A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, pediu uma investigação sobre casos de incêndios criminosos
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Polícia Federal abriu dois inquéritos neste domingo (25) para investigar suspeita de ação criminosa nos incêndios que afetam o estado de São Paulo.
A informação foi repassada pelo diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, e pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Segundo a ministra, o fato de os incêndios em São Paulo se intensificarem em dois dias é um sinal de ação humana.
“Nós mobilizamos nossas 15 delegacias [da Polícia Federal] no interior de São Paulo, nossa superintendência regional, para que a gente possa identificar as queimadas que ocorrem naquele estado. As conclusões finais só poderão ser trazidas ao público com a finalização dos inquéritos policiais”, disse Andrei.
Mais cedo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) já havia dito que a Polícia Civil de São Paulo investigava dois casos de possíveis incêndios criminosos.
Marina Silva disse que os incêndios são atípicos porque dezenas de municípios de São Paulo registraram grandes incêndios em poucos dias. “Isso não faz parte da nossa curva de experiência, da nossa trajetória de tantos anos de abordagem do fogo”, disse a ministra.
Ela comparou o cenário atual com àquele do “dia do fogo”, de 2019, quando produtores rurais da região Norte fizeram movimento conjunto para incendiar áreas da Amazônia.
“Do mesmo jeito que nós tivemos o ‘dia do fogo’, há uma forte suspeita de que agora esteja acontecendo o mesmo”, afirmou Marina.
As declarações foram dadas após visita do presidente Lula (PT) à sede do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais), em Brasília. O presidente foi ao local para acompanhar a situação das queimadas em São Paulo na sala do Prevfogo (Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais), a principal estrutura do instituto para o combate a incêndios.
Em vídeo da reunião divulgado pelo governo, Lula afirma que, sobretudo, “tem gente colocando fogo” no caso de São Paulo.
“Até agora não conseguimos detectar nenhum incêndio causado por raios. Significa que tem gente colocando fogo. Na Amazônia, no Pantanal… [Marina Silva interrompe e diz: e provavelmente em São Paulo]. Provavelmente não, sobretudo em São Paulo. Ali é tudo propriedade privada, canavial, fazenda.”
Ele foi acompanhado por Marina Silva, pelo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, pelo presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, pela primeira-dama Janja e pelo diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues.
Marina Silva negou que o governo tenha sido negligente com o aumento das queimadas. Ela destacou que, com o cenário climático do fim de agosto -com forte seca e baixa umidade-, o combate aos incêndios é dificultado.
“Mesmo colocando tudo que está à disposição dos governos estaduais e municipais, dos esforços privados e do governo federal: se não parar de colocar fogo em um período em que a temperatura é alta, baixa umidade relativa do ar, ventos que vão até 70 km/h, não há como conter o fogo”, disse a ministra.
Lula decidiu visitar a sede do Ibama após o estado de São Paulo registrar 21 focos ativos de incêndios neste domingo. Ele disse nas redes sociais que o Ibama não registrou nenhum incêndio por causas naturais em São Paulo.
“Significa que tem gente colocando fogo de maneira ilegal, uma vez que todos os estados do país já estão avisados e proibiram uso de fogo de manejo”, disse.
O governo brasileiro recebeu nos últimos dias pedido de ajuda do governo da Bolívia para o combate aos incêndios florestais no país. Os bolivianos convivem este ano com número recorde de queimadas.
Segundo Marina Silva, o Brasil disse que não conseguiria ajudar o país vizinho porque emprega todas suas aeronaves e pessoal nos incêndios no Brasil.
A gestão Tarcísio de Freitas emitiu alerta de queimadas em 46 municípios. A fumaça dos incêndios em São Paulo percorreu estados do Sudeste e do Centro-Oeste nas primeiras horas deste domingo. O céu de Brasília amanheceu encoberto.
Segundo o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, a fumaça que tomou a capital federal é resultado dos incêndios em São Paulo. Houve alteração de quase 180º no vento, que empurrou os efeitos da queimada para o Centro-Oeste.
Goiânia (GO) e Uberlândia (MG) também registraram fumaça no ar em decorrência das queimadas.
Os incêndios deixaram caos em cidades paulistas, com fuligem e muita fumaça no ar. São Paulo teve neste ano, até 23 de agosto, 4.973 focos. É o maior número registrado desde 1998, quando o Inpe (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Espaciais) iniciou o monitoramento dos focos por satélite. As chamas também são registrados no Triângulo Mineiro, onde fábrica teve de ser evacuada
As Forças Armadas atuam no combate às queimadas. A Força Aérea disponibilizou a aeronave KC-390, já equipada para emprego contra queimadas, para apoio em Ribeirão Preto (SP). Dois helicópteros da Marinha e dois do Exército também foram enviados para o estado.
Algumas aeronaves, porém, ainda sequer decolaram tamanha a quantidade de fumaça no céu de São Paulo. A Força Aérea analisa em tempo real as condições meteorológicas para autorizar o voo do KC-390.
As polícias militares de São Paulo já prenderam duas pessoas suspeitas de atearem fogo em Batatais (SP) e São José do Rio Preto (SP). O primeiro caso é de um homem de 41 anos flagrado colocando fogo em mata seca no bairro de Araras, em Batatais.
O segundo caso é de um idoso de 76 anos suspeito de atear fogo em lixo. Outros suspeitos de iniciar focos de incêndio são investigados em municípios de São Paulo.