Finanças sustentáveis – transparência e igualdade salarial estão entre os grandes desafios das empresas

Businessman pointing to the graph line Future growth plans to connect the financial network Analyze data to increase sales and revenue profits to achieve global economic business investment goals.

O conceito de finanças sustentáveis faz parte do S (Social) do ESG, entenda

A reputação de uma empresa é um de seus ativos mais valiosos e em uma realidade altamente conectada, o desafio é reforçá-la de maneira positiva a todos os públicos.

E quando se pensa sob a perspectiva ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e de Governança), a responsabilidade se torna ainda maior diante do fator que rege os relacionamentos: transparência.

Uma empresa não é o que afirma ser no mercado, mas sim, aquilo que, com ações concretas, é evidenciado por meio de seu posicionamento, da experiência de seus profissionais e também de como lida com a gestão financeira.

Ser ESG precisa se tornar um compromisso real e esse ainda é um objetivo distante a muitas organizações. O que é ser sustentável na amplitude que este conceito carrega?

Com base em minha vivência no mercado corporativo, como consultor à frente da MORCONE Consultoria Empresarial, como conselheiro consultivo e especialista em governança e ESG, hoje quero abordar o assunto finanças sustentáveis e o quanto é importante para a vivência ESG na prática entre as organizações.

Finanças sustentáveis: o que este conceito representa?

Para Robert Shiller, Nobel de Economia em 2013:

“Em seu sentido mais amplo, finanças é a ciência da arquitetura de metas da estruturação dos arranjos econômicos necessários para atingir um conjunto de metas e da administração dos ativos necessários para essa realização.”

Finanças sustentáveis se referem a investir dinheiro em atividades que contribuam para a sustentabilidade, incorporando o valor do dinheiro no tempo e nas noções de risco-retorno.

Já a Comissão Europeia define o conceito como o processo de levar em conta os fatores ambientais, sociais e de governança (ESG) ao tomar decisões de investimento, considerando investimentos de longo prazo em ações e projetos econômicos que estejam alinhados com a sustentabilidade.

A importância das finanças sustentáveis está ligada à canalização de recursos do investimento privado para práticas sustentáveis que possibilitam a transição para uma economia mais resistente ao clima, mais eficiente em termos de recursos e justa.

É um meio indispensável para o cumprimento dos principais acordos internacionais, como é o caso dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e do acordo climático de Paris.

Dentre os ODS está o objetivo 8 – Trabalho decente e crescimento econômico, que visa “Promover o crescimento inclusivo e sustentável, o emprego pleno e produtivo e o trabalho digno para todos”.

Destaco particularmente os itens:

  • 8.3 Promover políticas orientadas para o desenvolvimento que apoiem as atividades produtivas, geração de emprego decente, empreendedorismo, criatividade e inovação, e incentivar a formalização e o crescimento das micro, pequenas e médias empresas, inclusive, por meio do acesso a serviços financeiros;
  • 8.4 Melhorar progressivamente, até 2030, a eficiência dos recursos globais no consumo e na produção, e empenhar-se para dissociar o crescimento econômico da degradação ambiental, de acordo com o Plano Decenal de Programas sobre Produção e Consumo Sustentáveis, com os países desenvolvidos assumindo a liderança;
  • 8.5 Até 2030, alcançar o emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas as mulheres e homens, inclusive para os jovens e as pessoas com deficiência, e remuneração igual para trabalho de igual valor.

 

Transparência e igualdade salarial – Alguns dos principais desafios presente no S do ESG

O conceito de finanças sustentáveis se aplica a todas as dinâmicas presentes na organização, inclusive, à prestação de contas aos stakeholders, divulgação dos relatórios junto aos conselhos de administração, definição de faixa salarial, entre outros.

Aliás, debater sobre o salário dos profissionais é um dos temas mais recorrentes dentro do guarda-chuva S (Social) do ESG.

Infelizmente é comum organizações se destacarem pela criação de políticas sociais reconhecidas e ao mesmo tempo apresentarem uma grande distância entre a remuneração do CEO e a média salarial dos profissionais, como, por exemplo, um CEO que ganha 600 vezes mais que os colaboradores. Esse cenário revela a ausência de uma prática social adequada.

Algumas empresas, na prática, têm adotado medidas que chamam a atenção quanto a avanços para uma remuneração mais justa, como, por exemplo, a fábrica de chocolates Dengo, localizada em São Paulo, que divulgou a iniciativa de pagar aproximadamente 90% a mais para os produtores de cacau do que a média de empresas do mercado.

O salário digno deve levar em conta o cálculo do quanto a população de determinada região necessita para obter conforto, realizar refeições saudáveis, para que tenha acesso a um saneamento básico de qualidade, educação, saúde, meios de locomoção, entre outras necessidades, considerando, inclusive, a possibilidade de uma reserva financeira para imprevistos.

Nós sabemos que na atualidade, ainda estamos longe de uma realidade digna para todos, mas é fundamental destacar que finanças sustentáveis estão ligadas a todos os desdobramentos realizados em torno da gestão financeira de uma empresa, considerando o bem-estar de seus profissionais e prestadores de serviços.

Outras questões também ganham destaque como a igualdade salarial entre homens e mulheres que desempenham a mesma função e o destaque vai para a lei nº 14.611, sancionada em 3 de julho de 2023, que visa garantir este objetivo.

Dentre as disposições da nova lei, está a transparência salarial em que as empresas serão obrigadas a divulgar informações sobre a remuneração de seus profissionais ao Ministério Público do Trabalho e Emprego, facilitando a identificação de disparidades salariais injustificadas.

Para propor reflexões, mas mais do que isso, iniciativas para a resolução do problema em torno da disparidade salarial, o Pacto Global da ONU no Brasil lançou há cerca de um ano, o Movimento Salário Digno, que está pautada em quatro pilares estratégicos:

  • Engajamento da alta liderança;
  • Proporcionar a “construção de capacidades” por meio de lives, workshops, treinamentos e conteúdos sobre o tema;
  • Engajamento dos stakeholders;
  • Monitoramento e compartilhamento de boas práticas.

Por ano, a organização realiza a coleta anual dos indicadores das organizações que aderem ao movimento e o último registro da diferença entre o salário mais alto e o mais baixo é de 519%.

As mudanças precisam iniciar pela cultura das empresas e a princípio ter consciência sobre o problema já é um primeiro passo para isso.

Como os conselhos podem contribuir para um cenário de finanças sustentáveis?

Existem inúmeros vieses a se considerar quanto ao cenário de finanças sustentáveis e destaco a importância dos conselhos de administração e consultivo para o preparo das empresas quanto às práticas ESG vivenciadas a partir de sua cultura.

Em um caso de prosperidade econômica a atuação se torna menos complexa à medida que a empresa não se vê diante de grandes dilemas que colocam em risco sua sobrevivência no mercado.

Porém em um cenário de crises, o conselheiro assume o papel de ser a figura que muitas vezes os gestores não desejam, aquele que chamará os envolvidos à reflexão ou dirá o “não” diante de iniciativas que possam colocar em risco não apenas a rentabilidade financeira, mas a reputação do negócio.

É preciso vivenciar o ESG além dos relatórios e com intuitos que estejam além de reconhecimentos no mercado e premiações e um termômetro para isso é o quanto os profissionais, parceiros e investidores se sentem no relacionamento com o negócio.

Transparência é fundamental, mas se for uma prática que envolva apenas a “coragem” de revelar as próprias falhas, torna-se um instrumento vago. Sua organização é financeiramente sustentável e isso é visível a todos os públicos?

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