Como as doenças neurodegenerativas afetam os animais?

Como as doenças neurodegenerativas afetam os animais?
Como as doenças neurodegenerativas afetam os animais?

As campanhas de conscientização de saúde acontecem durante todo o ano juntamente com uma cor simbólica. Alguns meses possuem mais de uma causa, como o mês de fevereiro, que trouxe à tona as doenças neurodegenerativas, lúpus, fibromialgia e mal de Alzheimer, representadas pela cor roxa, e laranja para a leucemia. Assim como em humanos, os animais também podem ter essas condições.

Não são apenas os seres humanos que podem adquirir essas doenças e os animais também precisam de certos cuidados para evitar que a saúde seja comprometida. Nas doenças crônicas, que não possuem cura, uma das mais comuns é a SDC (Síndrome da Disfunção Cognitiva), que corresponde ao mal de Alzheimer em humanos. 

Segundo a monografia “Síndrome da disfunção cognitiva em cães” (2011) de Helena Oyarzabal Teixeira, a SDC é uma desordem neurodegenerativa progressiva de cães idosos, caracterizada por um declínio da função cognitiva. Os principais sinais clínicos compatíveis são: desorientação, mudanças na interação socioambiental, distúrbios do ciclo sono/vigília, alteração dos hábitos de higiene, urinar e/ou defecar em locais não habituais, diminuição da atividade física, ansiedade e distúrbios do apetite. Por isso, cães idosos tendem a ser mais abandonados e não adotados. 

A título de exemplo, é possível citar o caso de Catarina, uma SRD (Sem Raça Definida) caramela, que na época da adoção teria ao menos 12 anos, e encontrou um lar com os tutores Josmari Pavan Levinski e Fernando Levinski. O casal de jornalistas compartilhou um texto no blog da Joias PetMom sobre como a cadela parecia bem mais velha por conta de suas condições. Além de não possuir dentes, também tinha dificuldade para caminhar e incontinência urinária. “Nada disso fez muita diferença na hora, não antecipamos as dificuldades – que foram e ainda são muitas.  Sempre brincamos que não arranjamos um cachorro, arranjamos uma Catarina”, relata a tutora.

A jornalista lembra que, no começo, tudo era muito complicado, até mesmo a interação, por conta de seus traumas passados, porém, ao decorrer do tempo, Catarina foi se socializando e ao final da vida foi bem mais receptiva aos carinhos. “Hoje, passado mais de um ano da adoção, a nossa vovó já se foi. Ela já não se defendia mais. Não enxergava e mal conseguia ficar nos apoios sem ajuda. Mas pelo menos perdeu o medo da gente e aceitou carinho (sempre resmungando, claro). Já é muito”, afirma. 

Em relação à campanha do Fevereiro Roxo, Brunner Giacomin, a diretora da Joias PetMom, diz que a importância dessas ações realizadas para a prevenção de doenças neurodegenerativas no país, é falar e conscientizar mais as pessoas sobre a atenção que os pets idosos precisam receber.

Ainda de acordo com a monografia, não existem testes diagnósticos específicos para essa condição in vivo. No entanto, pode-se observar alterações no exame neurológico, nos testes cognitivos e na ressonância magnética. Já o diagnóstico é realizado por meio do exame histopatológico do tecido cerebral. O tratamento consiste em dietas ricas em antioxidantes, enriquecimento ambiental com exercícios e o uso de medicamentos. Vale ressaltar que somente um veterinário pode receitar e diagnosticar a doença.

A importância do Fevereiro Roxo no Brasil

Para Brunner, os motivos para as doenças neurodegenerativas serem pouco debatidas no Brasil se dão pelo fato de o assunto ser complexo, e que a maioria dos tutores deve associar com tratamentos caros. “Temos o caso de uma embaixadora que resgatou das ruas uma cachorra de raça, de uma raça cara e, justamente por isso, não entendeu o porquê do abandono”, relembra.

Brunner conta que ao realizar exames, a nova tutora descobriu que a canina tinha doenças e que necessitava de tratamento, o que infelizmente, justificou o abandono. “Enquanto os humanos não entenderem que os animais não são brinquedos ou itens descartáveis, todas as campanhas são necessárias para conscientização de que é uma responsabilidade por toda a vida do animalzinho, e que ele merece esse cuidado”, destaca. 

Lúpus e Fibromialgia são temas do Fevereiro Roxo

Na 54ª edição da revista científica PubVet, o artigo “Diagnóstico e tratamento de lúpus eritematoso discoide canino: Relato de caso” (2018), explicou que o complexo Lúpus Eritematoso (LE) é um conjunto de dermatopatias autoimunes, e que pode se resumir em Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), que afeta outros órgãos, podendo chegar ao coração,  enquanto o Lúpus Eritematoso Discóide (LED) está presente na pele, focinho e orelhas. Atinge animais com predisposição genética e se desenvolve por conta de fatores ambientais ou pelo uso de alguns medicamentos.

O artigo na PubVet aponta que o diagnóstico clínico do LED é um desafio, devido à variedade de sintomas que pode ocorrer tanto no lúpus, como em outras patologias dermatológicas. Além de inflamações na pele, no focinho ou no coração, a anemia e a insuficiência renal são alguns dos sintomas. Também pode ser hereditário e surgir por conta de produtos químicos ou exposição solar. Todos esses fatores acabam interferindo na rapidez do diagnóstico e consequentemente no tratamento e melhora do paciente. 

Já a fibromialgia é uma doença reumática que causa dores musculares crônicas, podendo evoluir para a incapacidade física. A combinação de medicamentos, vários tipos de terapias, exercícios, entre outros, servem para atenuar os sintomas. 

Ainda que o Fevereiro Roxo seja um lembrete de que os neurônios do animais vão envelhecer juntamente com o cérebro, é válido pontuar a questão de estar sempre em alerta à saúde do bicho. “Não vai ser como antes, quando ele era apenas um filhotinho correndo pela sua casa. Fique atento, o diagnóstico precoce pode garantir uma melhor qualidade de vida, do início ao fim”, orienta. 

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