Presidente republicano pressiona o líder da Rússia a negociar um acordo com a Ucrânia e sinaliza sanções financeiras e tarifas sobre os produtos comprados do país. Casa Branca ordena enviado a Kiev a terminar o conflito dentro de 100 dias
Durante a campanha, Donald Trump prometeu pôr fim à guerra entre Rússia e Ucrânia em 2025. No 1063º dia de conflito, o presidente dos Estados Unidos recém-empossado usou a própria rede Social Truth para fazer a mais contundente ameaçar ao colega russo Valdimir Putin. No texto, o republicano garante que não busca “machucar” a Rússia e que mantém uma relação “muito boa” com o chefe do Kremlin. Após recordar que os russos ajudaram os EUA a vencerem a Segunda Guerra Mundial, Trump avisou: “Farei à Rússia, cuja economia está falindo, e ao presidente Putin, um grande favor. Acalme-se agora e pare esta guerra ridícula! Ela só vai piorar!”. “Se não fizermos um ‘acordo’, e logo, não tenho outra escolha senão impor altos níveis de impostos, tarifas e sanções sobre tudo o que a Rússia vende aos Estados Unidos e a vários outros países participantes”, acrescentou.
O jornal The Wall Street Journal divulgou que Trump ordenou a Keith Kellog, enviado especial da Casa Branca à Ucrânia que ponha fim à guerra em um prazo de 100 dias — até 2 de maio. O presidente americano estaria determinado a controlar, pessoalmente, as negociações de paz entre Putin e o chefe de Estado ucraniano, Volodymyr Zelensky. Na última terça-feira, Trump admitiu a repórteres que os EUA poderiam interromper o fornecimento de armamentos à Ucrânia e colocou-se pronto para se encontrar com Putin.
Olexiy Haran, professor de política comparada da Universidade de Kyiv-Mohyla, disse que considera positiva a iniciativa de Trump de pressionar Putin na esfera econômica. “No entanto, pressões econômicas serão insuficientes. Nós precisamos de apoio militar, a fim de mudar a situação na linha de frente. É necessário ampliar a ajuda bélica do Ocidente à Ucrânia, para conseguirmos deter a Rússia”, explicou.
O estudioso acrescentou que o contingente do Exército ucraniano é limitado, em comparação com o russo. “Quando Trump pressiona Putin a ter um acordo de paz, a questão é: qual o tipo de pacto e a qual custo? O novo secretário de Estado (Marco Rubio) afirmou que a Rússia é agressora, mas sugeriu que os dois lados firmem um compromisso. Que tipo de compromisso Trump espera da Ucrânia?”, questionou Haran.
Oleksandra Matviichuk, diretora do Centro pelas Liberdades Civis, ONG em Kiev laureada com o Nobel da Paz em 2023, adota uma postura cautelosa ao avaliar o poder de influência de Washington sobre Moscou no que diz respeito à guerra. “Nós esperamos que o novo governo conduza sua política direcionada à Rússia sobre o princípio da ‘paz por meio da força’. Até que ponto isso será bem-sucedido, veremos em um futuro próximo”, disse.
Por sua vez, Peter Zalmayev — diretor da organização não governamental Eurasia Democracy Initiative (em Kiev) — admitiu à reportagem que vê a ameaça de Trump “com graves preocupações”. “Ao se expressar em público, ele coloca Putin sob os holofotes. O presidente russo não gosta de parecer fraco. Com isso, Trump lhe impõe uma posição humilhante. É difícil imaginar Putin se rendendo, sentado à mesa de negociações.”
Diversidade
Se na política externa a pressão foi pelo avanço rumo à paz; no campo doméstico, Trump sinalizou com retrocesso. O republicano começou a desmantelar programas de diversidade do governo federal e ordenou que funcionários saíssem de licença remunerada a partir desta quarta-feira (22/1). Também determinou que as agências do governo envolvidas nos programas apresentem um plano de demissão até 31 de janeiro.
Karoline Leavitt, porta-voz da Casa Branca, confirmou uma mensagem do escritório federal de gestão de pessoal que orienta informar “a todos os funcionários dos escritórios DEIA (Diversidade, Equidade, Inclusão e Acessibilidade) que estão em licença administrativa paga com efeito imediato”. O anúncio representa novo golpe na comunidade LGBTQIAPN+. Na segunda-feira (20), depois de tomar posse, Trump firmou ordem executiva na qual ordenou que o governo reconheça apenas dois gêneros: masculino e feminino.
EU ACHO…
“Putin lançou uma invasão em larga escala não precisamente para capturar outro pedaço de território da Ucrânia com colonatos destruídos. Ele busca ocupar toda a Ucrânia, transformar os ucranianos em russos, forçá-los a se juntar ao seu exército e, então, expandir o Império Russo pela força. Apesar de inúmeras perdas dos russos, ele não desistiu de sua meta, porque a vida humana é o recurso mais barato em países não livres. A Ucrânia desistiu de suas armas nucleares e não recebeu proteção. As garantias de segurança são necessárias para tornar impossível que Putin alcance seu objetivo. Caso contrário, será apenas adiado.”
Oleksandra Matviichuk, diretora do Centro pelas Liberdades Civis, ONG em Kiev laureada com o Nobel da Paz em 2022
Punição para obrigar política migratória
Depois de decretar emergência nacional na fronteira com o México, ameaçar a deportação de milhões de estrangeiros ilegais e autorizar batidas da Imigração em escolas e igrejas, o governo Trump ameaça processar as autoridades que não colocarem os planos em prática. Número dois do Departamento de Justiça, Emil Bove afirmou, por meio de um memorando, que “a lei federal proíbe que os atores estaduais e locais resistam, obstruam ou violem de qualquer forma as ordens legais relacionadas à imigração”.
“O Departamento de Justiça investigará os incidentes que envolvam qualquer conduta imprópria para uma possível acusação”, acrescentou Bove, no documento emitido na noite de terça-feira. Ainda segundo o vice-procurador-geral, serão identificadas “leis, políticas e atividades estaduais e locais que sejam inconsistentes com as iniciativas migratórias do Poder Executivo” para, quando necessário, “tomar medidas legais” contra essas normas.
O FBI (polícia federal dos EUA) e outras agências devem “revisar seus arquivos em busca de informações de identificação e/ou dados biométricos relacionados a não cidadãos que se encontrem ilegalmente nos Estados Unidos” e entregá-los ao Departamento de Segurança Interna para facilitar as deportações, disse Bove.
Horas antes, 22 dos 50 estados dos EUA entraram com ações na Justiça contra a ordem executiva que elimina o direito à cidadania por nascimento. Ao mesmo tempo, Trump anunciou o envio de 1,5 mil soldados adicionas para a fronteira. A mobilização dos militares da ativa deve ocorrer nos próximos dias.
Refugiados
No pacote de decisões draconianas contra a imigração irregular, o novo governo Trump suspendeu, até novo aviso, todas as chegadas aos EUA de refugiados que solicitaram asilo, inclusive os aprovados. A medida afetará milhares de pessoas em todo o mundo, segundo a agência France-Presse.
Depois do constrangimento, ofensas à bispa
A reação inicial de Trump, após o serviço religioso de terça-feira (21), quando passou por um constrangimento ante o sermão da bispa Mariann Edgar Budde, foi dizer que o mesmo poderia ter sido “muito melhor”. Ontem, o republicano chamou Mariann de “desagradável” e exigiu um pedido de desculpas. “A suposta bispa que falou na terça-feira no National Prayer Service é uma esquerdista radical que odeia Trump. Ela teve um tom desagradável, foi pouco convincente e pouco inteligente”, escreveu o republicano em sua conta na Truth Social.
Em seu discurso, a bispa repreendeu o novo líder republicana sobre os decretos que ele assinou contra pessoas LGBTQIAPN+ e migrantes depois de assumir seu segundo mandato como presidente, na segunda-feira. “Eu lhe peço que tenha misericórdia, senhor presidente”, disse a bispa, que falou do “medo” que, segundo ela, é sentido em todo o país. “Há crianças gays, lésbicas e transgêneros em famílias democratas, republicanas e independentes”, argumentou.
Ela também defendeu os trabalhadores estrangeiros que “podem não ser cidadãos ou não ter a documentação adequada (…) mas a grande maioria dos migrantes não é criminosa”, argumentou. O presidente, que anteriormente havia dito apenas que a cerimônia “não foi muito emocionante”, atacou a religiosa em suas redes sociais. “Além de seus comentários inadequados, o sermão foi muito chato e pouco inspirador. Ela não é muito boa em seu trabalho! Ela e sua igreja devem um pedido de desculpas ao público!”, postou ele.
Em entrevista à emissora norte-americana ABC News, a bispa comentou o sermão da manhã de terça-feira. “Minha responsabilidade foi orar pela unidade da nação. Unidade exige um certo grau de misericórdia. Devemos tratar a todos com dignidade. Eu tentava combater a narrativa tão polêmica, na qual pessoas reais estão sendo prejudicadas”, explicou.