Jornal Times Brasília

Ações buscam combater os impactos do racismo estrutural

Ações buscam combater os impactos do racismo estrutural

Ações buscam combater os impactos do racismo estrutural

Os governos do Brasil e dos Estados Unidos estão prestes a retomar o programa Japer, um programa bilateral firmado pelos dois países em 2008, com o objetivo de combater o racismo e promover a igualdade étnico-racial, através de boas práticas nas áreas de educação, marcos legais, trabalho e violência de gênero, entre outras áreas. A volta do programa, executado pela última vez em 2011, foi um dos assuntos tratados na última sexta-feira, 10, durante a visita do presidente brasileiro, Luís Inácio Lula da Silva, ao seu homólogo americano, Joe Biden. 

A iniciativa soma-se a outras ações institucionais tomadas recentemente, como a criação do Ministério da Igualdade Racial e a aprovação da Lei Federal 14.532/2023, que iguala a injúria racial ao crime de racismo e aumenta a pena para de dois a cinco anos de reclusão.

O objetivo de tais ações é um enfrentamento mais efetivo ao racismo, que se faz presente sobretudo nas estatísticas relativas à violência. De acordo com dados da edição 2022 do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o número de casos de injúria racial foi de 13.830 em 2021, contra 14.402 de 2020, perfazendo uma queda de 4,4%. Por outro lado, o número de casos absolutos de racismo foi de 4.568 em 2020 para 6.003 no ano seguinte, o que resulta em um aumento de 31%. A diferença, na visão de especialistas, mostra uma perspectiva de subnotificação e esquecimento.

O racismo é tão presente que os dados do mesmo Anuário mostram casos e números alarmantes. Os trabalhadores negros são as maiores vítimas de homicídios no Brasil. Em 2021, 78 de cada 100 pessoas assassinadas no Brasil em 2021 eram negras. Elas representaram 67,6% das vítimas de latrocínio, 77,6% das vítimas de homicídio doloso, 67,7% dos policiais assassinados e 84,1% dos mortos pelas polícias. 

No mesmo período, os assassinatos de brancos caiu 26,5%, enquanto os de negros cresceu 7,5%. Se contados os 10 anos da última década, 408.605 pessoas negras foram assassinadas no país na última década, o que equivale a 72% de todos os homicídios do país no período. 

Ainda de acordo com a pesquisa da FBSP, 67,5% da população carcerária brasileira em 2021 era de pessoas negras. E as mulheres negras são ainda mais atingidas pela violência cotidiana: em 2021, elas representavam 52,2% das vítimas de estupro e estupro de vulnerável, 62% das vítimas de feminicídio e 70,7% das demais mortes intencionais. 

Racismo estrutural 

O debate chama a atenção igualmente para o chamado “racismo estrutural”, um termo que define como o racismo se enraizou nas estruturas da sociedade, estabelecendo posições de privilégio social, conforme a característica racial de cada pessoa. De fato, ele existe desde a colonização – os europeus, quando chegaram no país, estabeleceram a supremacia branca, catequizando os índios e menosprezando ações como cultura, aparência e rotina. Depois, no Brasil Imperial, por causa da escravidão, os negros foram vistos como inferiores e menos dignos de atenção, direitos e políticas públicas. 

Ações como essas mostram que o que aconteceu lá atrás ainda perdura até hoje, através da herança racista. “O processo de ocupação feita pelos colonizadores foi de dizimar os índios e arrastar à força milhões de negros da África para o trabalho escravo”, exemplifica o historiador e cientista político Thiago Modenesi, que é professor do Centro Universitário Tiradentes (Unit Pernambuco). 

Mesmo com a abolição da escravatura, em 1888, e a elaboração da Constituição Brasileira de 1988, que reconheceu o povo negro e seus direitos, o racismo ainda perdura e se difunde no país. “Nós ainda temos amarras estruturais no atual sistema econômico, que não valoriza o trabalho e despreza o valor de milhões de trabalhadores que constroem o Brasil”, salientou o cientista político. 

De acordo com o IBGE, a diferença salarial entre negros e não negros chega a até 73%, e a participação do grupo no quadro executivo e de gerência é, de acordo com pesquisa do Instituo Ethos, de 4,7% e 6,3%, respectivamente. Já em cargos politicos, os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que são 29,11% dos prefeitos se autodeclaram negros e 70,29% se dizem brancos. E para vereador, são 42,07% negros e 57,13% brancos, demonstrando a desiguldade. 

Ainda de acordo com Thiago, o debate sobre o racismo chama a atenção para duas mortes ocorridas no Rio de Janeiro, que completaram um ano e ganharam repercussão nacional: a do imigrante congolês Moïse Kabagambe, espancado em janeiro de 2022 dentro de um quiosque, e a do estoquista Durval Teófilo Filho, baleado em fevereiro por um oficial da Marinha que era seu vizinho. “Os dois eram negros e trabalhadores”, destacou o professor da Unit Pernambuco. 

Combate 

Para combater o racismo estrutural, várias ações – coletivas e individuais – são necessárias: conscientizar a população sobre igualdade e a diversidade, promover o acesso da população negra a cargos políticos, cumprir leis que protegem os negros e suas demandas na sociedade e, tratar da questão racial como algo essencial nos dias atuais.  

“O Brasil acabou construindo essa desigualdade desde a sua descoberta. Tratar desse tema é algo profundamente necessário e atual para podermos construir as condições políticas, sociais e econômicas para combater o racismo estrutural e superá-lo. E isso está presente nas pequenas piadas, nos ambientes de trabalho e na violência”, ponderou Modenesi.

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