Durante décadas, os clubes tiveram de se submeter à Globo. Os de maiores torcidas no país ganhando muito mais que os demais. A Câmara e o Senado acabaram com isso. Bolsonaro dará o ‘sim’ definitivo
São Paulo, Brasil
A cúpula da Globo sabia da derrota.
Para tentar disfarçar todo desgosto com o fim definitivo do monopólio de transmissão de futebol neste país, divulgou uma carta aberta aos clubes, vitoriosos, ao enfrentar a emissora carioca, na segunda-feira.
A carta é histórica, com a Globo ‘jogando a toalha’, reconhecendo que não poderá nunca mais ganhar o direito de transmissão por efeito manada. Ou seja, seduzindo os clubes de maior popularidade com muito dinheiro e obrigando os clubes médios e pequenos a aderirem aos seus contratos, aceitando a oferta da emissora. Ou ficar sem ganhar e sem poder vender seus jogos para qualquer outra emissora ou plataforma.
A Câmara dos Deputados em julho já havia aprovado de forma resoluta a questão. Com uma vitória esmagadora por 432 contra apenas 17, os deputados federais decidiram a favor da ‘lei do mandante’. Ou seja, o clube que tiver o mando dos jogos poderá negociar com a tevê, ou outra plataforma, que desejar.
E o Senado de forma ainda mais contundente decidiu a situação.
A votação foi 60 a 0 a favor da lei do mandante.
Agora só falta a sanção do presidente Jair Bolsonaro, principal defensor do final do atual sistema de distribuição de transmissão dos torneios no país.
Para deixar claro como ficará, por exemplo, o Corinthians fecha contrato com a emissora x. E o Palmeiras tem contrato com a emissora y. No primeiro turno, quando a partida for em Itaquera, a emissora x mostra o jogo. Quando for no Allianz Parque, será a emissora y.
Isso dará o poder para cada clube vender de maneira isolada, sem faixa financeira que era imposta pela Globo e absolutamente injusta. Flamengo e Corinthians sempre ganhavam a mais, por serem os clubes mais populares do país.
Vale a pena, como outro exemplo, o quanto cada clube ganhou com a tevê em 2019.
E analisar o quanto a tevê influenciava, mantinha, viciava a diferenciação dos clubes. Nos investimentos nos jogadores, na infraestrutura, na vida financeira das equipes.
Era uma roda gigante viciada.
Vários clubes protestaram por décadas pelo privilégio que Corinthians e Flamengo tinham na Globo
REPRODUÇÃO/TWITTER
Os clubes com mais torcida ganhavam mais dinheiro, tinham mais jogos exibidos, seus patrocinadores pagavam mais, o número de torcedores aumentava.
Flamengo – R$ 187.062.500,00
Corinthians – R$ 165.462.500,00
Palmeiras – R$ 147.522.500,00
São Paulo – R$ 130.325.000,00
Grêmio – R$ 99.625.000,00
Vasco – R$ 95.850.000,00
Santos – R$ 93.027.500,00
Internacional – R$ 85.580.000,00
Atlético-MG – R$ 71.887.500,00
Athletico Paranaense – R$ 71.832.500,00
Fluminense – R$ 67.425.000,00
Botafogo – R$ 65.337.500,00
Goiás – R$ 64.687.500,00
Bahia – R$ 63.525.000,00
Ceará – R$ 59.050.000,00
Cruzeiro – R$ 56.812.500,00
Avaí – R$ 47.437.500,00
CSA – R$ 45.812.500,00
Fortaleza – R$ 44.489.579,00
Chapecoense – R$ 41.125.000,00
A Globo conseguiu apenas que fossem mantidos os contratos efetuados antes da promulgação de lei, que deverá acontecer nos próximos dias.
O emissora carioca tem contrato com a maioria dos clubes da Série A, do Brasileiro, até 2024. A TNT tem com oito equipes. E também será mantido.
Na Série B, o contrato da Globo vai até o final de 2022.
Assim como o compromisso com a Copa do Brasil.
Nos Estaduais, já não há monopólio.
“A aprovação no Senado da Lei do Mandante,foi ótimo para o futebol brasileiro. Dois anos de trabalho coletivo,com quase todos os clubes do país. Tínhamos a posse mas não a propriedade de nossos direitos,agora garantidos. Orgulho de participar desde a ideia. Juntos somos mais fortes”, escreveu o vice-presidente do Flamengo, Luis Eduardo Baptista.
Lembrando que o Flamengo sempre foi o clube que mais ganhava no sistema antigo.
Os clubes, de maneira geral, perceberam que estavam submissos ao monopólio da Globo.
“Esse projeto dá autonomia ao clube mandante e moderniza bastante o futebol brasileiro. A nova legislação proposta é positiva, uma vez que abre espaço para que novas negociações surjam”, disse o relator do projeto no senado, o ex-jogador Romário.
Não há mais carta aberta que volte atrás a situação.
Acabaram os privilégios da Globo.
Nascidos com a cumplicidade da CBF.
Os clubes estão livres para negociar.
Acabou o efeito manada…