Efeito pandemia: 40 academias fecham e 4,5 mil pessoas são demitidas no DF

Sem previsão para retorno das atividades, donos desses estabelecimentos acumulam prejuízos e professores são dispensados

 

A pandemia de coronavírus no Distrito Federal atingiu em cheio o segmento de academias de ginástica. Há três meses fechadas em cumprimento a decreto governamental, muitas sucumbiram. Até o momento, 40 encerram as atividades. Além disso, 4,5 mil profissionais do setor foram demitidos. A previsão do sindicato que representa a categoria é de que mais 5 mil colaboradores sejam dispensados até o fim de junho.

Jessé Nepomuceno é dono da JK Fitness, que fica em São Sebastião. Sem perspectiva, ele diz estar a um passo de decretar falência. O quadro de funcionários já foi reduzido de 22 para três e o aluguel do espaço está atrasado. “O e-mail que recebi do meu locador é que tenho 15 dias para quitar os débitos, caso contrário, ele entra na Justiça”, lamenta.

Nepomuceno diz que a situação das pequenas e médias academias é tão grave que mesmo se forem autorizadas a reabrir nos próximos dias vão encontrar dificuldades para se manterem, tendo em vista o acúmulo de dívidas.

Por isso, ele defende que o Governo do Distrito Federal (GDF) ofereça linha de crédito ou auxílio. “A gente pode até ficar parado, mas desde que algum fundo nos ajude. A situação está dramática”, reclama.

Já Mitermayer dos Anjos, dono da Miter Top Team, em Vicente Pires, diz só não ter fechado graças a uma engenharia financeira que comprometeu outras finanças da família. Mas o arranjo tem prazo de validade curto. “Coloquei funcionários no home office, fiz a suspensão de contrato de trabalho e, mesmo assim, o caixa já secou.”

Segundo ele, os gastos continuam altos e o pouco dinheiro que entra nem de perto é suficiente para honrar todos os compromissos. “A gente precisa ir sempre lá para fazer funcionar o ar-condicionado, tem água, luz. Se não tiver jeito, a partir de segunda [15/06] já devo começar a dispensar os funcionários”, pontua.

Artes marciais

O proprietário de uma academia de artes marciais em Samambaia, Gilvan Rodrigues, lembra que, ainda em março, alguns alunos mantiveram os contratos. À medida que o tempo passou, no entanto, as mensalidades foram minguando. “Houve redução de 85%. Os professores aqui ganham por aluno e, alguns, já estão sem renda. Gente que ganhava R$ 2,3 mil, R$ 2,8 mil, agora não está recebendo nada”, conta.

Veja o depoimento de Gilvan Rodrigues:

Demissões

Um dos professores de educação física afetados pela impossibilidade de trabalhar é Iran Nakamura, 36 anos. Ele dava aulas em uma grande rede do DF, mas acabou mandado embora em abril. “Colocaram todos de férias coletivas e, pouco antes de eu voltar, recebi a ligação dizendo que estavam cortando alguns funcionários e eu era um deles”, relata.

Desde então, Iran passou a oferecer treinamentos personalizados pela internet, mas conta ter sido difícil manter boa cartela de clientes. “No primeiro mês, até tive muitos alunos aderindo, mas oscila bastante. É difícil a pessoa manter rotina de exercícios em casa. Fidelizados mesmo, só tenho três no momento”, assinala.

Dessa forma, Iran tem conseguido se manter com as economias que fez ao longo da vida. Para ele, é difícil acreditar que as coisas voltarão ao normal rapidamente. “As pessoas ainda têm muito medo da doença. Acho que, mesmo abrindo agora, até dezembro não volta ao normal”, prevê.

“Situação assustadora”

Presidente do Sindicato das Academias do DF (Sindac-DF), Thaís Yeleni entende que o setor tem condições de controlar a disseminação da Covid-19. “Primeiro, porque quase todo mundo que se dirige a uma academia vai a pé ou em carro próprio, ou seja, não terá saído de transporte público cheio. Outro fator é que conseguimos medir a temperatura e limitar a quantidade de alunos”, explica.

Thaís destaca que somente 8% das academias, normalmente as maiores, trabalham com planos anuais, o que dá sobrevida neste período de crise. “A grande maioria é de pequeno porte, em que a pessoa paga mensalmente”, frisa.

De acordo com a presidente do Sindac-DF, a situação que já é ruim tende a ficar insustentável no próximo mês, caso os estabelecimentos não sejam autorizados a reabrir. “São 30 mil famílias que trabalham direta ou indiretamente com este segmento. Tem gente me ligando desesperada porque não tem mais dinheiro para comprar comida. A situação é assustadora”, salienta.

A sindicalista cita ainda que a abertura das academias, de forma responsável, pode contribuir para reduzir a letalidade provocada pela Covid-19.

“Nós estamos surpresos porque somos um segmento que ajuda na saúde da população, principalmente para diminuir as internações das pessoas com coronavírus. Nosso serviço ajuda na redução dos sintomas das comorbidades, como diabetes e hipertensão. Isso é científico”, enfatiza Thaís.

Na tentativa de sensibilizar o GDF, o Sindac-DF prometeu que seus filiados seguirão à risca a seguinte cartilha:

Já o presidente do Conselho Regional de Educação Física do Distrito Federal (Cref-DF), Patrick Aguiar, afirma que está em contato com o GDF para que as academias possam voltar a funcionar. “Obviamente nossa vontade é do retorno, mas sem colocar em risco os alunos ou os profissionais”, pondera.

Para Aguiar, a falta de perspectiva de reabertura é o que mais gera insegurança nos empresários do ramo. “O governo não traz solução para o nosso segmento. O auxílio emergencial vai acabar e os professores vão fazer o que depois disso?”, questiona.

O que diz a Secretaria de Esporte

Procurada, a Secretaria de Esporte e Lazer informou, por meio de nota, que o protocolo para a reabertura das academias foi apresentado, “mas a volta das atividades depende da curva de infecção da Covid-19”.

Segundo a pasta, a titular do órgão, Celina Leão, “reúne-se diariamente com a equipe do GDF para averiguar a possibilidade de retorno das atividades dentro do protocolo de segurança”.

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