinhados políticos que caem de pára-quedas nessas cadeiras sem nem ao menos saber quais são as 4 escalas urbanísticas de Brasília!
O tal Conselho do Patrimônio , cadê? E o Fundo do Patrimônio que vergonhosamente foi criado somente décadas depois do tombamento de Brasília , pra o quê serviu até agora?
Temos uma Câmara Legislativa e representantes na Câmara Federal e Senado composta de parlamentares inúteis que não defendem a memória e o patrimônio histórico, artístico, arquitetônico e cultural da cidade que eles representam mal e porcamente.
E, é por isso, que temos uma lista enorme de bens mal conservados e caindo! Alguns, como a casa histórica da Granja do Ipê ( da mesma época e importância histórica que o Catetinho) sem nem mesmo ter a proteção de um tombo. Mas, o pior é que a Fazenda Velha de Planaltina continua num processo de tombamento que foi iniciado e se arrasta por anos e nunca termina!
Falta pessoal, falta recursos ao primo pobre da Cultura que é a área de Patrimônio. Área negligenciada por esse e por todos os governos que sucederam ao governador José Aparecido de Oliveira. E continua negligenciada.
Brasília virou terra de ninguém ! Fingem que fiscalizam, fingem que se preocupam com seu patrimônio, fingem que amam ! Mas, quem ama cuida e Brasília tem sido uma cidade muito mal cuidada! Porque não basta apenas reformar viadutos que estão caindo é preciso também conservar os monumentos e prédios históricos seja aqui do Plano Piloto ou lá de Planaltina , ou Metropolitana, ou Paranoá! Todas as áreas adninistrativas do DF merecem que seu patrimônio seja preservado porque todos temos direito à memória! Não basta um circuito turístico na Vila Planalto se estão deixando as ultimas casas de madeira caírem! Turista vai lá ver o quê? O que já caiu como a antiga escola e o antigo alojamento de solteiros? Só interessam os restaurantes? Antes de ser um lugar com restaurantes somos um lugar histórico com pioneiros e filhos de pioneiros! Essa é nossa identidade original que não deve ser encoberta e omitida.
O ex Aluno do CASEB merece ver sua escola reformada tanto quanto eu quero ter o direito de poder mostrar ao meu filho a escolinha de madeira onde eu estudei na Vila Planalto, que caiu por omissão do poder público e não foi reconstruída até hoje! Assim como os moradores da Metropolitana tem o direito de ter seu patrimônio conservado, assim como os moradores da “Candanga” que tem apenas uma igreja de madeira remanescente da construção de Brasília !
Exigimos respeito e participação. Sem participação popular, sem povo, sem educação patrimonial não existe patrimônio! E um povo sem memória é um povo débil!
Milito pela preservação da Vila Planalto desde 1985. Registrei nossa história em livro que será publicado assim que a pandemia acabar. E participei da coletânea que será lançada em breve pela editora UnB e União Europeia em homenagem aos 60 anos de Brasília , onde eu apresento a experiência de uma cidade sueca na preservação do seu patrimônio edificado em madeira como referência para Brasília preservar o que ai da resta das suas edificações remanescentes da sua construção cuja perda e destruição se dá pela ignorância e descaso de quem tem o dever constitucional de protegê-las.
Leiliane Rebouças.
Coordenadora do Movimento Guardiões de Brasília Patrimônio Cultural da Humanidade