Fake News: especialistas em comunicação e psicologia explicam mecanismos e como se prevenir

Um fator que facilitaria o compartilhamento de notícias falsas é o grau de sofisticação da informação, segundo o pesquisador em comunicação Henrique Moreira

 

Projeto de Lei das fake news, as notícias falsas (PL 2630),  previsto para ser votado no Congresso, e que estabelece regras de uso e transparência em redes sociais, é uma das repercussões da crise da pandemia do coronavírus e da ebulição política no país.

Segundo a professora de psicologia Luciana Campolina, a principal característica das notícias falsas é o apelo emocional, que afeta um conjunto de mecanismos psicológicos de atenção e facilita seu compartilhamento. “Elas atuam em um mecanismo de produzir medo, ansiedade e pânico nas pessoas e sempre com um apelo no sentido de compartilhamento com ‘Cuide’, ‘Alerte’. Isso atinge um conjunto de mecanismos psicológicos de atenção, que fazem e induzem a pessoa a maneira muito fácil para essa propagação”.

A professora de psicologia, que tem estudado o tema com os alunos em sala, aponta que as notícias falsas têm o objetivo de desvalidar instituições e a própria ciência. “Isso mexe com o psicológico da pessoa, da esperança de um novo tratamento, de uma vacina, de medicamentos. Então, esses elementos interferem, e, muitas vezes, pela própria propagação são intencionalmente utilizadas com essa finalidade de desautorizar instituições, pessoas e até a própria ciência.”

Um fator que facilitaria o compartilhamento de notícias falsas é o grau de sofisticação da informação, segundo o pesquisador em comunicação Henrique Moreira, que tem publicado estudos sobre o assunto e também se debruçado sobre o tema com os estudantes de jornalismo. A partir de suas investigações, ele chegou à conclusão de que os autores de notícias com a finalidade de ludibriar o público aprimoraram seus métodos. “E quanto mais bem elaboradas, mais disseminadas e com maior impacto elas terão”, afirma.

Nesse mesmo sentido, o professor de jornalismo Sérgio Euclides Braga, que trabalha temas relacionados à ética na informação, afirma que o aumento do número de meios de informações estaria fazendo com que as pessoas diminuíssem a  capacidade de reflexão.   “Nós sentimos cada vez mais e pensamos cada vez menos. O problema não é mais se a informação é falsa ou verdadeira. Isso vale pra qualquer informação. Mesmo que o mundo começasse a veicular só informação verdadeira, o problema continuaria porque você não tem mais tempo de refletir. O problema é que a nossa capacidade perceptual-cognitiva é limitada e a quantidade de dados de informações e estímulos cresceu exponencialmente nas duas décadas.”

Duelos

O problema é que permanece uma espécie de duelo entre notícias produzidas profissionalmente e aquelas, veiculadas de forma duvidosa, sem a confirmação por fontes adequadas. Como o público recebe essas informações por dispositivos móveis, os pesquisadores aconselham que o conteúdo seja sempre rechecado antes de haja qualquer compartilhamento.

Em momento de uma crise como a pandemia atual, os cidadãos ficam mais vulneráveis à enxurrada de conteúdo. Os boatos, antes restritos ao boca a boca, ganharam status de publicação. Isso ilude o público. Nesta semana, por exemplo, um boato foi divulgado de que hospitais públicos receberiam recursos a mais se fosse registrado um maior número de óbitos.  Outro exemplo famoso em relação à pandemia da Covid-19 (difundido até pelos presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro) era que a hidroxicloroquina seria um remédio para o tratamento do novo coronavírus, quando, na verdade, não existia qualquer comprovação sobre isso.

Segundo estudo realizado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, notícias verdadeiras atingem, em média, mil pessoas, enquanto notícias falsas alcançam até 100 mil pessoas, além de 70% mais rápido. A pesquisa também mostra que 43% das pessoas querem notícias que confirmem seu ponto de vista e que, no Brasil, as principais fontes de desinformação são os próprios políticos.

Em uma palestra organizada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), a jornalista Cristina Tardáguila afirmou que o ato de verificar informações deveria ser um hábito desde cedo. “Eu acho urgente a gente ter fact checking em colégio, em universidade, isso não é uma coisa de jornalista, é de cidadão digital”.

Na mesma palestra, o jornalista Sérgio Lüdtke, consultor de mídias sociais, afirmou que a contextualização de uma história se perde na internet. “O conteúdo na internet é muito solto, ele é fragmentado[…] às vezes a gente acha que as pessoas já tem um determinado conhecimento em determinada coisa e não [tem]”. O participante do projeto Comprova – que tem o objetivo de investigar notícias falsas – também reforçou a importância de buscar ser o mais transparente possível, o que inclui explicar como é feita a verificação das informações no projeto.

Em tempos de coronavírus, Cristina definiu essas falsas informações por razões políticas como a “7º onda de desinformação”. Na palestra a diretora da Agência de Verificação Lupa, citou 7 “ondas de desinformação” que surgiram com o desenrolar das pesquisas do coronavírus. A primeira é sobre sua origem, depois imagens manipuladas, possíveis curas, a anti China, o aparecimento de supremacias raciais e religiosas, dúvidas sobre o cotidiano do cidadão e, finalmente, a sétima onda transforma o vírus em uma subpolítica. Nela, a Covid é usada para associar a uma determinada figura pública.

Uma medida adotada para o combate ao compartilhamento de fake news pode ser o movimento “Sleeping Giants”. A estratégia é denunciar publicamente grandes marcas que suas propagandas estavam sendo veiculadas em sites de teor antidemocrático com notícias falsas. Grande parte das marcas não sabiam e, numa tentativa de não perderem a fidelidade de seu público, retiraram as propagandas dos sites. A iniciativa começou no Estados Unidos e depois veio ao Brasil.

Ferramentas simples para ajudar na verificação de informações:

 

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